Todavia, vós me roubais.

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“Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos?” (Malaquias 3:8)

Este versículo me veio à mente enquanto lia um post da Isa Cavalcante sobre “superficialidade, virtualidade e vida cristã”, um texto certeiro falando sobre como sem perceber reduzimos nossa vida espiritual à mero conteúdo virtual, respostas de pastores, pregações, devocionais compartilhados nas redes sociais; e, com isso, deixamos de nos aprofundar, de buscar por nós mesmos o alimento e dedicar tempo útil ao nosso relacionamento com o Senhor.

O povo de Israel questionava “em que temos te roubado, oh Senhor?”, eles estavam tão cegos que não conseguiam perceber onde estavam errando. A vida espiritual deles estava um caos, mas eles não podiam ver onde haviam chegado. Foi necessário que, através do profeta Malaquias Deus os advertisse: vocês estão deixando de dedicar a mim aquilo que eu instituí: os dízimos e as ofertas. As primeiras coisas daquilo que eu mesmo tenho vos concedido. Meu é o vosso fruto.

Mas, o que esse versículo tem a ver com o texto da Isa e como ele pode ser aplicado ao nosso contexto virtual?

“Roubará o homem a Deus?”

Essa pergunta ecoou na minha mente e continua martelando como uma forte repreensão.

“Roubará o homem a Deus?”

“Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos?”

A pergunta: “Em que te roubamos?” revela como podemos nos tornar insensíveis à nossa real condição, aos nossos erros e faltas para com Deus. Eu não creio que eles ficassem ali maquinando algo como: “estou pensando seriamente em roubar a Deus”. Provavelmente, não. Era uma necessidade que surgia aqui, uma urgência ali, um desejo acolá, e aos poucos Deus ia deixando de ser prioridade.

Talvez eles pensassem algo como: “Ah, mas, nós já fazemos tantas coisas para Deus: oferecemos os nossos sacrifícios, seguimos os rituais.. se deixarmos de observar esse mandamento, uma vez ou outra, não fará diferença. Afinal, é só um dia, uma semana, um mês, um ano…” 
Foi só hoje que eu deixei de orar por que acordei olhando as notificações do celular, foi só hoje que eu não li a Bíblia para poder postar uma mensagem edificante no Facebook e interagir com alguns irmãos em Cristo, foi só hoje, foi só essa semana… Deus compreende que eu preciso responder esse áudio bem agora…

E a pergunta ecoa mais uma vez:

“Roubará o homem a Deus?”

No que temos te roubado, oh Senhor?
Não posso responder por todos, mas posso responder por mim: no tempo e na atenção.
No tempo, porque nem sempre tenho dedicado um tempo honesto de oração, meditação, leitura e estudo da Palavra. Na atenção, porque mesmo quando “dedico”, estou pensando nas mil coisas que preciso fazer, estou atenta às notificações do celular, me lembro do e-mail que preciso responder, do trabalho que preciso entregar, daquele texto que preciso ler, aquele conselho que prometi dar.
Céus!

O que está havendo comigo? Por que não consigo me concentrar? Por que não dou conta de nada?!

Ironicamente, percebo que quanto menos tempo dedico ao Senhor (orando, meditando em Sua Palavra), menos sabedoria tenho para lidar com o restante do tempo e quando me dou conta, ele se foi. Mais um dia se passou, mais coisas deixei de fazer, mais uma tarefa se acumulou.
Céus!

Roubamos a Deus, mas Ele não perde nada, nós é quem perdemos, e muito. Irônico, não?!

Por vezes, pensamos estar ganhando tempo ao deixar de dedicá-lo a Deus. Mas, no fim das contas, ao longo do dia perdemos horas preciosas com coisas tão inúteis… Na verdade, a questão não é falta de tempo para orar e sim falta de amor e devoção a Deus.

Isso é pra mim!

À medida que me deixo consumir pelo virtual, deixo de aplicar Eclesiastes 3 à minha rotina: Há um tempo para todas as coisas debaixo do céu e essas coisas precisam ser vividas no momento em que estão acontecendo. Se estou lendo é preciso que eu viva esse momento de leitura. Se estou conversando com a alguém pessoalmente (ou, até mesmo, virtualmente) é preciso que eu viva esse momento e me concentre nessa atividade. As nossas múltiplas conexões nem sempre nos permitem isso. E isso afeta até mesmo a nossa relação com Deus.

Quem nunca se pegou conversando com várias pessoas ao mesmo tempo sem dar atenção exclusiva àquele amigo do outro lado da tela? Quem nunca se pegou olhando a última notificação do Facebook enquanto conversava com alguém?
Isso é sério e preocupante. Mais ainda quando se volta para nossa relação com Deus.

Talvez aquela amiga não saiba que eu estou distraída com outras coisas enquanto falo com ela, mas Deus sabe quando minhas orações não passam de vãs repetições e meu coração e pensamentos não estão concentrados ali.

E, de quem é a culpa?
Das redes sociais? Dos grupos no whatsapp? Do Instagram? Dos trabalhos? Não, não e não. O problema não está fora e sim dentro.

Talvez eu não saiba no que tenho roubado a Deus, mas Ele sabe e Sua repreensão é para os nossos dias:

“Todavia, vós me roubais”