O Papel da Mulher: baseado na vida de Débora – parte III

images (1)

Estudo em Juízes 4 e 5 

[Continuação – parte final]

Tanto Débora quanto Jael, serviram a Deus como mulheres e não como homens, a Bíblia não contém nenhum relato de Débora pegando espadas e lutando contra os cananeus, da mesma forma Jael, usou ferramentas que não negavam sua feminilidade. Assim, Deus tem uma maneira particular de usar mulheres em Sua obra, Ele não precisa que nós aspiremos ser iguais aos homens para sermos úteis, mas que aspiremos ser tudo o que Ele deseja que sejamos pra sua glória.

Esta narrativa termina com um cântico para Débora, o qual inicia descrevendo o cenário que antecedeu a vitória de Israel sobre os cananeus. Praticamente já não havia habitantes naquela região, os cananeus haviam deixado um rastro de destruição, esvaziando as aldeias de seus habitantes[1] sem qualquer oposição contra eles. Então, Débora, se levantou como uma mãe de Israel. O fato de se colocar como mãe de Israel e ser reconhecida como tal mostra que a atitude de Débora não era de forma alguma uma competição com o governo de homens. Há aqui uma clara distinção entre a postura dos juízes enquanto governantes e libertadores do povo e Débora “mãe de Israel” (uma relação maternal e não governamental).

Num tempo de cegueira Débora enxergou o erro: a idolatria e suas consequências, uma delas era a omissão do povo, pois “entre quarenta mil em Israel”, não havia um que tomasse escudo e lança e lutasse (5:8). Débora fez sua parte aconselhando o povo e se alegrou e reconheceu o empenho daqueles chefes que sem se acovardar como os demais assumiram sua responsabilidade e foram à luta com Baraque, em favor dos seus (v.9). Graças a essa vitória, o povo foi liberto e pôde voltar as suas terras em Israel.

Em seu livro, Grudem[2] faz a seguinte perguntas: “Então, será que a história de Débora mostra que as mulheres podem liderar o povo de Deus nas igrejas quando os homens estão passivos e não estão liderando? Não, porque Débora não fez isso. A história de Débora deve motivar as mulheres a nessa situação a fazerem o que ela fez: encorajar e exortar o homem a assumir o papel de liderança para o qual foi chamado por Deus, assim como Débora encorajou e exortou Baraque (4.6-9-14)”.

Débora foi despertada e através dela muitos outros. Baraque foi levantado (qûm) por Deus por intermédio dessa mulher corajosa e fiel: “Levanta-te Baraque e capture os que te capturaram”. Nesse cântico Jael também é lembrada e elogiada por seu ato de coragem (5:24-27).

Outro evento que deve ser destacado, para melhor compreensão desse tema e do período de Juízes, está no capítulo 9. Esse capítulo narra um período de usurpação, onde Abimeleque se tornou rei sobre Israel – quando ainda não havia rei sobre Israel. Esse homem, ganancioso e astuto, tentou governar sobre o povo, contrariando a ordem de Deus e teve um trágico fim especialmente relevante para essa nossa reflexão.

Abimeleque sitiou a cidade de Tebes e a tomou, os habitantes desta cidade em busca de refúgio se esconderam dentro de uma torre forte que ficava no meio da cidade (9:51). O texto destaca que “todos os homens e mulheres, todos os moradores da cidade, se acolheram a ela e fecharam após si as portas da torre, e subiram ao seu eirado”. Imagine a cena, todos os homens da cidade escondidos dentro de uma torre, juntamente com as mulheres. Onde estaria a valentia desses homens em proteger os mais fracos? Não obstante, o v. 52 diz que quando Abimeleque estava prestes a incendiar a torre e matar a todos (!), uma mulher lançou uma pedra de moinho superior à cabeça dele, quebrando-lhe o crânio! Mais uma vez a atitude de valentia e iniciativa de uma mulher é contrastada com a atitude de fraqueza e omissão masculina. Mais uma vez em meio à omissão masculina uma mulher agiu em benefício do povo. A atitude de proteção partiu dela. Porém, essa passagem não é para louvor, senão para vergonha, pois um fato é claramente ressaltado: aquilo era vergonhoso para os homens, o v.54 diz: “Então, [Abimeleque] chamou logo ao moço, seu escudeiro, e lhe disse: Desembainha a tua espada e mata-me, para que não se diga de mim: Mulher o matou. O moço o atravessou, e ele morreu”. Esse acontecimento comprova, mais uma vez, o triste estado moral daquele período. Se prosseguirmos na leitura do livro de Juízes encontraremos ainda, histórias [3] que ressaltam a perversão moral e espiritual daquela época, destacando principalmente o desvio dos homens em relação ao propósito de Deus para eles.

Mas apesar de todo esse contexto de pecado e omissão, o capítulo 11 do livro de Hebreus traz um relato fascinante:

“E que mais direi? Certamente, me faltará o tempo necessário para referir o que há a respeito de Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jefté […], os quais, por meio da fé subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exército de estrangeiros.

Gosto especialmente da ultima parte do v. 34: “da fraqueza tiraram força e fizeram-se poderosos em guerra”. Acho que Baraque é alguém que da sua fraqueza tirou força e se tornou um homem poderoso. Um grande exemplo de que Deus pode levantar homens desanimados, abatidos e torná-los guerreiros valentes e vitoriosos.

Quanto a nós mulheres, nosso desafio é estar ao lado dos homens, mesmo em suas fraquezas como auxiliadoras, levantando-os e restabelecendo-os a seu posto, sempre que preciso, e também elogiar sua conduta correta, como Débora elogiou os lideres de Israel (Jz 5:9). Aprendo através dela que ainda que tudo ao redor nos impulsione agir contrário à vontade de Deus, devemos manter o temor e a submissão à Palavra. Com certeza, essa mulher teve suas falhas no decorrer do caminho, mas a mensagem especial às mulheres que vejo aqui é de que a omissão masculina não deve servir de desculpa para assumir a liderança e autoridade. Atitudes como a de Jael matando Sísera – ação que normalmente seria atribuída a um homem – aconteceram para vergonha e não exaltação. Creio que cada vez que mulheres “assumem” o comando, é porque algo está fora do normal (Is 3:12).

            O livro de Juízes também ensina o quanto nós mulheres precisamos da sabedoria de Deus para usar nossa influência da maneira correta. Uma mulher pode usar sua influência tanto para fortalecer um homem, como fez Débora, quanto para enfraquecê-lo, como fez Dalila. Que o Senhor nos conceda sabedoria para glorificá-lo dentro da nossa verdadeira feminilidade, compreendendo a essência do nosso papel no lar e na sociedade e cooperando para a edificação do povo de Deus hoje e sempre. Amém.

No Amor de Cristo

Prisca Lessa

[1] CHAMPLIN, op. cit., p. 1017.

[2] GRUDEM, op. cit.

[3] Sansão, cap. 14-16; o levita e a concubina, cap. 19-20; as esposas para os benjamitas cap. 21.

BIBLIOGRAFIA

CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento interpretado: versículo por versículo, volume 2. 2.ed. São Paulo: Hagnos, 2001.

DAVIDSON, F. O novo comentário da Bíblia. 3.ed. São Paulo: Vida Nova, 1997.

GRUDEM, Wayne. Confrontando o feminismo evangélico. São Paulo: Cultura Cristã, 2009.