Como integrar a fé cristã em todas as áreas da vida

“Só pra Te adorar

E fazer Teu nome grande

E Te dar o louvor que é devido

Estamos nós aqui.”

(Jesus Em Tua Presença)

Minha querida irmã em Cristo Jesus,

Em primeiro lugar, antes de você começar a leitura do texto, gostaria de lhe convidar a fazer uma oração. Peça para que o Senhor lhe dê a compreensão necessária para enxergar o mundo com os olhos de Cristo.

Vivemos numa época pós-moderna em que todas as suas tendências se opõem à Palavra de Deus. A pergunta que ecoa na minha mente diariamente é: como nós, mulheres cristãs, podemos viver em um mundo tão hostil ao Evangelho? Como podemos exercer o nosso papel de mulheres cristãs em um mundo que defende o feminismo e vira as costas para uma feminilidade fundamentada nas Escrituras?  A resposta para essa pergunta, apesar de um tanto óbvia, ainda assim precisa ser dita. Afinal, seguir a Cristo nos torna um povo com modo de vida diferente do restante da sociedade.

Quando compreendemos o que é verdadeiramente pertencer a Cristo, não existe a menor possibilidade de, como cristãs, agirmos como se fôssemos do mundo. A cosmovisão pós-moderna entende que não existe uma verdade suprema, logo, se não existe isso de “certo ou errado” todas as opções são válidas. Quando pensamos desse modo relativista tiramos Deus do centro de nossas vidas. A verdade sobre Deus deixa de ser objetiva e se torna uma opinião pessoal e é justamente nessa perspectiva pós-moderna que cada indivíduo cria sua definição pessoal do que é Deus.

Estou dando bastante ênfase na importância de termos uma cosmovisão cristã correta, pois precisamos enxergar e pensar o mundo pelas lentes do Evangelho. Quando reconhecemos o senhorio de Cristo em nossas vidas compreendemos que somos escravos submetidos a uma missão que afeta tudo o que somos e fazemos. Por isso, a cosmovisão não determina só o que pensamos a respeito de Deus, mas também nos ajuda a responder biblicamente questões que desafiam nossa fé e nossos afetos.

Mas como podemos integrar a fé cristã em todas as áreas da vida?

1. Não dicotomizar o trabalho

Você já parou para pensar sobre como tem divido o tempo para suas atividades? Facilmente incorremos no equívoco de dividir a nossa vida em duas categorias distintas: consideramos as atividades relacionadas à igreja e as que não estão relacionadas a ela. O problema está justamente nessa divisão entre sagrado e secular. Ao invés disso, deveríamos categorizar nossas atividades como aquelas que honram e aquelas que não honram ao Senhor. 

Quando nos voltamos para a história, compreendemos que a divisão do trabalho em categorias de sagrado e secular tornou-se uma característica principal do catolicismo romano medieval. Esta dicotomia sagrado-secular foi amplamente combatida pelos Puritanos. Lutero considerava a santidade de todos os tipos legítimos de trabalho, pois o trabalho desenvolvido na igreja não é mais santo que o trabalho desenvolvido pela dona de casa e o comerciante.

William Perkins disse que: “A ação de um pastor guardando ovelhas… é um trabalho tão bom diante de Deus como a ação de um juiz ao sentenciar, ou de um magistrado ao regulamentar, ou de um ministro ao pregar”. Os Puritanos resgataram o entendimento que toda a vida era de Deus, portanto, era de extrema importância integrar seu trabalho diário com sua devoção religiosa a Deus.

Assim, aprendemos com os Puritanos que o nosso objetivo deve ser sempre o de servir a Deus, não simplesmente no trabalho no mundo, mas por intermédio do trabalho, tornando-o um espaço para obediência e glorificação a Deus e expressão do amor ao nosso próximo. John Cotton exemplifica bem isto quando escreveu:

“Um homem não deve imaginar…, quando é chamado para ser um cristão, que deve prontamente rejeitar todos os empregos seculares… e dedicar-se inteiramente… à oração e a contemplação, mas deve reter tanto um chamado como o outro, seguindo àquele junto a esse.”

Será que todas as atividades que realizamos diariamente são norteadas pela nossa fé? Deus nos chama para realizar tarefas, por essa razão todo trabalho é digno e todas as nossas atitudes dirigidas ao trabalho podem transformar toda tarefa em atividade sagrada.

2. Santificar o comum

Todas as tarefas, sejam elas pequenas ou grandes, possuem valor espiritual. Recentemente, durante a leitura do livro “Liturgia do Ordinário’” da autora Tish Warren, fui profundamente influenciada a pensar sobre como toda a minha rotina poder ser uma plataforma litúrgica que reflete a glória de Deus. Nossa espiritualidade não pode ser vivida apenas quando temos uma sensação nova, uma experiência arrebatadora ou quando algo extraordinário acontece. Na verdade, nossa espiritualidade é desenvolvida quando vivemos o tempo presente em contato com a eternidade. Afinal, é ali, na normalidade ordinária do cotidiano, que a graça de Deus nos torna novas pessoas em Cristo.

Acredito que uma das reclamações mais frequentes por nós, mulheres cristãs, é: “Não tenho tempo para Deus”. Desempenhamos tantos papéis ao longo da vida – somos filhas, namoradas, esposas, mães, estudantes, profissionais, amigas e voluntárias em nossa igreja local – que esquecemos que o tempo não pertence a nós. Em um mundo em que a produtividade é tão valorizada, precisamos compreender que nosso valor não está na quantidade de tarefas realizadas, tampouco na eficiência no controle do tempo, pois o tempo gira ao redor de Deus.

O modo como vivemos este dia ordinário em Cristo é o que determinará como será toda a vida cristã. Nossos hábitos, dos mais simples aos mais desafiadores, podem ser uma espécie de disciplina espiritual. Tish Warren traz bastante clareza quando diz que “Deus está nos formando em um novo povo, em novas pessoas. E o lugar dessa formação está nos pequenos momentos do hoje”.

O secularismo tenta a todo custo segregar a confessionalidade cristã. Quando, como cristãs, trazemos Deus para dentro da nossa vida comum, de alguma forma passamos a ter uma vida moldada pela visão do Reino de Deus. Uma vida moldada por uma cosmovisão cristã tende a ser mais publicamente cristã e missional.

O que necessitamos, minha irmã, é enxergar o ordinário como um meio de graça. Vivendo o agora, mas com o foco na eternidade e fazendo tudo para a glória de Deus.

3. Transforme a sua mente

Nesse último ponto, vamos finalizar com um ensinamento precioso compartilhado pelo apóstolo Paulo na carta que ele escreveu às igrejas cristãs de Roma. Em Romanos 12:2, encontramos uma chamado para vivermos de um modo que agrada a Deus. Em suas palavras, Paulo sintetiza como nós, cristãos, devemos viver em uma sociedade anticristã:

“Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Romanos 12:2

Precisamos ressaltar que não é o mundo que nos molda, mas sim Cristo. A Bíblia é nossa fonte de sabedoria, portanto, é através da visão de Cristo que devemos enxergar o mundo. Os cristãos que viviam em Roma estavam cercados por uma cosmovisão contrária ao evangelho – uma sociedade bem parecida com aquela que vivemos hoje em pleno século XXI.

Paulo, nos primeiros onze capítulos, escreve todo o ensino teológico necessário para que a nova igreja de Roma pudesse basear sua fé e seu conhecimento sobre Deus. Ee deixa claro que todas as coisas pertencem a Deus porque tudo foi criado por Ele e para Ele, portanto, tudo Lhe pertence.

Quando enxergamos que o mundo inteiro está sob o domínio de Deus, passamos a agir como cristãs durante todos os dias da semana. Lutamos diariamente, não apenas porque somos contra a visão pós-moderna, mas, principalmente, porque queremos ser parecidas com Jesus.

O nosso objetivo como mulheres cristãs é buscar fazer tudo, sempre, visando à glória de Deus. Independenteente do que façamos, o propósito é anunciar quem Deus é e o que Ele fez por nós.

Por Hilda Lacerda

Referências:

  • Desconforme-se – Richarde Guerra
  • Liturgia do Ordinário – Tish H. Warren
  • Santos no Mundo – Leland Ryken