Por que as mulheres precisam de Teologia sólida?



Você já participou de algum encontro ou estudo voltado para mulheres? Aposto que sim. Bem, eu já participei de vários. De modo geral, esses encontros são bem parecidos. Independentemente de onde ocorram, seja ao redor da mesa de jantar, em um salão social, no prédio principal da igreja, ou em qualquer outro ambiente, a estrutura dos encontros é quase sempre igual: há oração, leitura bíblica, bate-papo e aquele delicioso lanche ao final. Mas, além desses elementos gerais, algo muito comum nesses encontros é que quase sempre a mensagem bíblica é focada exclusivamente na mulher.
Em muitos desses encontros é dito às mulheres aquilo que elas precisam ser e fazer para serem virtuosas, mas pouco é dito a respeito da pessoa e obra de Deus, acerca do pecado, arrependimento, santificação, ou quaisquer outros temas fundamentais da fé cristã, sobre os quais as mulheres também deveriam se debruçar.
Veja, eu não sou contra encontros de mulheres, eu amo a comunhão e o aprendizado prático que esses momentos proporcionam, mas, é preciso ter cuidado para que a abordagem bíblica não seja puramente feminina. O que quero dizer com isso é que precisamos ter cautela para não irmos à Bíblia meramente em busca de histórias de “mulheres inspiradoras” – a Bíblia é muito mais do que narrativas isoladas sobre mulheres –, ao invés disso, precisamos ir em busca da verdade que liberta todo o nosso ser.

Um ensino sólido focado em Cristo


Lamentavelmente, ainda hoje, tem se a ideia de que as mulheres precisam de um ensino bíblico diferente dos homens, um ensino mais leve, um ensino voltado para elas especificamente; que elas não precisam ingerir um alimento tão sólido quanto os homens. Tal pensamento é totalmente contrário ao testemunho das Escrituras. O isolamento social, intelectual e espiritual das mulheres foi algo que o próprio Cristo rompeu ao longo de seu ministério trazendo as mulheres para perto de si. As mulheres, que antes cultuavam em um pátio à parte, no templo de Herodes, foram reinseridas à comunidade da fé. Andaram com o próprio Cristo e os discípulos, ouviram o evangelho e aprenderam a boa doutrina, tal como os homens, porque elas também precisavam do sólido ensino das verdades eternas, e o Senhor não lhes deu menos que isso.

Ao apontar tal realidade, minha intenção não é dizer que o ensino de princípios relativos à feminilidade bíblica não seja necessário, mas que o ensino bíblico para as mulheres precisa ser menos restrito e mais amplo. Estudar sobre Rute, focando somente na feminilidade de Rute é perder o cerne da mensagem, que aponta para o prenúncio da vinda do Messias. Embora seu nome seja o título do livro, o livro de Rute não é sobre Rute, mas sobre graça, a graça de Deus ao inserir uma estrangeira na linhagem messiânica e torná-la parte do seu povo.
Estudar sobre Ester focando superficialmente em sua beleza e estratégia para conseguir algo é perder a mensagem central do livro que aponta para a providência de Deus agindo em favor do seu povo, quando eles achavam que Deus os havia abandonado. Estudar sobre Débora focando no fato de ter sido uma mulher julgando o povo de Israel ofusca a misericórdia de Deus agindo, mesmo em tempos de apostasia, e o juízo de Deus diante da incredulidade do seu povo.

Uma Teologia integral

Meu ponto é que a teologia para mulheres precisa ser uma teologia sólida, uma teologia, integral, que abranja não somente o aspecto da feminilidade, mas a totalidade do ser e das necessidades espirituais da mulher: sua necessidade de conhecimento do ser de Deus, sua necessidade de arrependimento, de confissão de pecados, de correção e santificação. O evangelho fornece tudo isso, mas para isso, é preciso que ele esteja presente em cada ensino, em cada encontro e em cada estudo voltado para as mulheres.
O mundo já coloca um foco demasiado na mulher com sua mensagem de empoderamento, não cabe a nós endossar essa ênfase. O foco de nossa leitura bíblica não deve ser encontrar exemplos de feminilidade. Quando 2 Timóteo 3:16-17 diz que: “Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra.” isso diz respeito às mulheres também. Toda a Escritura é útil para o nosso ensino, para que nos tornemos perfeitamente preparadas para toda boa obra. Portanto, não devemos restringir nossos encontros e estudos a passagens “para mulheres”. Há um vasto ensino sobre o qual precisamos nos esmerar em conhecer e cada oportunidade deve ser aproveitada. Devemos incentivar e desafiar umas as outras a crescermos mais na Palavra de Deus.

Enxergando a metanarrativa

Então, já não podemos mais fazer estudos bíblicos usando mulheres ou tratando de assuntos específicos relacionados à feminilidade? Será que devemos reprimir os estudos nos livros de Rute e Ester? E deixar de falar sobre a mulher samaritana? Não. Contudo, precisamos parar de reduzir toda a narrativa bíblica aos encontros de Jesus com mulheres, às passagens que contém mulheres e a lições sobre mulheres. Isso significa que nossa leitura da Bíblia não deve ser feita a partir de lentes exclusivamente femininas, ao invés disso, precisamos ampliar o nosso olhar para enxergarmos a metanarrativa por trás dessas narrativas.
Por trás de cada personagem e história isolada a metanarrativa da redenção está sendo tecida e precisamos considerá-la prioritariamente, aprender sobre ela e ensiná-la às mulheres para que nossa leitura das Escrituras não seja míope, mas ampla e profunda, a fim de sermos mulheres fortes, munidas de uma teologia forte e sólida.

No Amor de Cristo, Prisca Lessa