Os ofícios de Jesus e sua importância na nossa redenção

Antes de pensarmos sobre os ofícios de Jesus ou até mesmo sobre o Antigo Testamento, precisamos, primeiramente, de um bom exame de vista.

Ao contrário do que muitos cristãos pensam, não é ruim focarmos nossos pensamentos no passado e no futuro. Olhar para momentos diferentes do tempo nos auxilia na caminhada em busca da piedade. O problema é que temos um sério problema de miopia temporal.

Quando olhamos o passado, vemos aquilo que está perto de nós, sentimos remorso, culpa, tristeza – quando muito, esprememos nossas pálpebras para conseguir enxergar até os tempos de Jesus ou de quando a Bíblia foi escrita. Ao mirarmos o futuro, sentimos medo, ansiedade, cobiça – olhos arregalados para o que está a um palmo de distância, sem enxergar o que está mais longe.

Como é possível, então, que essa análise temporal fora do presente seja boa? Aumentando nosso grau para enxergarmos, com nitidez, ainda mais longe: nas eternidades passada e futura.

A história sobre os ofícios de Jesus começa bem antes da própria História começar. Na eternidade passada, Jesus já era o pleno mediador entre Deus Pai e o homem. Portanto, Jesus não é somente a pessoa para a qual as funções de profeta, sacerdote e rei do Antigo Testamento apontavam, mas é pelo fato de ele ser a consumação total desses ofícios em uma só pessoa que esses papéis foram instituídos antes de sua vinda. Como Vinícius Musselman bem escreveu ao falar sobre esse tríplice ofício: “Primeiro vem a realidade eterna do Filho, depois os ofícios terrenos. Ele é o Logos, o Cordeiro que foi morto e o braço direito do Pai antes da fundação do mundo.”

Com as lentes ajustadas, podemos prosseguir.

Deus nos ensina aos poucos para que possamos compreender (ou vislumbrar) o todo, e não foi diferente com os ofícios de Cristo. Profeta, sacerdote e rei, 3 funções muito importantes para o povo da aliança, as quais entenderemos um pouco mais agora, para então compreendermos melhor a totalidade da ação de Jesus em nossa história de redenção:

Profeta – O intermédio da Palavra de Deus

Os profetas eram como a boca do próprio Deus. Em um tempo em que a Bíblia ainda não estava completa, esses homens eram escolhidos para revelar a vontade, ordem e o caráter divinos. Deus usava seu espírito para que, por meio do homem, falasse e se fizesse conhecido àqueles que lhe pertenciam desde a eternidade.

Sacerdote – O intermédio da Justiça de Deus

Os sacerdotes intercediam em favor do povo. Somente eles eram autorizados a entrar no tabernáculo, que representava a presença de Deus, para interceder pelo povo e oferecer sacrifícios em prol do perdão dos pecados. Essa função deixava claro para o povo que não era possível chegar a Deus por seus próprios meios e méritos. No dia da expiação, o sumo sacerdote oferecia ofertas de sacrifício por seu próprio pecado e, então, pelo pecado do povo. Essa cerimônia se repetia anualmente.

Rei – O intermédio do Poder de Deus

Os reis deviam proteger sua terra e nação, governando o povo com sabedoria. Israel sabia que sua forma de governo deveria ser uma teocracia, mas os governantes sempre falhavam em alguma parte do trabalho. Todas as pessoas que passaram pelo poder apontaram para a Jesus, de um jeito ou de outro, ou porque cumpriram seu papel e confiaram no governo soberano de Deus acima do seu próprio, ou porque tropeçaram e mostraram, com sua vida, que não eram, e nunca seriam, um rei suficiente e perfeito como aquele que viria. 

Jesus Cristo, portanto, é a encarnação do Logos divino, o perfeito sacrifício, mediador suficiente, rei sobre todas as coisas.

Jesus Cristo é.

“Como Profeta, ele nos revela a vontade e a pessoa de Deus. Como Sacerdote, ele é nosso mediador diante de Deus, oferecendo a si mesmo, uma só vez, em sacrifício para satisfazer a justiça divina e nos reconciliar com o Pai e vivendo sempre para interceder por aqueles que se achegam a Deus. Como Rei, ele governa como o vice-regente do Pai sobre o mundo, protege o seu povo e conquista sobre seus inimigos.” – Vinicius Musselman

Ele é não somente a concretização final desses 3 ofícios, como também o motivo pelo qual eles foram instituídos desde antes da fundação do mundo. Essas diferentes atribuições foram criadas para apontar e revelar em Cristo uma realidade que já estava determinada antes mesmo de ele se encarnar.

Jesus é a pessoa na qual a criação, redenção e consumação se encontram. Resolvendo, de uma vez por todas, o problema da queda.

Por que esses três ofícios de Jesus são importantes na nossa redenção? Porque são eles que a tornam possível.

Enquanto os profetas apenas anunciavam a Palavra de Deus que lhes era revelada por meio do Espírito, Cristo é a própria Palavra e Ele o Pai são um (Jo 1.1-4). Como sacerdote, Cristo não precisou oferecer ofertas por seu pecado, já que não tinha nenhum, mas ofereceu a si mesmo como oferta perfeita e definitiva pelo pecado de toda a humanidade. Enquanto os sumos sacerdotes entravam no santo dos santos uma vez por ano, Jesus adentrou à presença literal de Deus para sempre e de uma vez por todas. Somente ele poderia fazer isso perfeitamente, pois se Ele não fosse homem, Ele não poderia ter feito expiação pelo homem; se Ele não fosse Deus, o sacrifício não teria sido suficiente (Sl 110.4). Jesus é o sacerdote, o sacrifício e o altar. A ascensão de Jesus o coroa como rei do universo. Cristo reina não somente sobre a igreja, mas também sobre todo o mundo, sobre o material e imaterial, visível e invisível, sobre mim e você.

“O ofício triplo de Cristo revela a maneira pela qual a salvação é trazida para o homem. Ela é pregada por Sua profecia; obtida por Seu sacerdócio; e aplicada pelo Seu reinado. Finalmente, o ofício triplo expõe que a salvação é realizada por Cristo. Cristo primeiramente ensinou aos outros a vontade de Deus, e então ofereceu a Si mesmo, e finalmente entrou para governar em Seu reino.” – Joel Beeke

Implicações práticas dos ofícios de Cristo na vida dos cristãos

As implicações dos ofícios de Cristo em nossas vidas são enormes. Primeiro, porque Cristo atua em nós por meio de seus ofícios, nos revelando a Palavra, nos Justificando e reinando sobre o nosso coração. Segundo, porque agora somos chamados a fazer o mesmo, dentro de nossa limitação e subordinação. Assim, como discípulos de Cristo, devemos viver como:

  • Profetas: compartilhando da Verdade das Escrituras, que revelam o caráter de Deus, anunciando o Evangelho. (2 Co 2.14-17)
  • Sacerdotes: intercedendo e servindo uns aos outros. (1 Pe 2.9)
  • Reis: levando os povos à obediência a Deus, obedecendo à grande comissão, com esperança confiante do reinado futuro. (Ap 5.10)

Por Lara Sayuri.