SOLA GRATIA

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SOLA GRATIA

O ensino da Igreja Católica Medieval não negava que Deus salva pecadores pela graça, contudo, afirmava que tal graça é concedida àqueles que estão “preparados” para isso, aos que fazem tudo o que está ao seu alcance para serem merecedores dessa graça. Ou, como alguns mestres costumavam dizer: “Deus não nega a graça àqueles que se esforçam ao máximo”.

Portanto, segundo este ensino, a graça providenciava o impulso necessário para que se merecesse a vida eterna. A graça seria como um energético, uma dose capacitante para aqueles que a desejassem e buscassem, ganhando, assim, a salvação.

Mas, contrariando tal ensino, a mensagem de Lutero acerca da salvação somente pela graça era de que: “Não é justo aquele que muito faz, mas aquele que, sem obras, crê muito em Cristo”. Em outras palavras, Lutero enfatizou que o ensino bíblico a respeito da graça não se tratava de Deus construir sobre nossas obras justas ou de nos ajudar a realizá-las.

Deus não é quem tem de edificar sobre nossos fundamentos; ele cria a vida para nós. Em vez de depender de si mesmo, o homem deveria depender inteiramente de Cristo, em quem toda a justiça é realizada. “A lei diz: ‘faz isso’, e isso nunca é feito. A graça diz: ‘crê nisso’, e tudo já foi feito” (Lutero).

Por meio da doutrina bíblica da graça somente, Lutero encontrou uma boa-nova para o fracasso repetido, a notícia de um Deus que vem, não para o justo, mas para os pecadores (Mateus 9.13).

É presunção acreditar que seremos mais amados quando (e somente quando) nos tornarmos mais atraentes, para Deus e para o próximo. “O amor de Deus não encontra, mas cria, aquilo que lhe agrada […]. Em vez de buscar o seu próprio bem, o amor de Deus flui adiante e concede o bem. Portanto, os pecadores são atraentes porque são amados; não são amados por serem atraentes.” (Lutero).

Quão gloriosa e libertadora é esta verdade! Não somos amadas por nosso desempenho ou mérito. Se assim fosse, não seria graça. Se assim fosse, o amor de Deus por nós seria baseado em nosso desempenho. Sem dúvidas, não suportaríamos tamanho peso! Jamais poderíamos sustentar esse amor.

A graça não é um energético espiritual que Deus nos dá para que sejamos melhores para, então, obter o seu favor, a graça É o favor de Deus para nós.

Lutero explanou de forma belíssima, como a graça atua na vida do cristão, usando como ilustração a história de um casamento, no qual Cristo, o noivo, rei e divino, se casa com a pobre e perversa meretriz, redimindo-a de todo mal e adornando-a com toda a sua bondade.

“No casamento, ocorre uma troca maravilhosa na qual o rei assume toda a vergonha e a dívida de sua noiva, e a meretriz recebe toda a riqueza e todo o status real de seu noivo, pois, para Jesus e para a alma unida a ele pela fé, funciona assim: Cristo está cheio de graça, vida e salvação. A alma está cheia de pecado, morte e condenação. Agora que a fé venha entre eles e os pecados, morte, e a condenação serão de Cristo, enquanto graça, vida e salvação serão da alma, pois se Cristo é o noivo, ele toma sobre si as coisas que são da noiva, e concede sobre ela aquilo que é dele. Se ele lhe dá o seu corpo e seu próprio ser, como não dará também tudo que pertence a ele? E se ele toma o corpo da noiva, como ele não tomará também tudo que é dela?”

O Sola Gratia é a afirmação de que por meio da graça de Cristo somente, o Senhor nos aceita. Não tínhamos nada de bom para lhe oferecer, ainda assim, Ele nos amou. Não somente isso, mas tomou sobre si o pior que havia em nós, nos dando em troca o seu maior tesouro.

“Nada trago em minhas mãos,
Somente à tua cruz me apego, ó Senhor.
Desamparado, busco a tua graça;
Despido, veste-me por teu amor;
Imundo, a tua fonte buscarei –
Lava-me, ó Salvador, ou morrerei.”
(Rock Of The Ages, Augustus M. Toplady, 1740-1778)

Sola Gratia!

Bibliografia: Por que a Reforma ainda é importante?, Michael Reeves e Tim Chester, Editora Fiel.