Culto doméstico: o doce fluir de Deus para as famílias cristãs

Como filhos comprados por alto preço, todos os cristãos precisam ter em mente a consciência de que não mais pertencem a si. Todas as esferas da nossa vida, independentemente da posição social que ocupamos, devem apontar para a glória de Cristo. Sabemos, além disso, que o lar é o lugar em que dispomos a maior parte do nosso tempo, nosso principal campo missionário, e nele, tudo o que fazemos, da tarefa mais trivial à mais complexa, precisa transparecer que Deus é o nosso Senhor, e nós, apenas mordomos. Diante disso, é necessário reconhecer a importância do culto doméstico e todos os benefícios que ele traz consigo para a vida espiritual da nossa família.

Mas, afinal, o que é o culto doméstico?

O culto doméstico nada mais é que o momento em que a família, em submissão a Deus, reúne-se para ler a Palavra, meditar nela, cantar louvores e orar, como forma de adoração, que expressa uma realidade diária de um lar que glorifica a Deus. Em outras palavras, o culto doméstico é o fundamento para a formação e criação bíblica de pais e filhos crentes.

Qual a origem do culto doméstico?

Quanto à origem do culto no lar, pode-se concluir que ela se dá desde a constituição da família. Deus se relaciona com as famílias. Foi assim desde a criação do primeiro casal, no Éden (Gn 2), passando pelo episódio do dilúvio e a família de Noé (Gn 6:18), com Abraão e a instituição da circuncisão (Gn 17:23), e por meio de Josué e a declaração do serviço familiar (Js 24:14-15).

Também encontramos relatos no Novo Testamento, como em Pedro e o sermão do Pentecostes (At 2:17-18), os batismos em Atos, Lídia (16:15) e o carcereiro de Filipos (16:27-34), e ainda com o exemplo do jovem Timóteo, que foi convertido a Jesus por meio do testemunho de sua mãe, Eunice, e da sua avó, Loide (2Tm 1:5).

Toda a Escritura testifica sobre o relacionamento de Deus com famílias completas. Deus é um Deus de aliança; é o que costumeiramente cremos e professamos. O culto doméstico fez parte de toda a história da Igreja, e ouvimos relatos da prática preservada e indispensável entre os Puritanos. Em todos os séculos, o culto se fez presente nos lares dos crentes, e era inadmissível o fato de uma família cristã não o fazer.

Quais são algumas razões para fazermos o culto doméstico?

1. Somos administradores e mordomos da herança do Senhor: os filhos que Ele nos deu (Sl 127:3).

Essa é uma verdade incontestável. Os nossos filhos pertencem a Deus, e nós somos responsáveis por cuidar dessas almas que durarão eternamente. Apesar de não termos controle do resultado – a salvação de suas almas –, seremos julgados pelo que fizemos para instruir essas vidas no caminho da verdade. Esse fato deve ser suficiente para produzir em nós temor e ação, esforço e trabalho, muito trabalho.

Se Cristo é a motivação da nossa vida, devemos apresentá-lo para nossos filhos dia após dia, não esperando apenas o culto dominical para isso. Como diz um louvor infantil antigo, “a cada momento andando na presença de Jesus; ao sentar, ao levantar, ao dormir, ao despertar, e andando pelo caminho…”

Devemos viver além do agora, e compreender que o que é plantado nos corações na comunhão doméstica produz frutos para além, e nossos filhos serão as mensagens vivas do Evangelho em um tempo que nós não mais existiremos.

2. O culto familiar não só nos prepara para a adoração pública como também disciplina os nossos filhos para se adequarem a esse momento.

Devemos entender o culto doméstico como uma parte de um todo, que se constitui por: adoração pública, particular e em família. Se a adoração no âmago do lar for o motivo da existência de determinada família, a adoração dominical certamente será melhor entendida e desfrutada para a glória do Senhor por todos os membros desse lar. Além disso, nossos filhos terão mais prazer e reverência na casa de Deus, visto que cultuar é uma realidade da vida diária, não só um compromisso na agenda em um único dia da semana.

3. A forma como vivemos em nosso lar afeta a sociedade ao nosso redor.

Certa vez, um homem disse: “Assim como vai o lar, assim vai a Igreja, e assim vai a nação”. Às vezes, nos questionamos sobre a razão de vivermos em um país tão violento, injusto, corrupto e coberto de impiedade. Não podemos negar esses fatos, mas qual é a prioridade do seu lar? Deus está na sua casa? Não podemos cobrar piedade de uma sociedade que não conhece a Deus enquanto vivemos como ateus em nosso próprio lar. Por que as nossas igrejas são tão fracas espiritualmente? A resposta é simples: os nossos lares estão em ruínas pois Deus não é o nosso respirar e prioridade. Precisamos resgatar o culto doméstico.

Convictos da importância do culto doméstico, como estabelecê-lo? E quem deve participar?

“Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.” (Deuteronômio 6:6-7)

Primeiramente, é importante que o pai, como cabeça do lar, examine a realidade da sua família e adeque o culto doméstico conforme a rotina familiar. Esse passo evita frustrações e desistências.

Todos os membros da família são convocados a participar, mesmo bebês recém-nascidos ou idosos em idade avançada. Todos podem obter imensurável benefício espiritual desses momentos, uma vez que o culto no lar fixa nos corações o que é importante na vida e proporciona oportunidades de crescimento e bem-estar para as suas almas.

O ambiente em que o culto no lar pode ser realizado fica a critério da família: na sala de jantar, no quarto, na cozinha, em uma praça que os agrade. Não importa o lugar que vocês escolham, o importante é que a adoração seja uma realidade diária. O mesmo acontece com o horário, fica a critério da realidade de cada lar.

E, finalmente, quais são os elementos presentes no culto familiar? Geralmente, três elementos são indispensáveis: leitura das Escrituras, oração e cânticos. Quanto à duração, número de cânticos e orações, adequa-se ao tempo de que a família dispõe para adorar juntos. O mais importante é que os corações estejam dispostos a ter um momento em família para buscar o Deus de todas as coisas.

E se o meu marido não quiser fazer o culto doméstico?

Bom, talvez esse seja o maior empecilho com relação à não realização do culto doméstico. Isso pode acontecer em dois casos: (1) o marido é descrente ou (2) está passando por um período intenso de frieza espiritual e reluta para liderar o culto no lar.

Seja qual for o motivo, nós, como mulheres cristãs, conhecemos o ideal, isto é, a liderança masculina. Nem sempre, contudo, essa é a nossa realidade. Comece, então, orando a Deus, pedindo graça para que, em momento oportuno, todos os membros da sua família participem do culto doméstico. Não realizar o culto no lar não é uma opção. Chame seu esposo, docemente e sempre que puder, para participar com vocês. Se as negativas continuarem, persista em realizar o culto em submissão a Deus e creia que Ele é poderoso para conceder os desejos do seu coração. Continue, trabalhe para o Senhor que tudo vê e tudo pode, derrame o seu coração frequentemente diante dEle e confie. Seja sábia, não seja insistente até o ponto de chatear seu esposo. Às vezes, o convite dará lugar ao clamor. Derrame-se diante do Senhor e peça com sinceridade que a sua família esteja inteiramente no culto doméstico.

Não desista. O Senhor a fortalecerá e, certamente, a sua família verá “a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não serve” (Ml 3:18).

No amor de Cristo, alguém que luta diariamente para que os muros do culto doméstico sejam restituídos, primeiro, próprio lar,

Ana Carla Gomes

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Referências

MARCELLINO, Jerry. Redescobrindo o tesouro perdido do culto familiar. 2. ed. São José dos Campos: Editora FIEL, 2012.

BEEKE, Joel. Adoração no lar. 1. ed. São José dos Campos: Editora FIEL, 2011.