Falando de solteirice para mulheres cristãs

A vida de uma mulher solteira, muitas vezes, é marcada por altos e baixos, que podem variar entre uma vida de fé inabalável, e sentimentos de medo: da solidão e da não realização. Muitos desses medos são frutos de mitos que vamos colecionando ao longo da vida.

MITOS SOBRE O CASAMENTO

Nossa cultura está permeada de mitos sobre o casamento, mitos que atormentam e tiram o sono de muitas mulheres. Quero mencionar alguns deles:

Mito do casamento como estado final da vida

Este mito apresenta o casamento como um pódio, o resultado após o fim da corrida de toda uma vida, o lugar que todos almejam alcançar. Nele, o casamento é visto como um troféu concedido àqueles que chegaram lá.

Mito do casamento como estado de completude

Este mito apresenta a ideia de que sem o casamento você está incompleta, você é apenas uma metade, precisa encontrar sua alma gêmea, a metade da laranja ou a tampa da panela para que, enfim, possa estar realizada.

Mito da pessoa especial

Existe uma pessoa especial que Deus separou, entre muitas, para você. Ao longo da vida você precisa buscá-la até encontrar.

Mito do casamento como recompensa

Este mito afirma que para receber a pessoa especial, antes você precisa SE TORNAR uma pessoa especial. Quem nunca leu a frase “Não corra atrás das borboletas, plante um jardim para elas”. A frase é até bonitinha, mas, se aplicada à esfera dos relacionamentos amorosos, traz a ideia de que você PRECISA ser um jardim bem bonito se quiser atrair alguém. E a grande cilada disso é que SE não aparecer nenhuma “borboleta” eu posso concluir, então, que o Criador de todas as coisas é injusto, pois não recebi o que merecia, ou que eu não consegui me tornar um jardim bonito o bastante para atrair alguém.

O Mito da perfeição como critério para o casamento

Assim como o mito da recompensa, este mito traz a ideia de que o casamento é concedido somente àqueles que estão “prontos”, aqueles que concluíram todas as etapas, amadureceram o bastante e agora já têm maturidade suficiente para se casar. Com isso, não quero dizer que a maturidade não seja importante para o casamento, apenas que o casamento não é evidência de maturidade.

O Mito do “Felizes para Sempre”

O mito de que o propósito do casamento é felicidade e realização pessoal tem feito com que muitas mulheres solteiras acreditem que não podem ser verdadeiramente felizes sem um marido. Aquelas que se casam, acabam levando essa visão para o casamento e se deparando com muitas frustrações e desilusões. A triste realidade, mesmo dentro de nossas igrejas, é que muitos casais se divorciam sob a alegação de que não estão felizes. É claro que se você se casa acreditando que o propósito final do casamento é  sua felicidade e realização, inevitavelmente, no primeiro momento em que o casamento não puder prover isso, você não pensará duas vezes antes de abrir mão dele e ir em busca de sua “verdadeira felicidade”. O mito do “Felizes para Sempre” produz pessoas idólatras. Seu ídolo é a felicidade e elas estão dispostas a tudo para obtê-la.

E mesmo para aquelas que ainda não se casaram ou não se casarão esse mito é nocivo, pois trilha um caminho de infelicidade ao fazê-las acreditarem que o “Felizes para Sempre” é a realidade do casamento, uma realidade que lhes está sendo negada por Deus. Elas estão batendo à porta da felicidade, mas ela, simplesmente, não abre. Como cristãs, nossa visão de casamento deve ser pautada nas Escrituras, não em contos de fadas. Se buscarmos encontrar a felicidade em nossos relacionamentos humanos, seja dentro ou fora do casamento, encontraremos frustração, pois a verdadeira felicidade só pode ser encontrada em um relacionamento real com Cristo.

O que cada um desses mitos tem em comum? Vocês conseguem identificar? Em seu cerne, cada um deles traz a ideia de mérito, como se o casamento fosse um prêmio para aqueles que foram bons meninos e meninas. Como se o casamento fosse a estrelinha de bom comportamento que Deus concede a seus alunos preferidos. Quão nocivos e contrários ao Evangelho são esses pensamentos! Quando semeados em nossos corações eles produzem medo, incredulidade, dor e assombro.

UMA VISÃO BÍBLICA SOBRE O CASAMENTO

Ao contrário do que possa parecer, Deus não enxerga a solteirice como a condição de alguém que não atingiu nota suficiente para passar de ano, pelo contrário, a solteirice é uma oportunidade de encontrarmos Deus e glorificarmos a Ele em nossa solitude. 

Como cristãs, precisamos compreender tanto a solteirice quanto o casamento em termos bíblicos. Não há como viver plenamente como uma mulher solteira sem que haja uma visão clara e definida sobre o casamento, e não há como viver plenamente como uma mulher casada sem que haja uma visão clara e bíblica sobre o casamento. Infelizmente, a maioria de nós mulheres, chega à adolescência e à vida adulta com a mente permeada de ideias equivocadas sobre o casamento. É importante destacar que essas ideias equivocadas vêm tanto de dentro quanto de fora da igreja. Para evitarmos esses equívocos precisamos permear nossa mente com aquilo que a Escritura diz a respeito disso.

  1. O primeiro aspecto da visão bíblica sobre o casamento é de que o casamento é temporário. Por maior bênção que possa ser, o casamento é transitório e não é o fim último da vida, ele aponta para uma realidade vindoura perfeita. Um dia, o casamento, tal como o conhecemos deixará de existir (Lucas 20:35 – 36). Aqui deixo uma ressalva, alguns estudiosos discordam da visão de que o casamento seja algo temporário, somente para esta vida, contudo, essa é a visão na qual eu creio e baseio minha compreensão nisso.
  2. A segunda visão clara e bem definida que precisamos ter sobre o casamento é a de que ele aponta para Cristo e sua gloriosa relação com a igreja. Definitivamente, o casamento não é sobre a união entre dois pecadores, mas entre um povo pecador e um Deus que é Santo (Efésios 5:21 – 33). O casamento Temporário, ao qual podemos ou não experimentar nesta vida, apontam para a realidade última de nossa existência: nossa união plena e perfeita com Cristo. 

Essas duas visões se complementam e nos ajudam a compreender que Cristo é, de modo perfeito, o único cônjuge que pode trazer real sentido e valor às nossas vidas. E, o ponto alto dessa compreensão é que, embora a vida cristã não se resuma à espera por um casamento temporário, podemos, sim, afirmar que a vida cristã é a espera pelo real casamento que dará sentido às nossas vidas: Cristo e sua Igreja.

Quando corrigimos nossa visão sobre o real sentido do casamento, Deus nos capacita a destronar tanto o ídolo da independência e autonomia quanto o ídolo do casamento como o fim último de todas as coisas.

O PERIGO DA IDOLATRIA

Tanto a solteirice quanto casamento podem ser ídolos em potencial, dependendo da forma como lidamos com eles. Todas nós, em algum momento da vida, precisamos questionar nossas motivações em querer casar-se ou permanecer solteiras, a fim de descobrir se essa motivação é bíblica ou puramente hedonista.

A igreja tende a enfatizar o casamento ao ponto de, inconscientemente, marginalizar os solteiros. De modo geral, a solteirice é vista como um problema a ser resolvido. Se alguém com mais de 25 ou 30 anos permanece solteiro, seja por opção ou pelas circunstâncias, as pessoas logo começam a tentar diagnosticar o problema, que vai desde:

– Orientação sexual;

– Aparência;

– Capacidade intelectual;

– Inaptidão social;

– Padrões excessivamente elevados;

– Entre outros.

Diante de toda a ênfase dada ao casamento, cristãos, de modo geral, raramente consideram a possibilidade de que permanecer solteiro algo aceitável ou, em alguns casos, até mesmo, desejável.

À medida que o tempo vai passando, e o casamento não se torna uma realidade, o desejo de se casar começa dar lugar ao descontentamento, ansiedade e insegurança. A mente passa a ser atormentada por pensamentos de desânimo, autocomiseração, ingratidão e inveja. A esses pensamentos chamei de “pensamentos secretos de uma mulher solteira”. Quero compartilhar alguns deles com vocês:

  1. Há algo de errado comigo;
  2. Estou fora da vontade de Deus; Deus está me punindo por pecados que cometi ou tenho cometido;
  3. Deus está me impedindo de casar porque não sou capaz de lidar com o casamento e as relações familiares;
  4. Sou um fracasso como mulher porque não consigo atingir o “próximo degrau” da escada da vida;
  5. Eu não sou amada;
  6. Eu não sou amável;
  7. Se fosse casada tudo seria diferente, minha vida seria melhor;
  8. Eu cresceria mais como cristã se tivesse um bom marido para me ajudar espiritualmente;
  9. Deus é injusto, Ele está me castigando;
  10.  Tenho sido fiel a Deus, mais do que minhas amigas que já se casaram.

Em cada pensamento secreto encontramos a frustração de um ídolo não atendido. Elas escondem em seu âmago falta de contentamento em Deus, uma visão deturpada de quem Ele é, um senso de justiça própria, orgulho, ingratidão, autocomiseração, sem citar outros pecados que poderíamos mencionar.

Por outro lado, influenciadas por uma cultura que idealiza a solteirice e a independência, muitas mulheres têm tornado a liberdade pessoal e a autonomia o objetivo supremo de suas vidas. Para muitas, o medo da submissão, o medo de se sentirem anuladas no casamento associados à luta para provar a sua capacidade, conquistar um status social, têm se tornado mais desejáveis que o casamento.

No fim das contas, tanto aquelas que vêm o casamento como o fim supremo de suas vidas, quanto aquelas que vêm a liberdade e a autonomia como seu alvo principal estão lidando com o mesmo ídolo: a satisfação do EU. Em ambos os casos a glória que deveria ser dada somente a Deus está sendo desviada e direcionada a deuses falsos que prometem uma satisfação inatingível.

Infelizmente, influenciados pela cultura hedonista homens e mulheres cristãos têm desprezado o casamento, optando por permanecer solteiros, não para servir mais e melhor ao Reino, mas para manter seus padrões hedonistas de consumo. Eles se recusam a assumir responsabilidades e a limitar suas liberdades. Contudo, em muitos casos, tal escolha não se baseia na falta de interesse pelo casamento resultante da capacitação Divina para servirem a Deus e se manterem puros. Lamentavelmente, muitos destes que desprezam o casamento têm sido escravizados por pecados sexuais, se alimentando de uma forma profunda de egoísmo e falta de amor. Ao invés de oferecerem seus corpos em sacrifício vivo dentro do matrimônio, com todas as implicações que ele traz, estes preferem oferecer seus corpos ao pecado e satisfazendo a si mesmos.

Quando compreendemos a solteirice como um dom de Deus deixamos de enxergá-la como um tipo de licença premium para vivermos para nós mesmas, buscando nossos próprios interesses, e passamos a encará-la como um chamado a servir, primeiramente, a Deus, e, ao próximo.

O SENTIDO ÚLTIMO DA SOLTEIRICE

Não são raras as vezes em que a solteirice é definida como um período de espera. Uma espera lenta, angustiante e improdutiva. Algo bem próximo à imagem de uma princesa recostada à janela de seu castelo à espera do príncipe encantado; ou à imagem de uma jovem sozinha sentada olhando para o horizonte, aparentemente, sem nenhum propósito em vista. Contudo, a solteirice não é um chamado à passividade, nem deve ser encarada como um fardo indesejável que Deus nos impõe. Cristo deseja que sua vida seja muito mais do que a imagem de alguém esperando chegar o número de sua senha para ser chamado.

Não precisamos valorizar a solteirice em detrimento do casamento, nem o contrário, pois, há lugar para ambos na dinâmica do Corpo de Cristo. Em 1 Coríntios 7:8, o apóstolo Paulo escreve: “Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu.” Paulo afirma que a solteirice é algo bom e não ruim, por estar solteira não significa estar sozinha, ao menos, não para aqueles que são parte do Corpo de Cristo e pertencem a uma família muito maior do que qualquer família representada por laços de sangue. Esta é a visão bíblica para a solteirice.

Uma mulher solteira deve ser capaz de encontrar alegria e contentamento na condição em que se encontra, lembrando que todo cristão é chamado a isso. Contentamento nada mais é do que estar satisfeito em Deus, e a Bíblia nos mostra que casamento – veja Lia; filhos – veja Raquel; riquezas e sabedoria – veja Salomão, não são alicerces para o contentamento, Deus é.

Assim como o casamento, a solteirice também é uma oportunidade de testemunhar o evangelho da graça de Deus. Jesus afirmou que não haverá casamento na nova Criação (Mt 22:30). Lá viveremos a realidade perfeita e desejável do casamento com Cristo. Uma mulher solteira que encontra em Cristo alegria e contentamento para desfrutar de sua solteirice dá testemunho da realidade vindoura.

Se por um lado, o casamento testemunha o padrão do evangelho da graça (ao representar Cristo e a Igreja), por outro, a solteirice deve ser encarada como um antegozo da realidade vindoura onde, não haverá necessidade de sol porque o Senhor brilhará em glória, e não haverá mais necessidade de casamentos pois toda a nossa fome de prazer e alegria será satisfeita nEle! Com isso, não quero dizer que os casados não vivam esta realidade, todos devemos vivê-la, contudo, algumas luzes brilham mais em determinadas condições, mas em todas elas Cristo está sendo glorificado à medida que nossas vidas apontam para Ele.

 Em Filipenses 4:11 – 13, o apóstolo Paulo, um solteiro, faz a seguinte declaração:

“(…) porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece.”

Essa é a maior declaração de contentamento e satisfação em Deus que uma mulher solteira pode testemunhar: Cristo é suficiente!

Que você viva a sua solteirice, não como um fardo, mas como uma antecipação da eternidade, da qual todas nós, solteiras ou casadas desfrutaremos.

E, assim como um casal cristão se casa motivado a glorificar de Cristo por meio do casamento, que cada mulher solteira seja ávida a expressar a glória da suficiência de Cristo já no tempo presente. Que a sua solteirice seja frutífera, e que sua vida possa testemunhar a beleza do viver em Cristo.

No Amor de Cristo

Prisca Lessa