Quem se senta à mesa com você?

Conhecemos a Deus à medida que entendemos como Ele é relacional. Explico: se O conhecemos, é porque Ele se revela a nós, e se Ele se revela a nós, é porque quer se relacionar conosco.

De fato, nunca O conheceremos plenamente e nunca entenderemos de forma integral o que dEle podemos conhecer. Mas Ele se revela a nós e, por Seu Espírito, nos capacita a apreender Sua natureza e atributos, Seus propósitos e feitos.

Embora não haja espaço aqui para discorrer acerca da maravilhosa relação intratrinitária, acredite em mim, ela existe, de forma plena, poderosa e abundante. Tanto que já estamos fartas de saber que Deus não precisava de companhia quando criou o ser humano, pois já era pleno, em Sua perfeita unidade plural.

Mas Deus cria a humanidade e, diferente do restante da criação, compartilha com ela características Suas — dentre as quais, a capacidade de se relacionar. A capacidade e a necessidade de mantermos relacionamentos, então, é a expressão da imagem de Deus em nós. É da essência da criação da humanidade. Quanta beleza há nisso!

A essa altura, você pensará que está no caminho certo, porque tem várias amizades, sempre está próxima a pessoas e tem centenas de seguidores nas redes sociais. Ou, por outro lado, pode se preocupar porque tem dificuldade em puxar conversa, estar em vários círculos de amizades e conhecer pessoas.

Para ambos os casos, fica aqui minha provocação: quanto você tem desejado se dedicar a esses relacionamentos? E quanto eles têm sido para você uma oportunidade de espelhar Jesus? Não basta nos relacionar com as pessoas do nosso jeito. Temos que nos relacionar com as pessoas de forma que Deus seja honrado.

Quero que imagine, então, que estamos à mesa, com um café e um bolo, fazendo o que deveríamos fazer com mais frequência com quem está ao nosso redor: compartilhar, ensinar, exortar, aconselhar e espelhar Jesus. E quero te contar, minha amiga, por que acredito que devemos olhar para o nosso próximo e decidir dedicar tempo e esforços em conhecê-lo, amá-lo e ter comunhão com ele.

Nosso pressuposto, como já te falei, é nosso Deus. Ele é relacional e decidiu compartilhar isso conosco.

No Novo Testamento, encontramos diversos textos que costumamos chamar de “mandamentos de mutualidade ou de reciprocidade”. Jesus ensinou aos Seus discípulos sobre o amor, o perdão, a oração, e o cuidado, nesses termos de mutualidade. Fica claro o quanto Ele quer de Seus seguidores um padrão de vida em que há envolvimento uns com os outros — sobretudo, na comunidade de fé, a noiva pela qual Ele morreu e ressuscitou. E foi Ele mesmo a expressão perfeita do cumprimento dessas palavras. Ao dar continuidade ao ministério de Jesus, os apóstolos ecoaram Seus ensinos.

Na carta aos Romanos, o apóstolo Paulo apresenta a condição do crente em Jesus, a partir da redenção. Ele também relaciona o que aqueles cristãos criam com a forma como deveriam expressá-lo: por uma vida de santificação e adoração.

No capítulo 12 da epístola, a partir do versículo 9, Paulo demonstra a expressão dessa fé nos relacionamentos que seus leitores têm com o próximo. Ele toma por pressuposto o amor que há entre os membros do corpo de Cristo e ensina quais características têm de existir em meio a essas relações.

John Stott, ao tratar desse texto, destaca os 12 “ingredientes” de um relacionamento que glorifica a Deus, fundado no amor: sinceridade, discernimento, afeição, honra, entusiasmo, paciência, generosidade, hospitalidade, boa vontade, simpatia, harmonia e humildade1.

A despeito de quantas pessoas conhecemos, ou dos seguidores nas redes sociais, o termômetro para saber se estamos nos relacionando para a glória de Deus é a qualidade desses relacionamentos e quanto podemos expressar essas características genuinamente.

Sejamos filhos obedientes!

Lembro-me de duas passagens encontradas no livro de João. A primeira, no capítulo 13, na qual Jesus afirma que Seus discípulos seriam reconhecidos como tais se eles se amassem. A outra passagem é a oração registrada em João 17, na qual Ele pede a Deus que aqueles que viessem a crer nEle fossem um, como Ele e o Pai são um. Jesus desejava e orava para que o relacionamento entre os crentes fosse semelhante ao Seu relacionamento com o Pai — isso é inacreditavelmente grande e maravilhoso.

Até aqui, espero ter demonstrado para você, amiga querida, que nossos relacionamentos não devem ser uma forma de satisfazermos nossos caprichos e vontades pessoais, não devem ser conduzidos da forma como achamos mais conveniente, nem limitados ao que julgamos suficiente. Nossos relacionamentos não têm fim em nós mesmas. Foram proporcionados por Deus para glorificar Seu nome e refletir Sua imagem.

Nossos relacionamentos foram planejados por Deus para espelhar Sua imagem e refletir o amor que há entre Pai e Filho. E o modo para que isso aconteça é seguir os padrões encontrados na Bíblia para o amor, serviço e cuidado. A forma como nos relacionamos deve testemunhar o amor de Jesus. 

Sejamos testemunhas fiéis!

Sendo assim, quero te desafiar a olhar para seu relacionamento com Deus, primeiro, como o início e a fonte de todas as coisas. Nossa posição em Jesus é nossa justificativa para todas as outras relações que venhamos a desenvolver e o propósito final também. Tendo isso em mente, encaremos esta linda oportunidade de viver Jesus, espelhando Seu caráter, e de compartilhar do amor que encontramos nEle. 

Como uma lista sempre ajuda a sistematizar minhas ideias, aqui vai uma com três tópicos principais para pensarmos quando o assunto é amizade e relacionamentos:

  1. Lembre-se de que você foi criada à imagem de um Deus relacional, portanto, você precisa de pessoas. É uma mentira das grandes acreditar que podemos viver de forma individual, sem nos preocuparmos com o próximo, e que ninguém tem direito de se aproximar. Sobretudo no âmbito da igreja, precisamos estar abertas para viver os “uns aos outros” que encontramos nas Escrituras (ex: Jo 13:34,35; Rm 12:10; Hb 10:24,25), a fim de sermos edificadas, edificarmos nossos irmãos, e, juntos, nos conformarmos à imagem de Jesus (Rm 8:29);
  2. Nossos relacionamentos devem ser moldados aos padrões de Deus, visando a glória dEle. Deus estipulou que um dos instrumentos de santificação é viver em meio ao corpo de Cristo, com a ajuda e apoio dos nossos irmãos. Ao recusarmos isso, não apenas deixamos de viver plenamente a vida que o Senhor preparou para Seus filhos, mas negligenciamos diversas ordens de Jesus para Seus seguidores;
  3. Por fim, não nos esqueçamos que, embora parte das pessoas com as quais nos relacionamos não reconheçam Jesus como Senhor e Salvador de suas vidas, elas também foram feitas à imagem de Deus e necessitam de redenção. Não podemos reter delas o amor de Jesus a ser transmitido através de nossas vidas, a mensagem do Evangelho e a esperança da redenção. Essas amizades merecem atenção e dedicação! 

Por fim, querida irmã, minha oração é que o Espírito Santo nos ajude a perceber a preciosidade da vida em comunidade e o valor de estarmos vivendo relacionamentos genuínos de edificação e amor mútuos. Que nossa vida seja um testemunho fiel do nosso Senhor e que as pessoas ao nosso redor conheçam o amor de Jesus através de nossos relacionamentos. 

 1 STOTT, John. A mensagem de Romanos. São Paulo: ABU Editora, 2007. p. 399-403 

Por Melina Marinho

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