Você já se perguntou qual é o seu dom?

Como ser útil em sua igreja local, e se existe uma forma de descobrir? Será que todos possuem dons? É necessário saber o dom para servir? São tantas perguntas que rondam esse tema, e, apesar de haver muitas dúvidas, esse é um assunto muito discutido no meio eclesiástico, um ambiente em que todos são chamados a servir.

Afinal, o que é dom? A maioria dos autores usam o texto de 1 Coríntios 12 como base para defini-lo. O apóstolo Paulo inicia o texto demonstrando cuidado com a igreja de Corinto, desejando que os irmãos não sejam ignorantes em relação aos dons. E, ainda, o capítulo segue afirmando sobre a variedade dos dons e sobre seu propósito. A passagem cita diversos dons que vão dos mais falados, como o de ensino, até os menos, como o dom de ajuda ou de administração, por exemplo.

O autor Fred G. Zaspel explica que o termo “dons espirituais” vem do grego charisma – palavra raiz que significa “graça” – e ton pneumatikon, que é algo controlado ou caracterizado pelo Espírito. Em suma, dons são concedidos graciosamente pelo Espírito Santo, que servem para a edificação do Corpo de Cristo.

Qual é o papel dos dons?

Alguns intérpretes afirmam não haver uma lista exaustiva nas diversas passagens que mencionam os dons(por ex. Rm 12.6-8, Ef 4.11). Temos também outros textos que apresentam a variedade dos dons, e certamente há diferentes tipos, mas o Espírito é o mesmo. A diversidade de dons existe porque as necessidades são variadas, e Deus os distribui de acordo com a necessidade de cada igreja. Além do serviço, os dons devem ser um motivo de unidade e dependência mútua do corpo, assim como afirma o Catecismo de Heidelberg (pergunta 55), “primeiro: entendo que todos os crentes, juntos e cada um por si, têm, como membros, comunhão com Cristo, o Senhor, e todos os seus ricos dons. Segundo: que todos devem sentir-se obrigados a usar seus dons com vontade e alegria para o bem dos outros membros.” Dessa forma, os dons devem ser exercidos em função dos demais membros, sem motivações egoístas, mas debaixo do senhorio de Cristo. O autor Sinclair, no livro “O Espírito Santo: Esboço de Teologia Cristã” afirma “que os dons do Espírito servem como a manifestação externa do triunfo e entronização de Cristo.” Portanto, todos os membros do corpo possuem dons e são chamados a servir uns aos outros para a glória do Senhor da igreja!

Dons não são mérito próprio

Um dos equívocos que surge diante dessa discussão é que muitas vezes os dons podem ser vistos como sinal de mérito próprio ou relacionado a santidade. No entanto, piedade não tem relação com ter determinado dom. Esses são distribuídos livremente, de forma soberana. Na verdade, o destaque da manifestação dos dons não é neles em si, mas na Graça Daquele que os distribui.

Nesse sentido, em Romanos 12.3 Paulo adverte não ter de si mesmo um conceito mais elevado, e isso se aplica ao servir com os dons. Evidentemente, alguns dons são mais chamativos que outros, mas de modo algum devemos considerá-los mais espirituais. Todos os dons são necessários para o funcionamento integral e pleno do corpo. Absolutamente todos tem seu papel e lugar no Corpo de Cristo. Novamente, é muito importante ter em mente que são presentes dados de forma graciosa por Deus em Sua soberania. O Corpo depende e está submisso ao senhorio de Cristo, logo, devemos servir de forma humilde!

Como identificar os dons?

Talvez o maior questionamento em torno desse tema seja em como identificar seus dons. Na tentativa de resolver essa questão, alguns desenvolveram técnicas e testes que buscam ajudar nesse processo. Todavia, são ferramentas humanas e falhas que em muitos casos focam mais no dom em si do que no propósito dele, que é servir. Além disso, muitos irmãos, ao tentarem identificar seus dons, esperam vivenciar alguma experiência sobrenatural ou sinal, mas biblicamente a ordem é servir. Como participantes do corpo, é necessário sermos ativos na comunidade local. É natural que descobrir seu dom pode ajudá-lo a servir melhor, mas o jeito mais fácil de saber é servindo ativamente. E ainda, a igreja pode ser um instrumento que auxilie na identificação dos nossos dons e aptidões.

O autor Timothy Keller no artigo “Discerningand Exercising Spiritual Gifts” orienta que, para identificar os dons, é importante observar três aspectos: afinidade, habilidade e oportunidade. Esses fatores podem indicar que Deus o capacitou e chamou para algo em específico. Contudo, o autor deixa claro que na igreja local é necessário servir olhando o último aspecto – oportunidade -, buscando trabalhar conforme a necessidade. Mesmo que não haja tanta habilidade ou paixão, sirva!

Apesar de o foco do texto ser sobre os dons, ao ler as cartas aos Coríntios, Paulo inclui o capítulo 13 em meio ao tema dos dons, enfatizando que não tem valor sem o amor. O amor é o elo perfeito e este deve ser o que rege a nossa participação no meio dos irmãos. O autor Sinclair Ferguson afirma que o Novo Testamento enfatiza que o Corpo só é edificado quando há a presença essencial do amor no exercício dos dons. Se os dons são exercidos sem amor e humildade, seu propósito não é cumprido.Portanto, sirvamos uns aos outros em amor, submissos a Cristo e para a Glória de Deus! 

 Por Sara Reis

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