O que acontece com a minha salvação quando peco?

Minha querida irmã, minha oração é que, ao concluir a leitura deste texto, você possa ter não apenas certeza da salvação, mas que, acima de tudo, possa perseverar na fé.

Acredito que um dos maiores questionamentos que um cristão pode ter é se é possível perder a sua salvação. Vivemos num mundo caído, onde evidenciamos constantemente as dolorosas consequências do pecado e de fracassos de grandes homens e mulheres de Deus, além dos alertas da Bíblia sobre a possibilidade de queda. Logo, precisamos recorrer aos ensinos das Escrituras sobre a doutrina da eterna segurança e a perseverança dos santos para não sermos tentadas a pensar que cristãos verdadeiros podem perder a sua salvação. Portanto, mesmo vivendo em um mundo de incertezas, em meio às batalhas da vida cristã, precisamos ter certeza de que a nossa segurança em Cristo vai perdurar.

Posso perder a minha salvação?

Uma pessoa genuinamente convertida pode perder a salvação? Eu posso perder a minha salvação? Acredito que em meio às batalhas da vida cristã, lutamos por segurança, desejamos estar seguras,, precisamos estar certas de que a nossa segurança em Cristo vai perdurar.  

Para chegarmos a uma resposta, precisamos compreender a doutrina da segurança eterna, mais conhecida como “perseverança dos santos”. A perseverança dos santos é a doutrina que afirma que os eleitos permanecerão no caminho da salvação, visto que o mesmo poder de Deus que os salvou os preservou e os santificará até o final.

Algo que precisa ser considerado é o conceito reformado da doutrina da perseverança dos santos, que afirma que uma pessoa só pode ser justificada pela fé e que, uma vez justificada, pode ter certeza da salvação. Desse modo, a perspectiva reformada tem dois lados: segurança e perseverança. Um não pode existir sem o outro. Ao ensinarmos a segurança da salvação – uma vez salvo, salvo para sempre –,  não podemos negligenciar o ensino acerca da perseverança como prova da salvação.

Pertencer ao povo de Deus significa estar eternamente seguro. A pessoa salva, portanto, perseverará até o fim e não se perderá: “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.30). Segundo John Piper (2014, p.79), “os santos têm de perseverar e perserverarão na fé e na obediência que procede da fé”.

O melhor de tudo é saber que não lutamos a luta da fé sozinhas, e nossa segurança está alicerçada nas obras de Deus. Portanto, não se trata apenas do nosso desempenho e compromisso constante, mas do agir constante de Deus em nos fazer perseverar.

E os que se desviam?

Quando nos referimos aos apóstatas ou àqueles que cometeram apostasia, estamos falando de cristãos que deixaram a fé ou, pelo menos, negaram sua primeira profissão de fé. O termo “apostasia” é baseado em uma palavra grega que significa “ficar longe de”. Enquanto “apostatar” significa alcançar uma posição e depois abandoná-la. 

O questionamento que muitas vezes nos fazemos é se é possível um cristão genuíno, regenerado, que crê em Cristo apostatar. O que precisamos ter em mente para responder biblicamente tal questionamento é que todo cristão está sujeito a cair de modo grave em determinada circunstância. Existem, porém, aqueles que transformam uma queda grave em uma queda total. Ou seja, uma condição temporária pode ser restaurada, mas aqueles que fizeram uma falsa profissão de fé, na verdade, não possuíam o que professavam.

Quando falamos de cair, me vem à memória a atitude de Davi após cometer adultério com Bate-Seba. Mesmo após tentar acobertar seu pecado e, por fim, tomar as providências necessárias para que o marido de Bate-Seba, Urias, fosse morto no campo de batalhas, tendo seu pecado confrontado pelo profeta Natã, Davi confessou o pecado e reconheceu sua culpa: Então Davi disse a Natã: – Pequei contra o Senhor. E Natã respondeu: – Também o Senhor perdoou o seu pecado; você não morrerá” (2Sm 12:13); “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável. Não me lances fora da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito” (Sl 51:10,11).

A condição de Davi foi restaurada, pois houve de fato um arrependimento genuíno. O rei foi perdoado imediatamente após ter reconhecido a sua culpa, o que me faz crer que a sua profissão de fé era verdadeira. Nosso papel como cristãs não é distinguir entre um crente verdadeiro ou um crente falso, afinal, não somos capazes de ler o coração dos outros. Sendo assim, o que nos cabe é orar e esperar, pois somente Deus pode fazer perseverar aquela alma.

Mas como o pecado nos afeta?

Por causa do pecado, as coisas simplesmente não são como deveriam ser originalmente. Wayne Grudem é cirúrgico quando define pecado como “qualquer falha em obedecer à lei moral de Deus em atos, atitudes e natureza”. Assim, quando Adão pecou, nós nos tornamos incapazes de fazer algo que agrade a Deus. Logo, cada parte do nosso ser é afetada pelo pecado, e isso se reflete nas nossas ações, nossas atitudes e nossa própria natureza:“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado veio a morte, assim também a morte passou a toda a humanidade, porque todos pecaram” (Rm 5:12); “Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos” (Rm 5:19).

A boa notícia é que Deus projetou o mundo de tal forma que nossas falhas são redimidas por meio do trabalho de outro, e assim podemos nos tornar justos diante do Senhor. Apesar de o pecado não afetar nossa posição diante de Deus, ele atinge nossa comunhão com ele. Assim, precisamos ter em mente que o nosso pecado entristece o Senhor. Por isso, o pecado não pode se tornar uma prática, pois um padrão pecaminoso pode apontar que, na verdade, determinada pessoa jamais foi realmente cristã.

Concluo este texto com as palavras do pastor puritano Thomas E. Watson, que disse: “Um coração partido e um Cristo esmagado claramente estão em acordo. Quanto mais amargo for o gosto do pecado, mais doce será o gosto de Cristo.” Afinal, a clareza é sempre a melhor maneira para derrotar o pecado.

Se você quer se aprofundar mais sobre o tema, recomendamos os seguintes livros:

“Bases da fé cristã”, Wayne Grudem, COMPRE AQUI

“Cinco Pontos”, John Piper, COMPRE AQUI

“Deuses Falsos” Timothy Keller, COMPRE AQUI

Por Hilda Lacerda