IDE.

“Havendo ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana, apareceu primeiro à Maria Madalena, da qual expelira sete demônios. E partindo ela, foi anunciá-lo àqueles que, tendo sido companheiros de Jesus, se achavam tristes e choravam. Estes, ouvindo que ele vivia e que fora visto por ela, não acreditaram. Depois disso, manifestou em outra forma a dois deles a caminho para o campo. E indo, eles o anunciaram aos demais, mas também a estes dois eles não deram crédito. Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, porque não deram crédito aos que o tinham visto já ressuscitado. E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem quer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado […] De fato, o Senhor Jesus, depois de ter falado foi, recebido no céu e assentou-se à destra de Deus. E eles, tendo partido, preparam em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam.” (Marcos 16:9-20)

Acho interessante a forma como a Bíblia nos revela a verdade nua e crua. Ela não maquia acontecimentos e nem oculta os “podres”. Lembro que no Ensino Médio, fiquei impressionada quando li o livro “O Cortiço”, ele apresenta a degradação do ser humano, a leitura é tão realista que causa certo desconforto. A Bíblia por vezes também nos causa desconforto, ela não oculta a realidade dos fatos e isso incomoda alguns cristãos, muitas pregações se tornam politicamente corretas para não escandalizar os ouvintes (ou fregueses). Muitas pessoas preferem ter uma visão heroica dos discípulos: homens valentes e cheios de fé que andaram com Jesus, e dotados de conhecimento e etc. Mas basta ler as narrativas para descobrirmos que desde o início, a Bíblia nos mostra homens incrédulos (Mt 8:26) e relutantes (Mt 14:27-31), culturalmente preconceituosos (Jo 1:46, 4:27) medrosos (Mc 6:45-52), homens que na maior parte do tempo, não faziam a mínima ideia do que Jesus estava falando (Jo 13:28) e não se diferenciavam em nada da grande multidão e nem mesmo dos fariseus (Mc 8:14-21). Eles eram tão julgadores quanto os demais (Mc 10:13-14), por vezes estavam mais preocupados em discutir qual deles era o mais importante (Mc 10:41-45), enfim, eram homens comuns e miseráveis que não possuíam nada de extraordinário, pelo contrário, deixavam MUITO desejar. Jesus teve que ter uma dose SANTÍSSIMA de paciência com eles. E talvez você pergunte: “como Jesus chamou homens assim para serem seus discípulos e exemplos para o mundo?” E eu respondo, pela mesma razão que Ele escolheu a mim e a você! Porque, por mais difícil que seja reconhecer isso, sabemos que somos iguais ou piores. Cheios de dúvidas, mesmo depois de termos visto o poder de Deus se manifestar em nossas vidas tantas vezes. Com medo de que não haja pão para amanhã, mesmo tendo visto o Senhor multiplicar e dividir o pão tantas vezes. Temos nossos preconceitos, queremos ser reconhecidos por aquilo que fazemos ao invés de trancar a porta do quarto; Mesmo convertidos há tantos anos, lemos a palavra e não entendemos o que Deus está falando, continuamos cegos.

Esse relato de Marcos é MARAVILHOSO, é incômodo, no entanto, Deus não se incomodou em deixá-lo disponível para nós em sua Palavra, certamente porque Ele tem algo a nos ensinar.

Marcos narra um momento muito tenso na vida dos discípulos. Aqueles “GRANDES” homens de Deus, prontos a desbravar o mundo levando a mensagem (?) estavam escondidos, talvez alguns deles até dispersos. Provavelmente experimentavam um misto de sentimentos, desconsolo, medo, frustração. Eles haviam confiado suas vidas àquele que disse ser o Messias prometido, no entanto, Ele fora vergonhosamente morto, através da cruz, símbolo de desprezo para todo judeu, enfrentando a pior morte possível. Será que todo aquele discurso não passara de uma mentira? Será que aquele homem com quem conviveram e aprenderam tanto não passava de uma farsa? E agora? Todas as suas esperanças haviam caído por terra. Eles não sabiam o que seria agora, talvez o melhor caminho era cada um tomar o seu rumo, ou quem sabe esperar por um novo acontecimento, será que aquela conversa estranha sobre ressurreição poderia ser real? Seria muita loucura da parte deles esperar por isso. Então, lá estavam eles reunidos na manhã do primeiro dia da semana, tristes, chorando, cada um com suas incertezas.

Enquanto isso, uma “ex-endemoniada” recebe a visita de Jesus ressuscitado. Entre tantos, Jesus escolheu aparecer primeiramente para uma mulher, socialmente desvalorizada, mas preciosa aos olhos do Senhor. Esta não perdeu tempo e correu anunciar aos discípulos: “O Mestre está vivo, Ele ressuscitou! Eu o vi!”. Essa era a melhor notícia do mundo. Imagine você, receber tal notícia após ter perdido um ente querido?  Quão boa notícia é saber que aquele que você pensava estar morto na verdade vive!

Em I Coríntios 15, Paulo diz que se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé, logo, não há esperança para os que ainda vivem e para os que já morreram, pois se a nossa esperança em Cristo é só para esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.

Saber que Jesus estava vivo era a maior notícia que os seguidores de Cristo poderiam receber, a ressurreição de Cristo é a garantia da nossa ressurreição e vida eterna. Se Jesus não tivesse ressuscitado, aqueles três anos teriam sido em vão e eles, assim como nós, seriam os mais miseráveis de todos os homens porque confiaram sua vida a uma ilusão. Mas GRAÇAS a Deus, Ele ressuscitou! Porém, os discípulos não receberam essa notícia assim. Voltando ao relato de Marcos, aqueles homens reagiram com apatia, pobre mulher, talvez tenham dito a ela que suas palavras eram consequência de suas emoções abaladas, das noites insones, de sua fragilidade feminina. Um devaneio beirando a loucura?! Eles não creram.

Mas Jesus não se limita à nossa falta de fé, Ele faz o quer a quem quer, com ou sem o nosso consentimento (essa ideia romantizada do Jesus limitado a nossa permissão e boa vontade, é uma ofensa à Soberania de Deus), assim, Ele se manifestou a outros dois discípulos que estavam a caminho do campo, porém, nem mesmo estes obtiveram sucesso em convencer os demais discípulos incrédulos acerca de sua ressurreição.

Jesus poderia ter desistido desses homens e eles seriam culpados de sua incredulidade, no entanto… Ah, mais uma vez o Senhor vem atrás de nós, seu pequeno e frágil rebanho. Os discípulos não partiram em busca do Cristo ressurecto, se dependesse deles, continuariam exatamente onde estavam e logo tudo isso seria esquecido. Mas Jesus tinha começado algo na vida daqueles homens e aquele que começou a boa obra é Fiel para completá-la em quem quer que seja, no pior dos pecadores, no mais incrédulo, Cristo vai ao encontro dos seus, ainda que entre eles esteja aquele que o negou três vezes, ou aquele que mesmo vendo não creu e precisou tocar. Não importa. O Salvador do mundo não veio para chamar justos, mas pecadores ao arrependimento. Portanto, se você é um, puxe uma cadeira e junte-se a nós!

Mas quando Jesus foi até eles, não pense que tudo acabou em pizza, Ele vem até nós, mas Ele não tolera o nosso pecado, Ele não passa a mão na cabeça e entende que o medo foi maior que a minha fé e “pobre de mim”. Não somos dignos de pena, pois por pior que seja a situação o cristão deve crer e continuar crendo. Não há nada que justifique o nosso pecado.

“Censurou-lhes a incredulidade e a dureza de coração”

O Senhor nos alcança mesmo quando estamos no pior momento das nossas vidas, mas quando Ele vem é hora de colocar a casa em ordem; é hora de mudança. Quando os pais não estão em casa, os filhos fazem o que querem, bagunçam, dormem tarde, comem bobeira, mas quando chegam os pais, eles anunciam que acabou a bagunça.

“Eu estou vivo e esse rebanho tem pastor”

O que mais me surpreende nesse texto é que Jesus tinha razões suficientes para abandonar aqueles discípulos, eles só foram capazes de mostrar o quão indignos eram de ser chamados de amigos, o quão despreparados estavam para cumprir o chamado de Deus. Será que Jesus não se precipitou na escolha daqueles homens? Será que não teria sido melhor ter escolhido a outros? NÃO, pois eram exatamente aqueles que Deus queria usar, porque Deus não escolhe os fortes, mas os fracos, Ele não escolhe os melhores, mas os piores, os que nunca são chamados, os que nunca são escolhidos. Lendo esse relato, eu tento me colocar no lugar dos discípulos naquele momento, creio que quando Jesus começou a lhes falar, eles estavam com as pernas bambas. Qualquer sentença de condenação contra eles seria mais que merecida, talvez naquele momento eles tenham se sentido como a mulher pega em adultério, ela estava aguardando uma chuva pedras. Quantos de nós já não pensamos que dessa vez não haveria perdão para nós? Que chegamos tão fundo, que o Senhor não estenderia sua misericórdia?! Porém, ali Jesus estava mostrando a eles o verdadeiro significado da ressurreição, Jesus não ia condená-los, eles haviam sido perdoados na cruz. É como se Jesus lhes dissesse: “Eu estou aqui porque vocês foram perdoados”. Eis a boa nova! Todo o pecado daqueles que creem, toda ofensa, toda culpa, toda vergonha foi removida em Cristo! Então, Jesus se vira para esses onze homens (e um segredo que deve ser revelado ao mundo, a saber, a boa nova) e diz: “Ide e anunciai ISTO ao mundo”.

Mas Senhor, Tu disseste agora mesmo que somos incrédulos e duros de coração, como esperas que preguemos a TUA Palavra?! Isso é IMPOSSÍVEL.

SIM, é impossível mesmo, eu bem o sei, mas o que é impossível para o homem não é impossível para Deus.  

E Marcos diz no v. 20 que aqueles homens medrosos partiram e pregaram em toda a parte, curando, expelindo demônios e operando muitos sinais. Uau, geralmente essa é a parte que as pessoas leem e ficam admiradas com a coragem dos discípulos e se sentem animadas, mas antes que você feche a Bíblia, Marcos chama a nossa atenção para um detalhe: “[…] o Senhor é quem cooperava com eles”. A palavra grega utilizada por Marcos é SYNERGÉO (raiz da palavra sinergismo), que significa: trabalhar junto, ajudar no trabalho, ser parceiro no labor, empenhar energia em conjunto para ajudar, ou seja, era a mão deles que tocava, mas era a força do Senhor que movia. Acaso não é este o chamado de Deus para cada um de nós, ser cooperadores com Cristo? Deus não nos chama para fazer coisas extraordinárias, Ele nos chama para sermos o meio pelo qual ELE fará coisas extraordinárias. Nosso problema é pensar que o chamado tem a ver conosco; com aquilo que NÓS vamos fazer, assim, nos lançamos pretensiosamente, até que nos deparemos com nossa total incapacidade e então, desistimos. No entanto, justamente aí é que deveríamos perceber que Deus não nos chamou para sermos operadores e sim cooperadores, que a “estrela do show” não somos nós e sim Ele. Se Ele nos deixasse trabalhar sozinhos, a missão estaria fadada ao fracasso. Geralmente, quando pensamos em homens e mulheres “DI DEUS”, como alguns enfatizam, visualizamos uma personalidade forte e heroica, não é de se espantar que até mesmo o profeta Samuel pensasse assim quando foi à casa de Jessé ungir aquele que seria o rei de Israel e viu Eliabe irmão de Davi, ele parecia ter O porte, mas como bem se sabe, Deus escolheu aquele que estava esquecido lá no campo cuidando de ovelhas. Deus chama pessoas incapazes e os usa para Sua glória, mas não sem antes de corrigi-los e purificar, assim como fez com seus discípulos.

Quando olhamos a lista de convidados para compor a mesa do rei, ficamos chocados (porque inclusive, nós estamos nela!).

“Sai depressa para as ruas e becos da cidade e traze aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos” (Lc 14:21)

Se a genealogia da família de sangue de Jesus já era comprometedora, imagine a da família espiritual, tem todo tipo de gente que você pode imaginar e GRAÇAS a Deus por isso, pois aqui estamos nós, sem mérito algum. E é a estes que Jesus diz: Ide e pregai.

Quanto mais eu leio a Bíblia, mais eu me convenço que ela foi feita para mim, mais eu penso, eu estou no lugar certo, eu me uno a esses homens e mulheres que não tem nada de valor em si mesmos e por isso mesmo foram chamados, para que a glória seja somente dEle!

Talvez, você seja como os discípulos, mesmo depois de caminhar com Cristo por tanto tempo, você se vê tão frágil, inseguro, incrédulo, temeroso, confuso acerca de sua própria fé. Deus sabe disso, e Ele também sabe que você é a pessoa menos indicada para compor a sua mesa, ainda assim Ele é misericordioso para com os humildes de espírito, para com aqueles que confessam os seus pecados e os depositam aos pés da cruz, confiados tão somente na sua benevolência.

Eu sou prova viva disso e a minha oração é que você também seja! Hoje Deus nos chama para testemunhá-lo, pois os nossos pecados já foram apagados! IDE.

Deus abençoe

No Amor de Cristo

Prisca Lessa