Juízes e o dever de ensinar às futuras gerações

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Na geração do #naojulgueis, tenho me perguntado se não estamos vivendo um tempo como o de Juízes. Pessoalmente, eu creio que sim, há muitas semelhanças entre aquele período e a nossa época.

Para compreender melhor esse livro farei um (brevíssimo) resumo*: Após a morte de Moisés, Josué liderou Israel rumo à conquista da Terra Prometida e esteve à frente do povo até seus cento e dez anos, quando faleceu. Se voltarmos às palavras de Deus transmitidas a Moisés e posteriormente a Josué, veremos que Deus insistiu com o povo para que guardassem a aliança, transmitissem a Lei a seus filhos e para que, ao entrarem na Terra Prometida, expulsassem todos os habitantes que ali viviam – não deveriam deixar nenhum pra que lá na frente Israel se voltasse para os deuses desses povos. Porém, ainda sob a liderança de Josué, o povo começou a descumprir a ordem e Deus. Como? Primeiramente, não expulsaram todos os povos dos territórios que iam sendo conquistados; eles sempre deixaram alguns para que lhes servissem como escravos. Os líderes de Israel acreditavam que podiam fazer as coisas do seu jeito e ter os mesmos resultados prometidos por Deus. Deus tinha dado a Israel força para derrotar todos aqueles inimigos, mas porque eles não deram ouvidos à voz de Deus, Ele permitiu que fossem dominados. Outras nações foram deixadas para que por meio delas Israel fosse colocado à prova, “para saber se dariam ouvidos aos mandamentos que havia ordenado a seus pais por meio de Moisés” (Jz 3:4), mas ao invés de expulsá-las, os filhos de Israel se casaram com mulheres estranhas e adoraram a seus deuses.

Com o passar do tempo, eles começaram a negligenciar o ensino da Lei de Deus aos seus filhos. O livro de Juízes é o maior testemunho da falha das gerações anteriores em transmitir a Lei de Deus aos filhos. O resultado é como veremos a seguir.

“Faleceu Josué, filho de Num […] Foi também congregada a seus pais toda aquela geração; e outra geração após eles se levantou, que não conhecia o SENHOR, nem tampouco as obras que fizera em Israel. Então, fizeram os filhos de Israel o que era mau perante o SENHOR; pois serviram aos baalins. Deixaram o SENHOR, Deus de seus pais, que os tirara da terra do Egito, e foram-se após outros deuses, dentre os deuses das gentes que havia ao redor deles, e os adoraram, e provocaram o SENHOR à ira. Porquanto deixaram o SENHOR e serviram a Baal e a Astarote” (Jz 2:8-13).

Esta é a introdução do livro de Juízes e é importante que toda a leitura dele seja feita a partir desta perspectiva. Não se deve perder de vista que essa narrativa trata de um período onde os filhos de Israel viviam na incredulidade, na idolatria, muitos deles sequer conheciam a Deus (!). Eles eram o resultado ÓBVIO da negligência do ensino da Lei de Deus e consequentemente, da rebelião que isso acarreta.

Muitos desses filhos de Abraão já não conheciam o Deus de Abraão e muitos haviam se desviado devido à influência dos povos daquela terra, eles foram se identificando cada vez mais com os costumes e religiões pagãs e se afastando da herança dos seus antepassados.

A melhor descrição pra essa geração se encontra em Juízes 21:25: “[…] não havia rei em Israel: cada um fazia o que achava mais reto”. Eles eram relativistas, pois, não havia absolutos, cada um podia fazer a sua própria verdade e agir como bem entendesse (qualquer semelhança com a nossa era não é mera coincidência!). Quando não há quem julgue ou um padrão de julgamento, a moral se perde e na ausência de padrões, o homem se sente livre para definir o que é certo e errado; ele se torna o padrão porque a Lei de Deus, pra ele, deixou de ser.

Assim como hoje, a falta de regras, padrões e um governo baseado nos princípios bíblicos, produziu no povo o pior tipo de rebelião, eles eram crentes nominais (um povo chamado pelo nome do Senhor) e ateus praticantes. Como consequência de sua rebelião, Deus permitia que eles fossem dominados por seus inimigos; eles os oprimiam, até que o povo se arrependia, clamava a Deus e então, Ele suscitava juízes para livrá-los.

A experiência do povo de Israel durante o período Juízes é prova de que uma religião “mais flexível” sempre conduz o homem em direção oposta a Deus. O relativismo é a beira de um precipício cujo fim é a própria destruição.

O livro de Juízes nos traz alguns alertas importantes:

– Uma negligência hoje se torna um pecado amanhã. Eles preferiram negligenciar a Lei de Deus.  Sutilmente foram se deixando moldar pela cultura, abrindo uma exceção, um casamentinho ali (que mal faria? Eles pretendiam converter os povos pagãos). Eles realmente achavam que poderiam controlar a situação, mas, no fim, não conseguiram resistir aos seus inimigos, que os dominaram não apenas fisicamente, mas mentalmente e emocionalmente, pois, se renderam a seus costumes e a adoração dos falsos deuses. Não é muito diferentes dos nossos dias, tantos cristãos tem abrido exceções e se conformado à cultura, às vezes até, sob a justificativa de “ganhar a cultura”. Não é de hoje que essa conversa existe.

– Pais (e futuros pais) um alerta: “Sua vida, suas escolhas”, certo? Mas lembre-se que as consequências dessas escolhas trará seus efeitos amanhã e ecoará pelas próximas gerações da sua família, então repense sobre elas. Moça/rapaz solteira (o), pense bem antes de escolher um (a) pai/mãe ímpio (a) para os seus filhos, a escolha é sua, mas eles também levarão as consequências.

– Sua vida espiritual não tem a ver só com você, mas com aqueles que virão através de você. Talvez a geração que entrou com Josué na Terra Prometida não tenha sentido tanto os reflexos de sua desobediência quanto os seus filhos sentiram posteriormente.

– Se você tem filhos (irmãos, primos) pequenos, você tem o dever de inculcar a Palavra de Deus na mente deles, se você não fizer isso, eles serão influenciados por outros ensinos, seja na escola, na TV, com os coleguinhas ou qualquer outro lugar. Infelizmente, hoje muitos que nasceram em lares cristãos, não servem o mesmo Deus que os seus pais, nem sequer o conhecem, porque os pais não cumpriram sua responsabilidade primordial de inculcar a Palavra de Deus em seus filhos. Inculcar a Palavra não é levar uma vez por semana à igreja e deixar na salinha, o texto é claro: “tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, ao deitar-te, e ao levantar-te” (Dt 6:7). Em todo o tempo.

Veja o que aconteceu algumas gerações após a morte de Josué, muitos deles não conheciam mais a Deus. Pra eles Baal e Astarote eram seus deuses. Olhando esse contexto, vejo que não estamos nem um pouco distantes disso… Olhe pra nossa geração de filhos de crentes. Você consegue perceber uma diferença considerável entre estes e “os povos em redor”? O discurso é basicamente o mesmo e os deuses e as práticas também. Dizem que o mundo entrou na igreja, mas a verdade é que boa parte daqueles que estão na igreja, muitos dos quais cresceram nela, não sabem a diferença entre Cristianismo e Secularismo. Há uma mistura de religiões absurda (paganismo dentro da igreja) e muito povo que ainda se chama pelo nome do Senhor, mas que há muito deixou de crer na Palavra dEle! Eles até tentam preservar a tradição, assim como os israelitas ainda batiam no peito pra dizer que eram filhos de Abraão, mas sua prática revela a quem eles realmente servem.

Aquele um período de confusão mental, os filhos da Aliança não sabiam mais qual era sua identidade. E nós?! Será que de fato sabemos quem é o nosso Deus e porque Ele é o Deus verdadeiro?

O que nos torna diferentes dos nossos vizinhos, dos colegas da faculdade, das práticas e discursos que eles sustentam? Os povos pagãos matavam seus filhos e com o tempo Israel começou a achar aquilo normal e a fazer também. E quantos cristãos não começaram achando aborto algo considerável e agora lutam em favor disso? Quantos começaram achando homossexualismo considerável e hoje lutam em favor disso? Dizem em alto e bom tom que o importante é amar.

Vivemos um tempo como o de Juízes? Creio que sim, mas, talvez esse tempo seja ainda pior, pois, naquele tempo, quando as coisas apertavam o povo clamava por juízes, mas a nossa geração diz “NÃO, Não nos julguem! Não queremos ser julgados”, “Que Deus nos deixe como estamos, não queremos que o Senhor governe sobre nós, amamos os nossos ídolos, amamos aqueles que nos oprimem”.

De quem é a culpa? Primeiramente ela é individual e pessoal. Deus não isentou aquele povo de sua responsabilidade de busca-Lo, a despeito dos erros dos seus antepassados, pois eles tinham acesso ao conhecimento de Deus, mesmo que a religião tivesse se corrompido, ainda havia líderes que pudessem guiá-los. Esta geração também não está isenta de sua responsabilidade de buscar e conhecer o Deus verdadeiro, um mundo corrupto ou uma igreja que tem se corrompido não é desculpa. Não podemos nos vitimar nem vitimar aos outros. Ainda assim, não há como negar que uma geração deve anunciar à outra geração sobre a grandeza de Deus (Sl 145:4) e não podemos nos isentar desta responsabilidade. Por isso, precisamos agir em duas frentes, pregar pra esta geração (isso inclui nossa própria busca por conhecer a Deus) e preparar a próxima geração pra que eles conheçam verdadeiramente a Deus.

Há esperança para nós, para nossos irmãos e para nossos filhos: o verdadeiro arrependimento e um retorno às Escrituras. Isso deve começar em nós, mas não podemos (mais) nos esquivar da responsabilidade que há em nossas mãos, a saber, ensinar a próxima geração hoje e agora.

O Dr. Chun, meu professor no seminário disse certa vez que a melhor forma de promover mudanças na cultura de um povo não é investindo nos adultos, mas nas crianças. Ainda que possa soar estranho num primeiro momento, isso é bíblico, pois, apesar de Deus continuado a reprender o povo que se rebelou no deserto, a solução definitiva foi esperar que toda aquela geração morresse e então ensinar a Lei à geração seguinte para que eles herdassem a Terra Prometida. O plano funcionou, só que eles falharam em não transmitirem a mensagem à geração seguinte. O fato é que assim como uma herança familiar se perpetua à medida que uma semente é transmitida, assim também nós temos o dever de transmitir a Palavra para os que estão vindo. Precisamos deixar um legado para as próximas gerações a começar dentro da nossa própria família (o ambiente onde exercemos maior influência). É ali que podemos mudar o mundo criando homens e mulheres de Deus e depois na nossa segunda família, que é a igreja. É muito mais “fácil” promover mudanças concretas nesse ambiente. Nossa preocupação deve ser ganhar os povos ao redor, mas também deve impedir que os nossos filhos (nossa família, de modo geral) se tornem parte desse povo!

A nossa geração fraca é o reflexo “piorado” de uma geração anterior e a menos que façamos algo para que a próxima geração seja melhor, a tendência é piorar cada vez mais!

Essas crianças que hoje são vitimas de ideologias nas escolas, e não tem EBD na igreja, nem diálogo em casa, serão os cristãos dos próximos quinze e vinte anos (se chegarem até lá crentes), se nós não nos importarmos com a alma deles agora, o que será delas no futuro?

Pode ser que seus pais tenham falhado em inculcar a Palavra de Deus na sua mente, mas você pode e deve fazer diferente com esta e a próxima geração. Um dos meus maiores pedidos a Deus é que em todas as gerações da minha família haja cristãos sérios e comprometidos com a Palavra. Essa herança eu recebi dos meus pais e oro pra que se perpetue em nossa linhagem nesta terra.

Você se lembra de como Deus julgava o seu povo durante o período dos Juízes? Ele deixava que os inimigos dominassem sobre eles, eles ditavam o que comiam, onde e como cultuavam, como e com quem casavam, o que faziam com os filhos. Não tem sido diferente em nossos dias. Nossos inimigos têm dominando sobre a forma como pensamos, nos expressamos, sobre a forma como encaramos os papeis de homens e mulheres, o valor da vida, sobre o ensino das nossas crianças, sobre questões sexuais, política, alimentares, finanças, consumo e diversos outros aspectos da nossa vida. Isso é uma forma de julgamento, mas felizmente, esse mesmo Deus sempre usava de misericórdia quando o povo se arrependia e clamava. Então, nós podemos clamar ainda hoje. Deus ouve o clamor dos seus filhos quando eles se humilham, oram, buscam e se convertem dos seus caminhos. Que não sejamos como o povo de Israel que vez após vez se deixou dominar por outra lei que não a do Senhor, que trocou seus valores e desprezou sua posteridade. Que o Senhor nos perdoe, nos livre da rebeldia, do conformismo, da opressão dos nossos inimigos e nos torne “(…) irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo; preservando a palavra da vida (…)”. (Fp 2:15)

Assim seja.

* Vale muito a pena ler este livro todo e pra ampliar a percepção, comece sua leitura por Josué 😉
No amor de Cristo

Prisca Lessa