“MAIS AMOR, POR FAVOR”: falando de amor a uma geração sem amor [1]

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Há uma famosa música da minha adolescência que diz o seguinte:

O que há de errado com o mundo, mãe?

Pessoas vivendo como se não tivessem mães

Acho que o mundo se viciou em drama

Atraído apenas por coisas que lhe trazem trauma […]

Mas se você só tem amor pela sua própria raça

Então só sobra espaço para discriminar

E discriminar só gera ódio

E quando você odeia, então, você está destinado a ficar zangado, sim

Maldade é o que você demonstra

E é exatamente assim que a raiva funciona

Cara, você tem que ter amor para se endireitar

Tome controle da sua mente e medite

Deixe sua alma levitar para o amor, todos voes, todos vocês

Pessoas matando, pessoas morrendo

Crianças feridas e você escuta elas chorando

Você consegue praticar o que prega?

E você viraria a outra face?

Senhor, Senhor, Senhor, nos ajude

Envie alguma orientação dos céus

Porque as pessoas me fazem, me fazem questionar

Onde está o amor?

Onde está o amor? (O amor)

Onde está o amor, o amor, o amor?

Nunca é a mesma coisa

Está mudando constantemente

Os novos dias são estranhos

O mundo enlouqueceu?

Se o amor e a paz são tão fortes

Por que há partes do amor que não usamos? […]

Então, pergunte a si mesmo

O amor realmente se foi?

Então eu poderei perguntar a mim mesmo

O que está errado de fato?

Neste mundo em que vivemos

Pessoas estão desistindo

Tomando decisões erradas

Apenas visando seus próprios ganhos

Sem respeitar um ao outro

Negando o seu irmão […]

A verdade é mantida em segredo, varrida para debaixo do tapete

Se você nunca conhece a verdade

Então você nunca conhece o amor

Onde está o amor? Todos vocês, vamos lá (Eu não sei)

Onde está a verdade? Todos vocês, vamos lá (Eu não sei)

Eu sinto o peso do mundo nos meus ombros

Quanto maus eu envelheço, mais as pessoas ficam frias

A maioria de nós só pensa em ganhar dinheiro

O egoísmo está nos guiando para a direção errada

Informações erradas sempre mostradas pela mídia

Imagens negativas são o critério principal

Infectando as mentes jovens mais rápido do que bactéria

As crianças querem agir como elas veem no cinema

O que foi que aconteceu com os valores da humanidade?

O que foi que aconteceu com a justiça na igualdade?

Ao invés de espalharmos amor, estamos espalhando animosidade

Falta de conhecimento deixando vidas longe de uma unidade

É por isso que às vezes eu me sinto pra baixo

É por isso que às vezes eu me sinto mal

Não é de se admirar que às vezes eu me sinto pra baixo

Tenho que manter minha fé viva até que o amor seja encontrado

Então, pergunte a si mesmo?

Onde está o amor?

Nós temos um mundo

É tudo que nós temos

E tem algo errado com ele (sim)

Tem algo errado com ele (sim)

Tem algo errado com o mundo

Nós só temos um mundo

É tudo o que nós temos (Where is the Love, The Black Eyed Peas)

Eu ouvia tanto essa música na minha adolescência, mas confesso que nunca havia me atentado para o que a letra diz. É uma crítica a um sistema e, obviamente, por não ser cristão, o autor da letra coloca a culpa da falta de amor em diversos aspectos: a política, a ganância, o racismo, a guerra, o egoísmo, a religião, entre outros. Mas, o que chama a minha atenção é que mesmo sendo um ímpio, o autor consegue diagnosticar que existe um problema: “O que está errado de fato?”, as coisas não estão como deveriam estar. Ele não sabe qual é a causa, mas reconhece os efeitos. “você tem que ter amor para se endireitar”, ele entende que, de alguma forma, o amor tem o poder de redimir; “O amor realmente se foi?”, ele percebe que o amor não se encontra no mundo. Ele percebe a condição da humanidade: “Apenas visando seus próprios ganhos”, e por alguma razão, mesmo tendo nascido em um mundo egoísta, algo em seu coração lhe diz que visar os seus próprios ganhos não é correto. “Se você nunca conhece a verdade, então você nunca conhece o amor”, em certo sentido, ele entende que a verdade é o caminho para o amor (Jo 8:32). “O que foi que aconteceu com os valores da humanidade? O que foi que aconteceu com a justiça na igualdade?”, ele percebe que a humanidade perdeu algo de essencial, apesar disso, ele preserva a consciência de valores eternos como a igualdade e a justiça. “Tenho que manter minha fé viva até que o amor seja encontrado”, ele tem esperança de que o amor será encontrado no fim das contas; aquela esperança de que tudo dará certo no final. “Nós só temos um mundo, é tudo que nós temos. Tem algo errado com o mundo” essa é a triste conclusão do autor: o mundo é tudo o que temos. Aparentemente, ele não crê que exista algo além do aqui e o agora. A música termina com a triste sentença de que um mundo errado é tudo o que temos. E agora? Numa narrativa secular e materialista, é assim que tudo termina. No entanto, numa narrativa bíblica, é justamente aqui que entra a esperança do Evangelho, esperança que o autor da canção desconhece. É justamente nesse ponto de desalento e desesperança que a mensagem salvífica reluz.

A Bíblia diz que por causa do pecado, um mundo errado é tudo o que a humanidade tinha. Mas Deus proveu a salvação para este mundo: Cristo veio para transformar a humanidade e o mundo dos homens; trazendo justiça, paz, igualdade e o tão desejado AMOR! Enquanto o mundo pergunta “Onde está o amor?” A Bíblia apresenta a encarnação do amor: Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Eis o amor!

“Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (I Jo 4.10).

Veja, se você parar, aleatoriamente, uma pessoa na rua e lhe disser: “vamos falar de amor?” é certo que ela irá aceitar o convite e terá todo um conceito de amor para te apresentar. Ela apresentará ideias, soluções e criticas à sociedade na qual vivemos (assim como o autor da música). Se você parar outra pessoa e lhe disser: “vamos falar sobre Deus?”, é provável que você obtenha certa atenção, pelo menos se a conversa for geral e superficial. Afinal, em nome do respeito às crenças, hoje as pessoas apresentam certa abertura ao diálogo – reitero, desde que seja superficial ou não “radical”, como alguns definem. Mas, se você parar alguém e lhe disser: “vamos falar de Jesus?”, é bem provável que você seja ignorado, dispensado, ou até ofendido por isso. Afinal, na concepção de muitos, Jesus foi um radical extremista. O Jesus bíblico não se encaixa na ideia de amor que a sociedade exalta. A menos, é claro, que seja um falso Jesus como o pregado em alguns púlpitos; um Jesus paz e amor, cujo amor não passa de mero sentimentalismo.

A verdade é que se analisarmos a nossa sociedade veremos que as pessoas querem falar de amor, elas amam falar sobre o amor. Às vezes, elas querem até mesmo falar sobre Deus ou um deus qualquer. Você pode ser perpetuamente amigo do mundo falando sobre amor e sobre Deus/deus, de modo geral, mas, se você ousar falar sobre a pessoa de Jesus Cristo, você imediatamente, passará a ser visto com outros olhos. Você será colocado no grupo dos religiosos, radicais, intolerantes, entre outros adjetivos. Nem sempre nos damos conta, mas o mundo que rejeitou Jesus no passado é o mesmo mundo que o rejeita hoje. Isso é evidente nas ruas, nas salas de aula, na política, nas artes e em tantas outras esferas. Jesus ainda é a pedra rejeitada por muitos, mas Ele é também a pedra angular, sem a qual nenhum edifício espiritual pode ser construído. Fale de amor, e o mundo te amará, fale de Cristo e ele te odiará!

É preciso que sejamos muito prudentes e sábios na maneira como nos relacionamos com o mundo. Hoje muitos cristãos se unem ao coro do mundo, por “mais amor, por favor”; eles se sentem tão relevantes e aceitos que ignoram o fato de que a única razão pela qual o mundo aceita todo esse discurso de amor é o fato de que Cristo nunca é mencionado. Mas, se Cristo não está sendo mencionado, é evidente que não estamos falando do mesmo amor. Pois, se não há Cristo, há tudo, menos amor.

Em 1 João 4:1-2 o apóstolo João diz aos seus leitores que eles deviam provar os espíritos para saber se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas estavam saindo pelo mundo afora. João diz a esses cristãos como eles poderiam colocar à prova esses espíritos: “Nisto reconhecereis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus”. (I Jo 4:2). A solução é categórica: se você quer saber se aquele pensamento, discurso ou ação procede de Deus, basta verificar qual a relação que ele tem com a pessoa de Cristo. Cristo é sempre a prova real. Uma pessoa pode falar de amor, amar a humanidade, odiar as injustiças e ainda assim ser um anticristo – no sentido de ser contrário à verdade de Cristo – em sua conduta e pensamento. Isso vale não somente para pessoas, mas para pensamentos e ideologias também. Há tantos cristãos confundido belos discursos de amor com o Evangelho! Falar de amor simplesmente não é o Evangelho. Mas essa tem sido ser uma armadilha perigosa para muitos.

Há muitos ímpios que falam de amor com profunda paixão. Chega a ser admirável, mas devemos provar os espíritos. Portanto, sabe aquele seu amigo ou colega super legal, que faz o bem a todos, cheio de discursos de amor e que reprova toda e qualquer forma de ódio, violência e injustiça? Se ele não confessa a Cristo como Senhor, o Deus que veio em carne e habitou nesse mundo a fim de nos remir de todo o pecado, ele não procede de Deus, por mais belas que sejam suas palavras e ações. Parece duro, mas é exatamente isso que o apóstolo João está dizendo. Leiamos:

“e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo […] eles procedem do mundo; por essa razão, falam da parte do mundo, e o mundo os ouve” (I Jo 4:3).

É interessante notarmos que o apóstolo João começa dizendo: “Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora” (I Jo 4:1). Havia no meio dessa comunidade pessoas que vinham com um discurso muito atrativo. Eles enveredavam até mesmo os fiéis com suas palavras sutis, mas não passavam de falsos profetas. Há falsos profetas em nosso meio. Não somente nos canais da Igreja Universal ou da Mundial, mas há pensamentos entrando em nossas igrejas que parecem tão bíblicos, éticos e humanos, mas que são falsos! Ocultam a verdade do Evangelho, desprezam a santidade de Deus e omitem Cristo. O mundo pode falar de amor o quanto quiser, mas se rejeita a Cristo, caminha na direção oposta ao amor, pois o amor procede de Deus e nos é revelado em Cristo.

“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.” (I Jo 4:7)

O apóstolo João nos leva a uma lógica: o amor procede de Deus. Se o amor procede de Deus, logo, todo aquele que ama é nascido de Deus. Sendo assim, para se amar é necessário que antes haja um novo nascimento. O nascimento ao qual João está se referindo é a ação íntima que o Espírito de Deus realiza em nossos corações tirando o coração de pedra e nos dando um coração de carne pronto a receber a Cristo.

“A isto respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu-lhe Jesus: em verdade, em verdade te digo: Quem não nascer da água e do espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo.” (João 3:1 – 7)

O que João está nos mostrando é que para que o homem ame a Deus e a seu próximo é preciso que tenha nascido de Deus. Nesse ponto, precisamos parar para refletir um pouco sobre esta afirmação: para se amar é necessário que antes haja um novo nascimento. Talvez você esteja se perguntando:

  • Será que apenas os cristãos amam?
  • Um ímpio é incapaz de amar ao seu próximo?
  • Nas relações entre não cristãos (sejam elas familiares ou não) não existe amor?

Para compreendermos bem a questão, precisamos ler a epístola de João como um todo e não apenas versículos à parte. Em todo o contexto da epístola, vemos o apóstolo falando sobre o amor. Mas, é preciso ressaltar que João fala de um amor diferente do amor que o mundo está em busca, não é o mesmo amor que The Black Eyed Peas está procurando em sua canção. É um amor que tem início em Deus. Muito diferente do amor do mundo, que coloca a si mesmo em primeiro lugar: hedonista e egoísta.

Gênesis 1:26 e 27 afirma que todos fomos criados à imagem e semelhança de Deus, mas, Gênesis 3 nos mostra que por causa do pecado essa imagem foi maculada, ela não é mais perfeita. Está manchada. Com isso, desde a Queda, a humanidade tem se distanciado cada vez mais do ideal Divino estabelecido na Criação. Apesar disso, nem mesmo o pecado pôde mudar o fato de que carregamos a imagem de Deus em nosso ser, e a imagem de Deus inclui o Seu amor. Deus é amor, diz I Jo 4:8, e como seres criados à Sua imagem e semelhança nós carregamos em nós a imagem do amor de Deus. Isso é um fato imutável. É por isso que, apesar não serem nascidos de Deus, os ímpios conseguem amar seus cônjuges, filhos e ao seu próximo, de modo geral.

Então, os ímpios também amam? Sim, mas não segundo o padrão que Deus requer dos homens. Por isso, essencialmente, até mesmo o amor que os ímpios têm é condenável. Por causa do pecado, o homem já não ama como deveria. Seu amor não é genuíno, pois não tem suas raízes no amor de Deus, mas em seu amor próprio. Imagine você que, mesmo tendo recebido um novo coração da parte de Deus, amar é uma das coisas mais difíceis para nós cristãos. Se mesmo sendo filhos de Deus, essa tarefa é tão difícil para nós, quanto mais para aqueles que não são filhos de Deus?! Quão distantes eles estão do verdadeiro amor!

A essência do amor é o próprio Deus, por isso aquele que não O conhece não pode amar verdadeiramente: “Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (I Jo 4:8). Poderíamos simplificar da seguinte maneira, aquele que não conhece a Deus tem, no máximo, uma cópia falsificada do amor; seu amor é amor segundo o padrão dos homens, mas não segundo o padrão de Deus.

Quando o mundo fala de amor, ele não está preocupado com a essência do amor, que é Deus, mas consigo mesmo. O mundo “ama o amor”, pois reconhece que o amor é benéfico para o homem, benéfico para a humanidade. Quando as pessoas clamam por mais amor elas não estão preocupadas com o fato de Deus estar sendo desonrado, mas com o fato de o homem não está sendo valorizado o bastante. As pessoas amam a humanidade, mas não amam o Deus que a criou. Em nome do bem da humanidade elas buscam o amor; porque o amor serve aos interesses da humanidade.

Mas, se o amor não servisse aos interesses da humanidade, apenas aos interesses de Deus, será que as pessoas ainda o buscariam? Não.

O amor por si só não traz salvação, mas, ainda assim, a humanidade deposita nela a sua fé. O amor é a salvação que os homens esperam.

Apenas aquele que é nascido de Deus pode amar a Deus ainda que isso não lhe traga benefício algum nesta terra, e, pelo contrário, apenas prejuízo. Vemos isso ao longo de toda a Escritura, em nome da glória do Senhor, o povo de Deus sempre sofreu, pondo em risco a sua própria existência, porque o verdadeiro amor os movia.

O cristão não faz do bem da humanidade o seu ídolo, ele está primeiramente preocupado com a glória de Deus e se for necessário que a humanidade inteira sofra para que Deus seja glorificado, então que o nome de Deus seja glorificado acima do bem dos homens.

Isso é tão inerente à fé cristã que Deus não poupou nem mesmo a humanidade em Cristo por amor a Sua glória. O amor de Deus está acima da própria vida! Mas, se disser isso a algum dos seus amigos da justiça social, eles te odiarão. Sabe por quê? Porque, infelizmente, o amor pela humanidade é o deus deles. Por isso, precisamos ter muita cautela ao abraçar certos discursos que parecem cristãos. Precisamos investigar. Assim como disse o apóstolo João, devemos provar os espíritos, para ver se procedem da parte de Deus.

O cristão é alguém que ama a humanidade? SIM, pois ela carrega a imagem de Deus! Mas seu amor a Deus está muito acima do seu amor pela humanidade. Por isso, ele não é um humanista, mas, sim, um cristão.

Dito isso, quero deixar claro que minha intenção aqui não é exaltar os cristãos como seres superiores, mas, num primeiro momento, chamar a atenção para os discursos que temos abraçado sem critérios bíblicos. Mas, além disso, minha intenção é também trazer uma exortação para nós; pois, que o mundo clame por amor, e não ame é de se esperar. Mas, que o cristão não clame por amor, e também não ame é totalmente incoerente. A epístola de João foi destinada a cristãos. João está falando sobre o amor para o povo da cruz, para mim e para você. Ele não é nenhum pouco dúbio em suas palavras, mas categórico em chamar a nossa atenção para o dever que temos: o dever de amar. Para nós, o amor não é uma escolha, mas um mandamento. O maior de todos.

{Continua…}

Leia a segunda parte do texto aqui