Geração Tinder: quando o desejo se torna um ídolo

Ao longo de toda a narrativa bíblica, podemos observar que não era raro os filhos de Deus serem, mesmo que por um período curto, puxados pela cultura e pelo comportamento social de sua época. Vemos isso, por exemplo, no contexto de Juízes, no qual a impiedade e o pecado imperavam diante do povo escolhido de Deus.

Bem, você irá concordar que nós também sofremos as mesmas tentações, a saber, de darmos demasiada atenção às vozes do nosso próprio tempo. Você também vai concordar que existem muitas vozes dizendo muitas coisas com aquele tom de “essa é a verdade última sobre determinado tema”.

Nesse sentido, o fato de estarmos na era da comunicação e do mundo digital, tem nos levado a muitas mudanças em todas as áreas da vida. E, como estamos observando, nossas relações sociais também foram impactadas, ou seja, é fácil admitir que a internet mostra novas maneiras de lidar com a realidade, que já foi menos complexa em outros momentos. Um dos exemplos é essa onda de aplicativos de relacionamentos e, sendo mais específica, citando um em destaque: o Tinder

 Esse aplicativo, lançado em 2012, conta com mais de 50 milhões de usuários. Ele basicamente funciona através de matchs, que é quando dois usuários possuem interesse um no outro e são direcionados para um ambiente de conversa para se conhecerem melhor.

Preciso admitir que fiquei assustada quando, ao pesquisar sobre esse app, vi o quanto ele pode influenciar o comportamento humano (levando a um culto da aparência e da superficialidade). Ou seja, ele influencia negativamente o modo como homens e mulheres lidam com sua própria imagem e, ainda mais, o quanto ele tem poder até para bagunçar algumas das funções de nosso cérebro ao nos transformar em usuários viciados na incessante sensação de nossas descobertas e possibilidades!

Mas, isso não é o pior. Apesar desses fatos nos causarem espanto, precisamos estar cientes de que, sim, essa realidade pode estar se arrastando aos poucos para o contexto do povo de Deus, como no tempo de Juízes, o qual é tristemente conhecido como um período conturbado onde aqueles que deveriam ser separados estavam tão corrompidos quanto as outras nações. 

Se você é uma mulher casada, ou está namorando, talvez o Tinder nem pareça uma ameaça, mas ele pode impactar a vida de irmãos à sua volta, por isso, como parte do Corpo de Cristo, precisamos refletir um pouco mais sobre esse tema.

Em primeiro lugar, é válido dizer que, por vezes, entre os cristãos, existe o mito da prosperidade emocional. Esse mito é implantado, de maneira aparentemente inocente, afirmando que jovens precisam se casar e logo, pois só no casamento eles alcançarão o último e maravilhoso estágio de satisfação emocional e propósito de vida. Então – digo isso como uma mulher solteira –, parece-me que, mesmo nas igrejas, há um jogo de quem vai “desencalhar” mais rápido!

Com isso, muitos jovens são levados a essa angústia pelo par ideal, pois essa parece ser a solução de todos os problemas. Em consequência, eles sentem medo do futuro e da incerteza de quanto tempo irão levar para encontrar esse alguém especial. Nesses conflitos que bagunçam a cabeça do solteiro, o Tinder pode parecer uma opção (desesperadora e errada), bem plausível naqueles casos em que na sua igreja e no círculo social não parece haver um pretendente em potencial.

Ok, talvez você possa pensar nessa possibilidade como algo muito distante da realidade… bem, talvez seja. Agora, existe algo que realmente me preocupa: Será que nossos jovens estão sendo instruídos quanto às influências não cristãs na área dos relacionamentos? Influências, as quais estão bebendo de fontes como esses aplicativos, os quais exaltam apenas a superficialidade e o sexo casual. Estamos cientes dessa possibilidade?

A verdade é que, como a Bíblia afirma, a boca fala do que o coração está cheio (Mt 12:34) e, diante dessas novas maneiras de se relacionar, as pessoas não cristãs, com suas ideias deturpadas podem ser instrumentos para bagunçar a mente de uma juventude cristã que, às vezes, está mais preocupada em ter um namoro do que em estar satisfeita em Cristo e glorificar a Deus com tudo. 

Em decorrência dessa influência, podemos estar caminhando para uma geração que, em contato com toda essa impiedade – que é fortalecida pelo Tinder – corre sérios riscos de se tornar desnorteada. Estariam nossos jovens caminhando para uma ideia de que relacionamentos são superficiais, feitos para satisfazer egos e um fim em si mesmos? 

O modo Tinder de pensar só reforça essa mentalidade egocêntrica, seus usuários tendem a manipular a realidade para aparentarem ser mais atraentes e, na maioria das vezes, só estão buscando um encontro que possa terminar em sexo casual, algo totalmente contrário ao princípio de santidade ordenado a nós nas Escrituras (1 Ts 5:22; 2Tm 2:22; Ef 5:3 ).

Precisamos instruir nossos adolescentes, jovens e até adultos. Compartilhar com amor e urgência as verdades imutáveis de quem é o Deus zeloso, o qual servimos. Instigar nossos homens e mulheres a se tratarem com zelo e respeito e encorajá-los a confiar no Pai que ama dar boas coisas aos Seus filhos. Podemos descansar sabendo que o desejo legítimo de casar ocorrerá conforme a permissão dEle. E com certeza, devemos mostrar esse padrão a uma sociedade cada vez mais “ensimesmada”.

Precisamos ser corajosas no Espírito Santo e lutar pelo Reino e por nossos irmãos, que estão na igreja, mas, ainda não desfrutam plenamente das verdades eternas desse Rei.

Podemos fazer isso juntas?

Por Sammara Cristina