Por que existimos?

Quem somos? De onde viemos? Onde estamos? Para onde vamos?

Não importa se os anos são os 80, 90 ou 2000, se a geração é a X, Y ou Z, se são os séculos passados ou o atual, há alguns questionamentos que permeiam os pensamentos da humanidade durante o decorrer dos anos, seja ontem, hoje ou amanhã, certas dúvidas que são responsáveis pela crise no coração de muitas pessoas, gerando medo e ansiedade, as mesmas perguntas que martelam na alma há milhares de anos: “Quem sou eu?”, “Para que estou aqui?”, “Qual o propósito da minha vida?”…

Esse tipo de indagação é quase intrínseco ao ser humano. Parece que, ao nascermos, nascem conosco essas questões, que começam a borbulhar dentro de nós lá pelo início da adolescência. Se não soubermos buscar as respostas no lugar certo, essas perguntas podem nos acompanhar – e torturar – por toda a vida.

Afinal de contas, quem é o homem?

Muitas pessoas têm tentado responder a essa pergunta. Cada cosmovisão traz uma perspectiva diferente. A resposta, porém, só pode ser encontrada no Livro que conta a Grande História, a História de Deus. Sim, queremos saber quem é o homem, mas não conseguiremos compreender sem olhar antes para Aquele que o criou. Inclusive, dentro dessa História, entendemos também o porquê dessa crise existencial presente no coração de cada pessoa.

Precisamos voltar para o início. Sei que gostamos de uma certa individualidade para nos sentirmos importantes, e sei também que se está usando bastante o “olhe para dentro de você”, mas, para saber quem somos, veja só que ironia, não podemos olhar para dentro, pois a resposta não está aqui dentro. A resposta está nEle, no Criador de todas as coisas, que fez os céus, a Terra e tudo o que neles há, que nos fez, eu e você.

Tendo a Bíblia como revelação de Deus para nós, sabemos que não surgimos “do nada”. Fomos intencionalmente formados. Deus, Criador e Sustentador de todo o Universo, após seis dias de intenso trabalho criativo, fez o auge da sua criação:

“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra” (Gn 1.26-28).

Esse texto diz muito sobre nós, seres humanos. Aliás, nesses três versículos, podemos compreender quem é o homem, para que ele foi criado e qual o seu propósito. Vamos lá?

Quem é o homem?

Imagem e semelhança de Deus

O Senhor, Criador de todas as coisas, não precisava criar nada. Ele não sentia falta de nada. Ele era completo em si mesmo – Pai, Filho e Espírito Santo. Tudo o que Ele fez, não o fez porque precisava, mas simplesmente porque quis (e pode!).

A Bíblia relata, então, nos dois primeiros capítulos de Gênesis, a criação do mundo e do homem. A Palavra de Deus diz que o Senhor criou homem e mulher à sua imagem e semelhança. Para entender quem somos, precisamos entender quem Deus é. Fomos planejados para ser como Ele, não em equivalência, mas em santidade, relacionamento e representatividade. É exatamente esse ponto que faz a famosa frase do autoconhecimento (“Olhe para dentro de você”) ser incapaz de nos ajudar a entender quem somos, pois só conseguiremos compreender isso sabendo, primeiro, quem Deus é. Somente o conhecendo é que poderemos nos conhecer. Então, a frase correta seria: “Olhe para Deus, olhe para a Bíblia, olhe para a Grande História, olhe para o Evangelho”.

E o que significa exatamente sermos imagem e semelhança de Deus? Segundo estudiosos das Escrituras, existem, pelo menos, duas maneiras significantes em que a humanidade é firmada como imagem de Deus[1]. Primeiro, em nossa natureza e atributos. Somos a imagem de Deus em algumas capacidades, como pensar, raciocinar, planejar, amar, escolher, comunicar e nos relacionar. Por exemplo, somos criaturas morais. Ou seja, nascemos com uma consciência em relação ao que é certo e errado. Isso é reflexo do senso perfeito de moralidade de Deus. Ele é a definição do que é o certo. Não somos apenas seres físicos. Somos também espirituais, assim como Deus é espírito, o que possibilita nosso relacionamento com Ele. Somos seres racionais, pensantes, e essa característica também é um reflexo do conhecimento de Deus. Nossa capacidade de nos relacionar uns com os outros é reflexo da perfeita comunhão que há na trindade. Podemos também ter em nós algumas características que fazem parte de quem Deus é – o que chamamos de atributos comunicáveis –, como bondade, justiça, santidade, misericórdia, compaixão, sabedoria, entre outros.

Segundo, em nossa posição no mundo. Fomos feitos à sua imagem e conforme a sua semelhança para refletirmos por toda a terra quem Ele é, para governarmos a criação e sermos seus representantes. Esta última maneira em que nos assemelhamos a Deus entra na questão sobre para que fomos criados.

Para que o homem foi criado?

Para refletir Deus e o representar

Quando o Senhor criou Adão e Eva, deu-lhes algumas responsabilidades. Eles deveriam se multiplicar e encher a terra, subjugá-la, dominá-la, cultivá-la e guardá-la. Wayne Grudem[2] diz que, assim como um rei coloca estátuas e quadros de si mesmo por toda a extensão do reino que governa, Deus colocou a imagem de si mesmo no homem e na mulher para serem seus representantes em todo o mundo. E, como representantes de Deus na Terra, também somos chamados a cuidar do seu Reino, isto é, a vivermos de acordo com seus valores e princípios, submetendo-nos às suas leis e dando bom testemunho do Evangelho de Cristo.

Qual o propósito do homem?

Glorificar a Deus

“A todos os que são chamados pelo meu nome, e os que criei para a minha glória: eu os formei, e também eu os fiz.” (Isaías 43.7)

Todas as coisas que Deus criou foram criadas para a Sua própria glória. Elas resplandecem seu Ser, revelam quem Ele é, e lhe dão louvor. Dão-lhe louvor porque demonstram quão majestoso, honroso, poderoso, magnífico e incomparável Ele é. Esse é também o propósito para o qual o ser humano foi criado: para glorificar a Deus.

Por termos sido criados com esse propósito, o nosso objetivo de vida deve ser viver de forma que o glorifique. Mas o que significa viver para glorificar a Deus? Significa viver de maneira a resplandecer a Sua glória, viver de forma que o represente, que lhe agrade, que o faça conhecido, que reflita quem Ele é. Em nossas ações, decisões, pensamentos e relacionamentos devemos expressar a natureza e os atributos comunicáveis de Deus, torná-los conhecidos, resplandecê-los. Manifestamos Sua glória quando vivemos para glorificá-lo e nos alegramos nisso. Estamos vivendo nosso propósito de vida quando nosso maior desejo é agradá-lo e obedecer-lhe de coração.

Por causa do pecado, porém, a imagem de Deus em nós ficou meio embaçada, como um espelho sujo e quebrado que não consegue refletir por completo a imagem à sua frente. Continuamos sendo Sua imagem, mas a nossa capacidade de refleti-la ficou limitada. Entretanto, apesar do pecado, o propósito não mudou. Por meio do sacrifício de Jesus e da ação do Espírito Santo em nossas vidas, nossa capacidade de resplandecer a imagem do Senhor pode ser, a cada dia, aperfeiçoada, até que seja completamente restaurada. Podemos viver esta vida como quem cola os cacos quebrados pelo chão, até chegarmos ao dia em que resplandeceremos Sua glória novamente de maneira plena, assim como fomos criados para ser.

Compreender quem somos como seres humanos, à luz da revelação de Deus, deve impactar diretamente a maneira como vivemos nossos dias, a maneira como nos portamos no trabalho, como nos relacionamos com as pessoas, como lidamos com as dificuldades. Cada pensamento e ação nossa não devem ser guiados pelo “olhe para dentro”, pelos nossos sentimentos e emoções, mas pelo “olhe para o alto”. Cada momento de nossas vidas, cada ação e reação devem ser pautadas pelo conhecimento de quem Deus é e de quem fomos criados para ser: Sua imagem, feitos à Sua semelhança para glorificar o Seu nome.

Que Ele nos ajude, aperfeiçoe-nos e seja glorificado em nós.

Por Thainá Spricigo Pereira

Referências

[1] CARSON, D. A e KELLER, Timothy (org). O Evangelho no Centro: renovando nossa fé e reformando
nossa prática ministerial. 2. ed. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2019.

[2] GRUDEM, Wayne. Bases da fé cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2018.