Como Jesus lida com o pecado

Onde tudo começou…

E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás. (Gênesis 2.16-17)

Após a criação de todas as coisas e também do homem e da mulher, Deus havia ordenado não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Ainda, o Senhor lhes deu um motivo: “certamente morrerás!”. Diante disso, a primeira ordenança de Deus ao homem demonstra uma das consequências do pecado, que é a morte (Romanos 6.23). Entretanto, logo em seguida, nos deparamos com um cenário catastrófico, onde o homem quebra a única lei ordenada por Deus, e toda a boa criação (Gênesis 1.31) é contaminada pelo pecado!

De acordo com o autor Herman Bavinck, em “As maravilhas de Deus”, o pecado já existia antes mesmo da queda do homem, quando uma parte dos anjos e o próprio diabo se rebelaram contra Deus sendo inflamados pelo orgulho, e por consequência foram mandados para o inferno (2 Pedro 2.4). No capítulo três do livro de Gênesis, vemos que o homem cai a partir de uma motivação externa: Satanás. Em forma de serpente, Satanás argumenta e distorce as palavras de Deus, colocando dúvida no coração do ser humano, mostrando a árvore de outra forma, trazendo a cobiça aos olhos (Gênesis 3.6). Sobretudo, o diabo ainda promete que ao comer do fruto, seriam como Deus (Gênesis 3.5). Assim como Satanás e seus anjos buscaram tomar o lugar de Deus, esse foi o motivo pelo qual o homem foi movido a desobedecer.   

O resultado da queda

Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si. Quando ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim. (Gênesis 3.7-8)

Após a queda, o homem sofreu consequências graves que afetaram todos os âmbitos da criação. As Escrituras dizem que os olhos humanos se abriram e sentiram-se envergonhados de sua nudez. Esse fato revela como a comunhão entre o homem e a mulher foi afetada, não apenas entre o casal, mas principalmente entre eles e o Senhor (Genesis 3.7-8). Dessa forma, o homem não teria mais acesso ao pleno conhecimento de Deus, pois, além de não haver mais comunhão, não havia mais retidão no coração humano, tornando-se totalmente depravado. O texto também afirma que o homem se esconde da presença de Deus. Consequentemente, o homem se vê numa posição de vergonha, culpa e medo, quebrando o relacionamento do ser humano com o Senhor. Porque Deus disse que, ao comer do fruto, certamente morreriam; após a queda, a morte física e a morte espiritual tornaram-se reais (Romanos 6.23)! Pelo fato de Deus ter feito um pacto com Adão, sendo ele representante de toda a humanidade, ao desobedecer a ordem divina, a queda nos coloca sob a maldição do pecado. O ser humano se torna inimigo de Deus, e, por justiça divina, merece ser condenado ao inferno (Romanos 1.18).

O que é pecado, segundo a Bíblia?

Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei. (1 João 3.4)

O autor Louis Berkhof, em “Manual de Doutrina Cristã”, explica de forma sistemática e fundamentada nas Escrituras o significado do pecado. Segundo o autor, o pecado é um tipo específico de mal, mas nem todo mal pode ser considerado pecado, como, por exemplo, uma doença. Além disso, Berkhof ainda argumenta que o pecado tem um caráter absoluto, ou seja, ou o homem está em comunhão com Deus ou em rebeldia, não há meio termo (Lucas 11.23).

Como dito anteriormente, o pecado afetou as relações entre os homens, mas afeta intimamente o relacionamento dos homens com a presença de Deus e Sua vontade. O pecado, acima de tudo, é uma transgressão à vontade de Deus (Romanos 2.12-15). Por ser um atentado contra o Deus Santo e sua Lei, o pecado tem a ver com a culpa, mas é também a corrupção inerente ao homem, de modo que ele já nasce com a natureza pecaminosa, praticando as obras da carne (Efésios 2.1-3). E, segundo as Escrituras, essa natureza pecaminosa está no cerne do homem: seu coração! É no coração que se encontram as motivações mais profundas, vontades, desejos e pensamentos (Mateus 15.19). Portanto, o pecado não está apenas relacionado a atos exteriores, mas a um estado natural do homem que se exterioriza em suas ações, palavras, pensamentos e motivações.  

Como Jesus lida com o pecado

Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo. (Mateus 5.22)  

Através da lei de Moisés, Deus deixou expressa sua vontade para o povo. Na carta aos Romanos, o apóstolo Paulo afirma que a Lei revela o pecado do homem e que, através dela, é conhecido o pecado que está no coração. Paulo também afirma que, se não houvesse leis, não haveria pecado, afinal, tudo seria permitido. Mas a lei é usada para mostrar que o homem é incapaz de alcançar o padrão da lei e, desta forma, está condenado à morte (Romanos 7.7-10).  

Ainda sobre a lei, as Escrituras narram diversos encontros de Jesus com os mestres da lei. Aqueles homens conheciam a lei de Moisés, de forma que buscavam aplicar as normas em práticas. Contudo, Jesus os chamou de “sepulcros caiados”, pois se preocupavam apenas com a aparência e não com o coração (Mateus23.27). O Mestre ainda orientou a forma correta de se compreender a lei, afirmando que aquele que cobiça uma mulher com os olhos, ou odeia seu irmão em seu coração, já pecou. Em outro momento também, os fariseus questionaram os discípulos por comerem sem lavar as mãos, desobedecendo uma tradição. Todavia, Jesus os chama de hipócritas, dizendo que os fariseus honravam ao Senhor com os lábios, mas seus corações estavam longe dele. Fundamentalmente, Jesus afirma que não é o que entra que contamina o homem, mas sim o que sai dele, pois é do coração que procedem as coisas más (Marcos 7.20-23). Pelo fato de o pecado estar enraizado no coração de todo ser humano, um conjunto de normas não é capaz de torná-lo bom e justo. A natureza pecaminosa no homem é semelhante a uma doença crônica e genética, sendo que todos os seres humanos já nascem sob essa condição (Salmos 51.5).

No capítulo oito de João, é narrada a situação em que uma mulher é pega em flagrante cometendo adultério. Numa espécie de armadilha, os fariseus indagam sobre o que Jesus faria, já que a Lei de Moisés ordenava o apedrejamento (João 8.5). Contudo, Jesus escancara a hipocrisia (Mateus 7.3) daqueles homens ao dizer “Aquele dentre vós que está sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra” (João 8.7). Nesse exato momento, os homens que estavam prontos para punir o pecado daquela mulher, se retiraram. O único que poderia condenar aquela mulher, disse “nem eu te condeno; vai-te, e não peques mais” (João 8.11). O Senhor Jesus agiu de misericórdia, perdoando aquela mulher, e, ao mesmo tempo, advertiu para que ela não pecasse mais.

As Escrituras nos dão orientações para o problema do pecado. A inata condição pecaminosa só pode ser revertida através da obra Daquele que se tornou pecado (2 Coríntios 5.21) para que Nele fôssemos declarados justos e santos diante de Deus! O Messias Perfeito foi encarnado e crucificado, e Nele foi imputado nosso pecado, sendo sacrificado em nosso lugar, nos livrando da morte espiritual eterna e sendo nosso Mediador. O Senhor Jesus afirmou que veio para aqueles que reconhecem o pecado!

Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores.(Marcos 2.17)

Pensando em aplicações práticas de como lidar com o pecado, primeiramente é necessário considerar sempre a seriedade do pecado, tanto em relação ao que ele revela sobre a corrupção do coração, quanto à sua consequência no relacionamento com Deus. É preciso lembrar também que, recebendo a solução do pecado em Cristo, como no episódio da mulher adúltera, não somos esmagados pela culpa do pecado, mas somos motivados a não pecar mais.

Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. (1 João 1.9)

 Por Sara Reis