Compartilhando o Evangelho através da hospitalidade

Antes de mais nada, gosto de ir para a etimologia da palavra. Ali, no conceito, na raiz, conseguimos compreender com maior clareza o que determinado termo, de fato, significa.

Hospitalidade. No grego, “philoxenia“.

Philo”: Amor de amigo/irmão. “Xeno”: estrangeiro.

Em outras palavras, hospitalidade é amar aquele que é de outro lugar. Demonstrar esse amor com atos de serviço. Receber, acolher, cuidar. Há algumas coisas interessantes que podemos refletir, partindo daqui. A primeira é: Somos, todos, estrangeiros. Estamos vindo de algum lugar, a caminho da nossa pátria.

Porém, apesar de sermos estrangeiros, peregrinos nesta terra, desde que perdemos o acesso à nossa casa depois do pecado do primeiro casal, aqui, temos nosso lugar de refúgio. Do lado de dentro de um portão que só os moradores possuem a chave, amparados por quatro paredes, abrigados debaixo de um telhado. Independente se a casa é própria ou alugada. Se o piso é de madeira ou porcelanato. Se tem um, dois ou três quartos. É ali, onde a gente entra, depois que gira a chave na maçaneta, que estamos no nosso lugar. Todos os demais, que ficam do lado de fora, e que não possuem a chave de acesso, são estrangeiros.

E é ali dentro, na nossa casa, que temos a oportunidade de servir, em amor e sacrifício, quem mais amamos: A nossa família. Todos os dias, no lavar, limpar, cozinhar, podemos cuidar dos nossos. Mas será que isso já é o bastante?

A Bíblia, em várias passagens, nos fala da importância da hospitalidade (você poderá encontrar algumas referências no fim deste texto). Porém, a hospitalidade não pode ser vivida com os de dentro. Ela é, essencial e exclusivamente, vivida com os de fora. É quando abrimos a porta para o “estrangeiro” entrar, seja ele um vizinho da casa ao lado ou um imigrante de outra nação. Só que, nem sempre, isso é confortável.

Quem entra em nossas casas não verá apenas as paredes que um dia foram brancas, riscadas, mas conhecerá também um pouco do nosso coração. Ali, nossas fragilidades são expostas, seja na louça quebrada, na toalha de mesa manchada, ou no monte de roupa acumulado em cima do sofá há dias. Mas, não apenas as fragilidades externas, como também as internas. Seja numa resposta ríspida depois de um longo e cansativo dia ou numa reclamação por não ser compreendida da maneira que gostaria. Lembra das irmãs de Betânia? Marta, a diligente no serviço, ficou conhecida por ter levado a mal a maneira como sua irmã agiu. Ela abriu sua casa, mas também expôs seu coração. Talvez, essa seja uma das maiores barreiras que tenhamos em relação à prática desse princípio bíblico. Para além dos incômodos que podem ser gerados, temos que ter em mente o que, através desse ato, poderá ser alcançado.

O ato de ser hospitaleiro diz respeito a receber alguém, dando o melhor que você tem. Em épocas de mesa posta e louças luxuosas, podemos cair no engano de achar que servir com excelência tem a ver com bens materiais. Mas não tem. Eles podem entrar no pacote, sim, se essa for a sua realidade. Mas podem passar longe também, sem interferir em nada no que diz respeito ao que é hospitalidade.

Dar o melhor que você tem está relacionado àquilo que você possui de mais precioso, que dinheiro nenhum pode comprar, e traça e ferrugem não corroem. Tem a ver com a Verdade que você carrega, e deve compartilhar com o seu próximo, tanto em palavras como em atos de serviço.

A hospitalidade é intencional. É uma prática que você se dispõe a executar com um propósito maior. O de servir em amor aqueles que, outrora, eram estranhos, e que, potencialmente, podem se tornar irmãos na fé, através do repartir o pão e compartilhar do Evangelho enquanto você abre, não só as portas da sua casa, mas também, do seu coração.

Referências Bíblicas sobre a prática da hospitalidade:

Gênesis 18:1-8; 2 Samuel 9:1-11; Salmos 68:5-6; Provérbios 22:9; Isaías 58:7; Mateus 25:31-46; Atos 28:7-8; Romanos 12:13; Hebreus 13:1-3; 1Pedro 4:9.

Por Thainá Pereira.

Sugestões de leitura sobre o tema:

O Evangelho e as chaves de casa (Rosaria Butterfield)
Pensamentos secretos de uma convertida improvável (Rosaria Butterfield)