Como o pecado afeta a imagem de Deus em nós?

Quando lemos o relato da criação em Gênesis 1, vemos que, no sexto dia, Deus decidiu fechar Sua grande obra de arte com chave de ouro. Embora toda a criação revele a beleza e a glória do Criador, os seres humanos foram criados com uma capacidade especial de refletir os atributos de Deus. Gênesis 1:26-27 diz que Deus criou o homem e a mulher com uma característica exclusiva: serem imagem e semelhança Dele. Fomos criados para sermos um espelho que reflete a imagem de Deus. 

No entanto, ao lermos Gênesis 3, vemos que esse espelho foi quebrado e manchado pelo pecado, de modo que a imagem de Deus em nós se tornou distorcida, embaçada, quase irreconhecível. Mas, para entender de que maneira o pecado afeta a imagem de Deus em nós, precisamos compreender, primeiro, em que sentido fomos feitos à imagem e semelhança de Deus.

O que significa ser imagem e semelhança de Deus?

Ao criar o homem e a mulher, Deus decidiu imprimir neles algumas de Suas próprias características. Deus é um Ser espiritual e moral, capaz de expressar vontades, sentimentos e emoções. Os seres humanos são os únicos, dentre todos os seres criados, que também possuem essas características. Além disso, eles possuem a capacidade de refletir a santidade de Deus, e espelhar a Sua capacidade de governar o mundo com justiça e bondade. Deus criou o homem e a mulher para serem Seus representantes no mundo. Ele nos escolheu para sermos Seus vice-regentes, e nos deu a responsabilidade de sujeitar e dominar sobre a criação, de modo a refletir Seu caráter de Supremo Governador do universo, que exerce um governo justo e piedoso.

Mas, infelizmente, a capacidade de refletirmos os atributos de Deus de maneira perfeita não durou muito tempo. Em Gênesis 3, lemos o relato da Queda: o momento em que o pecado entrou no mundo, e toda a boa Criação de Deus foi corrompida, inclusive os seres humanos. A partir de então, a imagem de Deus em nós foi manchada pelo pecado, e a nossa capacidade de refletir Seus atributos foi afetada.

Como o pecado afeta a imagem de Deus em nós?

  • O pecado afeta nosso arbítrio

Um dos aspectos pelos quais somos feitos à imagem e semelhança de Deus é a nossa volição, ou seja, nossa capacidade de tomar decisões. Deus nos criou com livre-arbítrio, mas o pecado afetou a nossa capacidade de escolha. A partir do momento em que Adão e Eva pecaram, nosso poder de escolha foi corrompido, e nós nos tornamos escravos das nossas vontades e inclinações para o mal. Nosso arbítrio deixou de ser “livre” e passou a ser escravo do pecado. O mal que existe no mundo não vem de Deus, mas sim do poder de escolha que o homem exerce por meio de sua vontade. É do coração humano pecador que surgem a violência, os homicídios, a ganância, a inveja, a corrupção, a imoralidade sexual, dentre tantas outras coisas que nos causam sofrimento e miséria neste mundo.

Por ter tido sua capacidade de escolha afetada pelo pecado, o ser humano é incapaz de desejar qualquer bem espiritual por sua própria vontade, inclusive a salvação. O homem é incapaz de chegar à fé em Deus e se converter sozinho. O pecado trouxe a condição de morte espiritual para o homem e, uma vez mortos, somos incapazes de voltar à vida por nós mesmos. É necessária uma ação de Deus em nós para nos fazer nascer de novo, o que a Bíblia chama de regeneração. Por isso, sem a ação do Espírito Santo, é impossível que alguém se converta. 

  • O pecado afeta nossa moralidade

Outro aspecto pelo qual somos feitos à imagem e semelhança de Deus é o fato de sermos seres morais, capazes de agir com justiça, retidão, bondade e misericórdia, de modo a refletir os atributos de Deus. No entanto, o pecado afetou a maneira como agimos. Deus escreveu a Lei dele em nosso coração, mas, por causa da nossa natureza pecaminosa, somos incapazes de cumpri-la (Romanos 2:15, 3:20). Todos os seres humanos possuem um senso de justiça, uma consciência que nos acusa quando pecamos contra a Lei divina. Mas, ainda assim, nós  transgredimos essa Lei, pois os nossos desejos e afetos foram desordenados pelo pecado.

  • O pecado afeta nossas emoções

O fato de termos sentimentos e emoções também constitui um aspecto pelo qual nos assemelhamos a Deus. A Bíblia revela um Deus que tem emoções: Deus ama (1Jo 4:8; Jo 3:16; Jr 31:3), Deus se compadece (Sl 135:14; Jz 2:18; Dt 32:36), Deus se ira (Sl 7:11; Dt 9:22; Rm 1:18), Deus se entristece (Gn 6:6; Sl 78:40), Deus odeia (Pv 6:16; Sl 5:5; Sl 11:5), Deus tem ciúmes (Ex 20:5; Ex 34:14; Js 24:19), Deus se alegra (Sf 3:17; Is 62:5; Jr 32:41)… Portanto, nossas emoções foram criadas para refletir o caráter de Deus.

Porém, o pecado corrompeu os nossas emoções, de modo que não somos mais capazes de senti-las e expressá-las de maneira perfeita como o Senhor. Todas as nossas ações são marcadas por motivações pecaminosas, seja pelo orgulho, o egoísmo, a inveja, a lascívia, a ganância, a idolatria… de modo que até mesmo as nossas melhores obras são como trapos de imundícia aos olhos do Senhor (Isaías 64:6).

  • O pecado afeta nossa capacidade de representar Deus

Todas as emoções que fluem do nosso coração foram contaminadas pelo pecado. Por essa razão, o pecado também nos impede de exercer o papel de representantes de Deus como vice-regentes da criação. O pecado afetou nossa capacidade de dominar sobre as outras criaturas, e isso se revela no próprio momento da Queda, quando Adão falhou em sujeitar a serpente à sua autoridade. Por causa do pecado, toda a criação foi afetada, pois o homem é incapaz de dominá-la corretamente – como Deus, o Supremo Governador, domina. Ao invés de dominá-la com bondade, retidão e justiça, o homem governa a criação movido por seus desejos egoístas, gananciosos e perversos.

  • O pecado afeta nossos relacionamentos

Outro aspecto pelo qual somos semelhantes a Deus é o fato de sermos seres relacionais. O desejo de nos relacionarmos com outras pessoas tem origem no próprio Deus, pois Deus é um ser relacional. O Deus revelado na Bíblia é um Deus triúno: Ele é um Ser em três Pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo. As três Pessoas da trindade coexistem, desde a eternidade, em perfeita harmonia. Os relacionamentos humanos, portanto, foram criados para refletir o caráter relacional de Deus. Isso inclui, por exemplo, a nossa sexualidade. Mas o pecado afetou profundamente a nossa capacidade de nos relacionarmos com o outro, inclusive a maneira como exercemos a nossa sexualidade. O ser humano pecador transformou a boa dádiva de Deus em uma maneira de satisfazer seus próprios interesses egoístas, lascivos, pecaminosos, violentos e impuros. 

Em suma, o pecado corrompeu, sujou e manchou tudo o que Deus havia feito originalmente com o propósito de ser belo e santo. 

Cristo: Aquele que restaura a imagem de Deus em nós

Diante de toda a devastação causada pelo pecado, o evangelho é a nossa única esperança. Felizmente, a história da humanidade não termina na Queda. Ela prossegue para a Redenção providenciada em Cristo, e para a Restauração, quando Deus fará novas todas as coisas (Apocalipse 21:5).

Deus criou o homem para refletir sua imagem e semelhança, até que Adão, como representante da humanidade, caiu em pecado, fazendo com que a imagem de Deus em nós fosse distorcida. Mas Deus, em Sua graça e misericórdia, prometeu dar um Descendente à mulher que iria esmagar a cabeça da serpente e encerrar o domínio do pecado sobre o mundo (Gênesis 3:15). Esse Descendente é Cristo, o último Adão. A Bíblia diz que, da mesma forma que Adão foi o nosso representante no Éden e por meio dele o pecado entrou no mundo, manchando a imagem de Deus em nós; Cristo foi o nosso representante e substituto na cruz, e, por meio Dele, somos redimidos, voltando a ser conformados à imagem de Deus (1Coríntios 15:45-57, Romanos 5:12-17). 

Jesus Cristo viveu a vida perfeita que Adão, Eva, eu e você falhamos em viver. Mas Ele entregou a própria vida na cruz, tomando sobre si os nossos pecados, para que a vida perfeita Dele fosse imputada a nós. Quando cremos em Cristo, Ele não apenas cancela as nossas dívidas e apaga as nossas transgressões, mas também começa a nos transformar, nos santificar, e a restaurar a imagem de Deus em nós. Aquela imagem que havia sido manchada pelo pecado começa a se tornar cada vez mais nítida, conforme o caráter de Cristo passa a ser formado em nossas vidas. Por isso, “se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Coríntios 5:17).

Portanto, o evangelho se inicia com a má notícia de que todos pecaram, e que os efeitos do pecado foram catastróficos. Mas ele termina com a boa notícia de que Cristo é capaz de redimir tudo o que foi manchado pelo pecado: nossas vontades, afetos, emoções, sentimentos, relacionamentos… Cristo faz novas todas as coisas. Essa é a nossa esperança. 

Por Laisa Said