VIDAS COMUNS: famosos no Instagram, anônimos na vida real.

IGAcho que eu REALMENTE não tenho noção do tamanho desse universo de “digital influencers”. É um tanto estranho quando alguém me diz que determinada pessoa é “super famosa”, me pergunto: famosa para quem? Muitas dessas figuras da internet são famosas por suas fotos, seus discursos “lacradores”, poesias, críticas a um sistema. Para cada um desses perfis há milhares de seguidores; o universo virtual é um prato cheio para todos os gostos.

Antigamente, com a televisão, era mais fácil saber quem eram as pessoas “famosas”, todos tinham acesso aos mesmos canais, às mesmas fontes. Mas, a internet, as redes sociais, e, especialmente, o Instagram, abriram um universo paralelo, um mundo muito maior do que qualquer pessoa é capaz de conhecer. Nesse universo nos dividimos em “nichos”, de modo que, as pessoas são famosas para determinados grupos e totalmente anônimas para os demais.

Assim, o mundo virtual acaba sendo, de certa forma, um universo paralelo, onde as pessoas podem ser e fazer o que quiserem. Mas, nem sempre essas personalidades condizem com a realidade.
A vida compartilhada é só uma parte da vida comum, a vida vivida – que não rende likes, nem seguidores pois é exatamente aquilo que cada um de nós é. A vida comum é esta em que, por mais sonhadoras e empreendedoras que possam ser, as pessoas ainda trabalham para ter um salário no final do mês, vão ao dentista sem #publi, e têm contas a pagar. A vida comum é esta onde ter um milhão de seguidores não diminui a fila do banco, nem te dá acesso à fila preferencial no supermercado – nada mais comum do que passar as compras no caixa em um dia comum.

Pessoas comuns com seus muitos seguidores. Famosos anônimos.

O mundo dentro de uma tela pode ser fascinante, os discursos apaixonados, as frases bem articuladas promovem uma chuva de likes, mas, o mundo real não é feito de discursos, nem likes, o mundo real ainda é concreto.

Bem, o que quero dizer é que sob os holofotes do celular, todas essas “famosas” figuras sempre parecem ter as respostas para solucionar questões da vida de pessoas que elas sequer conhecem, como se, elas mesmas, estivessem em um nível (superior) em que já não são atingida por esses males.
É como se elas não fossem apenas pessoas comuns, quando, na realidade, isso, é exatamente o que elas são. Pessoas feitas de pó. Não um pó superior, mas, o meemo tipo do qual eu e você somos feitos.

Se você chegou até aqui, permita-me dar-te um conselho, que é, antes de tudo, para mim mesma: Não dê às pessoas a prerrogativa de ditarem como você deve viver, como se elas governassem sobre você, ou tivessem algum tipo de poder ou sabedoria mística que você não pode ter. Não deixe que pessoas se tornem deuses a quem você deve consultar a todo tempo. Não tome opiniões e conselhos de homens como sendo infalíveis e indispensáveis em sua vida.

Isso é válido, inclusive, para o nosso meio cristão, reformado, pois, estamos todos suscetíveis. Aquele autor, teólogo, pastor, conferencista, aquela autora, conselheira, blogueira; todos eles são apenas homens e mulheres imperfeitos, não devem ser colocados sobre um altar.

E, para aqueles que acabam, de uma forma ou de outra exercendoalgum tipo de influência nesse universo virtual, a pergunta é: QUEM É VOCÊ? Você é uma pessoa que a internet criou? Você é a imagem que as pessoas têm de você? Ou, você é uma pessoa real, vivendo uma vida real? Talvez você ame ser a pessoa que se tornou aqui. Talvez esse universo aqui seja o seu único campo de influência, talvez ele tenha se tornado uma fuga da realidade. Quem é você na vida real?

Nossas vidas virtuais e testemunhos aqui podem ser impecáveis, nossas fotos, comentários, stories cheios de piedade, mas será que Deus encontra misericórdia e piedade quando nos desconectamos? Nosso colegas de trabalho, familiares, vizinhos, professores também podem testemunhar o mesmo que nossos “seguidores” testemunham?

Não se limite a ser, meramente, uma figura. Não se limite a likes, não se limite a seguidores, não avalie suas ações pelas reações das pessoas. Não se limite a produzir conteúdo para consumo de um público, você pode acabar se tornando escravo, pois, viver para agradar e ser aprovado pelo homens é também uma forma de escravidão.

Tudo bem ser anônimo nesse vasto universo virtual. Homens e mulheres, comuns, sobreviveram durante séculos sendo conhecidos somente por seus pais, vizinhos e amigos. Isso não nos torna menos relevantes, a vida não se resume a uma tela.

Que não nos limitemos a ser meras figuras, pois, uma figura é só uma figura, nada mais. Que nos ocupemos em ser reais para aqueles que estão ao nosso redor. Como bem lembrou Michael Horton em seu livro, Simplesmente Crente, boa parte do mundo que conhecemos foi construído por pessoas comuns que viveram suas vidas comuns com fidelidade, pessoas que repousam sobre túmulos que jamais serão visitados. Não há inferioridade alguma em ser uma pessoa comum, afinal, isso é o que todos somos, de fato.

No amor de Cristo,
Prisca Lessa