Não deixe sua vida devocional no piloto automático

Querida irmã,

Antes de iniciar, minha oração é para que, durante a leitura desse texto, você possa buscar se deleitar e se alegrar cada vez mais na presença do Senhor. Espero te encorajar a crescer no conhecimento de Deus e, se ao final dessa reflexão, você for conduzida a fazer do seu devocional um exercício espiritual, meu objetivo terá sido atingido.

Não há como falarmos em vida devocional sem nos remetemos à disciplina. É por meio dela que conhecemos a Deus, glorificamos a Ele, e somos impulsionadas a viver uma vida “coram deo” – diante de Deus.

Conhecer a Deus requer disciplina

Como cristãs, devemos amar, confiar e anelar conhecer o Senhor e Salvador de nossas vidas, pois reconhecemos que Ele é o nosso maior tesouro e nada se compara a Ele. Conforme John Winthrop escreveu, “apenas o gozo em Jesus Cristo e a esperança do céu podem nos dar o verdadeiro conforto e descanso”.

Quando compreendemos isso – que somente Deus pode satisfazer cada uma de nós de modo permanente e no nível mais profundo –, as disciplinas espirituaisdevem passar a integrar a nossa rotina de maneira natural.

Isso porque a consciência da nossa total dependência de Deus deve nos levar a desenvolver um senso de prioridade, no qual Deus – e todas as coisas relacionadas a Ele – passam a estar em primeiro lugar.

Segundo Calvino, compreensão teológica e piedade prática são inseparáveis. Nesse sentido, enquanto a teologia visa conhecer a Deus, a piedade consiste em abraçar atitudes corretas em relação a Ele e obedecer ao que Ele determina. Assim, o verdadeiro conhecimento de Deus nos leva a viver de maneira piedosa e disciplinada em nossa vida ordinária.

Porém, uma vida de disciplina e piedade, não acontece de repente, ela requer atitudes diárias e intencionais.

É preciso deixar de lado a passividade, sair da zona de conforto e buscar desenvolver, de maneira intencional, seu crescimento espiritual, através de uma rotina de oração, leitura e meditação na palavra de Deus, de modo que a nova vida seja vivida como discípula de Cristo.

A glória é revelada nas Escrituras

Deus tem o propósito de que nós, como seu povo, entendamos a Bíblia, pois é através da sua Palavra que Ele revela mais de si mesmo. Contemplamos a glória de Deus nas Escrituras e por meio delas. Foi por meio das palavras da Escritura que os apóstolos transmitiram a glória que eles viram em Cristo.

Portanto, quando nos aplicamos à disciplina de ler e estudar a Palavra diariamente, somos capazes de contemplar a glória de Deus, nos deleitar nela, e transmiti-la a outros também. Isso nos mostra que a disciplina não é penosa, mas sim prazerosa. E, quando sentimos prazer em conhecer a Deus, o Senhor é glorificado em nós.

Nesse sentido, lembro-me das palavras de George Muller:

“Digo com toda clareza possível que o maior e principal assunto com que eu deveria ocupar-me todos os dias era ter minha alma feliz no Senhor. A primeira coisa com que deveria preocupar-me não era o quanto eu poderia servir ao Senhor, como eu poderia glorificar ao Senhor, mas como poderia levar minha alma a um estado de felicidade e alimentar meu homem interior. […] Eu vi que a coisa mais importante que tinha a fazer era dedicar-me à leitura da Palavra de Deus e meditar nela”.

A glória de Deus é a nossa felicidade, e o caminho para ambas é alimentar o espírito, dedicando-nos à leitura e à meditação na Palavra.

Desenvolvendo uma vida devocional

Mas no que consiste, afinal, a prática devocional, e como ela nos ajuda nessa busca por conhecer a Deus e viver uma vida diante Dele?

Gosto muito da definição apresentada pela Prisca Lessa que diz: “De forma simples, o devocional é um exercício particular e diário onde aplicamos disciplinas espirituais como a solitude, a oração, a adoração, a confissão, a leitura da Palavra e a meditação”. Em outras palavras, podemos entender “devocional” como sendo o momento em que cultuamos a Deus de forma particular e individual.

Em primeiro lugar, o devocional exige dedicação de tempo. Tenho certeza que, assim como eu, você já escutou aquele jargão popular que diz “tempo é dinheiro”. Vivemos em uma sociedade em que tudo é monetizado, e o tempo se tornou um recurso escasso e valioso. Portanto, só investimos tempo naquilo que consideramos ser, de fato, importante.

O evangelho de Lucas nos ensina que o lugar mais adequado para uma discípula é aos pés do Senhor. Em Lucas 10:41-42, vemos o próprio Cristo dizendo:

Mas o Senhor respondeu: — Marta! Marta! Você anda inquieta e se preocupa com muitas coisas, mas apenas uma é necessária. Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.

Precisamos aprender a viver como Maria no mundo de Marta. Nossas atividades, demandas e circunstâncias não podem, de modo algum, roubar nossa disposição de sentar e ouvir o Senhor. É justamente quando nos sentimos cansadas e sobrecarregadas que devemos parar para ouvir o Senhor, de modo que nosso fardo seja aliviado do peso.

A prática devocional diária nos proporciona comunhão, intimidade e conhecimento de Deus, de modo que a sua Palavra passa a habitar em nós. Logo, precisamos enxergar que a prática devocional exige intencionalidade. Assim, além de dedicar tempo, devemos também empenhar esforço nessa prática.

E podemos estar certas de que esse esforço será recompensado. Pois, quando decidimos obedecer a Deus, somos transformadas, dia após dia, pelo Espírito Santo.

Eliminando os obstáculos

Já vimos que a prática devocional é inseparável da vida cristã. Onde não existe prática devocional, também não existe comunhão com o Senhor.

No entanto, mesmo reconhecendo a necessidade de cultivar uma vida espiritual, incorremos no equívoco de nos abster do nosso momento de devoção. Na vida ordinária, provavelmente, iremos nos deparar com diversos fatores que podem atrapalhar a nossa prática devocional, sejam eles a falta de disciplina, falta de planejamento, distração, preguiça, cansaço, dificuldade na interpretação do texto bíblico, frieza espiritual e ausência de comunhão.

Você já parou para pensar sobre qual desses fatores mais atrapalha a sua prática devocional?

Muitas de nós costumamos negligenciar as disciplinas espirituais, utilizando, como desculpa, a correria do dia-a-dia. No entanto, as atividades da nossa rotina diária não podem ser um empecilho para o nosso fracasso em cultivar o conhecimento espiritual.

Precisamos lembrar que quem precisa dos nossos exercícios de devoção não é Deus, mas sim o nosso coração.

Um convite e encorajamento

Para concluir, gostaria de convidá-la e encorajá-la a tomar uma atitude prática que, certamente, irá mudar sua vida. 

Você já parou para refletir sobre a primeira coisa que uma filha de Deus deve fazer, a cada dia?

Na minha caminhada cristã, nem sempre entendi a importância de dedicar-me, habitualmente, à oração, leitura e meditação bíblica. Por vezes, eu só abria a Bíblia no dia da programação semanal da minha igreja. A questão é que, apesar de ter nascido de novo, eu não conseguia enxergar a necessidade de fazer o meu devocional e de ter comunhão com Deus, pois estava satisfeita em tê-lo apenas como salvador da minha vida.

Todavia, Cristo não é só o nosso salvador, mas também nosso Senhor. Ele se entregou e morreu morte de cruz para nos reconciliar com o Pai. É somente por causa de Cristo que eu e você podemos nos relacionar com Deus. Depois da Queda, o nosso relacionamento e comunhão com o Senhor haviam sido quebrados. Entretanto, Deus, em sua bondade e misericórdia, enviou Jesus para nos libertar da escravidão do pecado. Agora, em Cristo, somos reconciliadas e feitas filhas de Deus.

Portanto, como filha de Deus, quero te convidar a experimentar o hábito de iniciar seu dia alimentando seu espírito.

É durante o nosso devocional diário que somos alimentadas. É justamente através da oração e da leitura da Palavra de Deus que somos confortadas, encorajadas, advertidas, instruídas; e, assim, recebemos ajuda e força de Deus para enfrentar as adversidades da vida.

Meu desejo é que, através desse exercício, da mesma forma como eu tenho aproveitado minhas manhãs na presença do Senhor, você também possa desfrutar desse momento e sentir o preparo espiritual que ele nos dá para vencermos as dificuldades que sobrevêm ao longo do dia.

Por Hilda Lacerda.