Será que eu sou salva?

A certeza de que somos justificadas de todos os pecados por meio de Cristo nos faz experimentar paz, alegria e esperança (Rm 5:1-3). Mas a vida espiritual não é uma caminhada linear. Podemos passar por momentos em que questionamos nossa fé. A certeza pode demorar para chegar, e por vezes ela tende a ser enfraquecida. Então, como saber se sou realmente salva? O fato de fazer esse tipo de pergunta e apresentar essa preocupação já mostra que nos importamos com o nosso estado espiritual.

​A Confissão de fé de Westminster afirma: “A certeza da graça e salvação, não sendo da essência da fé, crentes verdadeiros podem esperar muito tempo antes do consegui-la; e depois de gozar dela, podem sentir enfraquecida e interrompida essa certeza, por muitas perturbações, pecados, tentações e deserções; contudo nunca são deixados sem uma tal presença e apoio do Espírito de Deus, que os guarda de caírem em desespero absoluto (2Pe 1:10; 1Jo 5:13; Sl 77:7-9, e 22:1 e 31:22, e 73:13-15, 23; 1Jo 3:9; Is.54:7-11).” Essaspalavras aparentemente difíceis nos dizem que é possível que um cristão verdadeiro tenha a sua certeza de salvação abalada. 

Observaremos adiante algumas características daquele que é realmente salvo, nascido de novo, que não pode perder sua salvação.

O apóstolo Paulo disse algo nesse sentido quandoorientou os Coríntios ao autoexame: “Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados” (2Co 13:5). Diante dessa ordem, precisamos pensar que podemos também não ser os melhores juízes de nós mesmos, mas há evidências que nos ajudam nesse autoexame, inclusive com a consulta a pessoas maduras na fé que têm nos observado e acompanhado. Isso porque os frutos são evidências da salvação: “Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade” (Ef 4:22-24).

Você já nasceu de novo?

“Novo nascimento”, “conversão” “nova criatura” e“redimido” são algumas expressões usadas para aquele que creu em Cristo como seu único salvador. Mas o que isso implica? Em Ezequiel. 36.26,27, o Senhor disse que, quando alguém está redimido, ele arranca o coração de pedra – o coração marcado pela centralização em si mesmo – e coloca um coração de carne. A pessoa é nova criatura, pratica a justiça e a obediência, que são consequência da transformação.Quando temos o coração trocado, somos capacitados a não mais viver nos desculpando por nossas circunstâncias, emoções, vulnerabilidades etc.

Jesus falou da necessidade de “nascer de novo” a Nicodemos, um respeitado “professor de religião”. O Mestrequestionou o “status quo” do professor, que, apesar de ser um religioso, estava centrado em si mesmo (Jo 3:1-12). 

Ao analisar se realmente nascemos de novo, se fomos regenerados, seguros de que somos de Cristo, precisamos entender que não é porque uma pessoa “está na igreja a vida toda”, é “uma pessoa boa” ou faz coisas em nome de Deus que ela nasceu de novo. Quando somos realmente “nova criatura”, temos a mente renovada espiritualmente. Nossas prioridades, afetos e a maneira como interpretamos a vida são completamente mudados.

Quem nasce de novo em Cristo não vive sob as sombras de suas circunstâncias. O cristão é reconhecido quando emprega todos os esforços contra o pecado, capacitado por Deus, e não se conforma com sua velha natureza, como orienta o apóstolo Paulo: “Não mintais uns aos outros, pois já vos despistes do velho homem com suas atitudes, e vos revestistes do novo homem, que se renova para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Cl3:9,10), e “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:2).

Vemos que Saulo e Nicodemos são exemplos contrastantes de religiosos, mas os frutos da mudança tornaram visíveis a verdadeira conversão, no caso de Saulo.Nas Escrituras, somos chamados a não somente nos tornar religiosos – como eram as seitas judaicas, por exemplo –, mas examinar se de fato temos uma vida transformada.

“Quem tem flores dá flores, quem não tem não pode dar”– Marcas da verdadeira conversão

Como poderemos então nos submeter a um parâmetro e avaliar se realmente somos de Cristo? A Bíblia trata do“crescimento na graça”. Quando olhamos para uma árvore frutífera, temos como um sinal de que ela está saudável o fato de que ela produz frutos saudáveis. Da mesma forma, uma criança tem seu crescimento avaliado por médicos e por seus pais. Se ela não se desenvolve adequadamente, algo está errado. Tiago 3:13 diz: “Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras.” São nossas ações, atitudes e palavras que demonstrarão se carregamos as marcas da sabedoria de Deus e de pertencermos verdadeiramente a Ele.

O Espírito Santo, que habita naqueles que nasceram de novo, busca limpar toda a nossa vida, tanto exterior como interiormente. Mas assim como o crescimento requer cuidado e manutenção, a limpeza também faz parte do processo que a Bíblia denomina de santificação. Esse processo de santificação tem a ver com o “crescimento na graça”. Ele marca que somos de Cristo. Se não crescemos em conhecimento, intimidade, transformação de vida e fruto do Espírito, provavelmente não estamos em Cristo. Quando mantemos nossos antigos padrões de vida e hábitos pecaminosos, demonstramos que não nascemos de novo.

J. C. Ryle, ao falar do crescimento cristão, destaca:

“O crente estagnado, que, segundo todas as aparências, continua sendo sempre o mesmo homem, com as mesmas pequenas faltas, fraquezas, pecados e debilidades, raramente é o crente que consegue exercer uma boa influência. O homem que abala e desperta as mentes, que faz a humanidade pensar, é o crente que está continuamente melhorando e avançando. Os homens consideram que há vida e verdade quando eles percebem o crescimento.”

De semelhante modo, em várias de suas cartas às igrejas, o apóstolo Paulo traz marcas daqueles que vivem em Cristo. Em sua primeira epístola aos Tessalonicenses, ele diz que aqueles crentes confirmam a sua eleição, isto é, que pertencema uma nova vida com Cristo, por terem uma fé que é operosa, em que há amor.

​Assim como uma árvore cheia de frutos traz inúmeros impactos positivos ao seu redor, a nossa vida cristãpoderá ser avaliada como genuinamente verdadeira, ou seja, se somos de fato salvos por Cristo, pelos frutos que produz.

​Quando pertencemos a Cristo e crescemos nele, passamos a ter uma percepção cada vez maior dos nossos pecados. Com a luz de Jesus, perceberemos nossas falhas, pecados e fraquezas de forma mais clara, e não viveremos buscando justificativas.

​O crescimento e o amadurecimento verdadeiros, que só acontecem em Cristo, geram em nós um senso cada vez maior da santidade de Deus e da nossa necessidade de nos empenharmos em ter o caráter mais parecido com o de Cristo,nos tornando mais cuidadosos com o nosso temperamento, nossas palavras e ações, vigilantes, não justificadores, danossa própria conduta e cada aspecto da nossa vida.

Mas precisamos cultivar frutos os da nossa nova vida. Uma vez que recebemos Cristo, somos capacitados pelo seu Espírito para produzir, e esse trabalho de cultivo é árduo.

Crescer dói

“Cresçam, porém, na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, agora e para sempre! Amém.” (2 Pedro 3:18; grifo da autora)

Todo mundo já ouviu por aí que “crescer dói”, e dói mesmo. Na vida cristã não é diferente, e fomos advertidos de que ela é uma batalha, uma vez que temos que viver de uma maneira que vá contra a cultura, sendo capacitados pela graça de Deus para viver para a Sua glória. 

O pastor português Tiago Cavaco pontuou muito bem:“Se julgas que podes ser cristão sem sentir que ‘está levando na cara’, que está cansado como quem corre e está no limite das suas forças, então você não está na tarefa, que era a tarefa de Paulo, e também é sua, que guardes a fé. Guardar a fé implica esse tipo de emoções que nós não desejamos. É sentirmo-nos atingidos, sentirmo-nos cansados. O apostolo Paulo sabia, e ele afirmava com figuras tão radicais como esta. Para o verdadeiro cristão, viver é uma luta, uma corrida. Custa-nos, dói, cansa… E isso é um sinal de que você é um cristão. Se és cristão, e nada te custa, nada te dói, nada te atinge, não sei que tipo de cristianismo é o seu!”

​A bênção e a alegria que isso traz superam em muito qualquer luta. A vida com Cristo é mais do que uma lista de coisas a fazer ou não fazer, de roupas, hábitos religiosos ejargões. É uma nova vida, livre da escravidão do pecado. 

“Esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo.”(Filipenses 3.13,14)

Se você quer se aprofundar mais sobre o tema, recomendamos a leitura do livro “Cristianismo Puro e Simples”. C.S. Lewis.

Por Jéssica Sayuri