Como encontrar alegria em tempos de desânimo?

“Lembro-me, Senhor, das tuas ordenanças no passado e nelas acho consolo [...] Os teus decretos são o tema da minha canção em minha peregrinação.” (Salmo 119: 52, 54)

Eu não poderia começar esse texto por outro verso. Ele é um dos meus preferidos, pois foi um alento para minha alma cansada em períodos de desânimo e angústia, nos quais lembrar das Verdades eternas foi a razão de caminhar, mesmo diante da vontade de desistir.

Quero compartilhar com as irmãs algumas verdades que me ajudaram a vencer a falta de ânimo. Mas, antes, precisamos entender o que é o desânimo e o que ele revela sobre nós.

O QUE O DESÂNIMO REVELA SOBRE NÓS

A definição de “desânimo”, trazida pelo dicionário, é: ‘’o estado de quem se encontra desestimulado, em desalento e esmorecido’’.

Com esse conceito em mente, conseguimos entender o fato de que nossas afeições caídas querem constantemente nos dominar. Na prática, nosso desânimo é, muitas vezes, a nossa resposta diante das dificuldades diárias, das expectativas frustradas, das nossas mazelas, das lutas (às vezes, inconstantes) pelo padrão de santidade, dos nossos sonhos que dão errado, do sorvete que cai no chão (como diz Rodrigo Bibo, em seu livro “O Deus que destrói Sonhos”).

Todas essas situações têm a capacidade de nos deixar vacilantes e sem ânimo, se não estivermos atentas durante a nossa peregrinação, mesmo após sermos alcançadas pelo Evangelho. Por isso, constantemente, nos questionamos:

É possível continuar servindo com alegria, mesmo quando minhas expectativas não correspondem à realidade?

É possível permanecer fiel, mesmo quando tudo parece dar errado?

É possível ser uma serva perfeita e nunca falhar?  Deus espera mesmo isso de mim?

Essas perguntas revelam algo sobre nós. Elas nos mostram a tendência dos nossos corações: Queremos estar no centro sempre, queremos que nossas vontades egoístas se concretizem, queremos servir a Deus debaixo de uma vida confortável, seja na área emocional, financeira, ou em qualquer outra.

Logo, o desânimo nos mostra que ainda temos um coração vacilante em entender que, diante do Deus que nos salvou da mais severa condenação e nos deu vida, não podemos permitir que nossas condições temporárias se sobreponham à Verdade atemporal de que temos uma vida eterna em Cristo.


Diante desse diagnóstico, podemos elencar três remédios para o desânimo: a teologia, a oração e a comunhão com os irmãos na fé. Veremos, de maneira mais detalhada, como cada um deles pode nos ajudar a vencer o desânimo a seguir.

COMO UMA BOA TEOLOGIA NOS AJUDA A VENCER O DESÂNIMO

Como vimos, o desânimo revela que nossos corações estão mais focados nessa vida terrena do que na eternidade. Nesse sentido, a Teologia nos ajuda a reajustar o foco da nossa visão, e o ter coração totalmente quebrantado pelo Espírito Santo.

A Teologia nada mais é do que o estudo sobre quem Deus é. Segundo R. C. Sproul, ‘’todos somos teólogos’’, afinal, todos sabemos “algo” sobre Deus. No entanto, resta saber se esse “algo” é, realmente, o caráter do Senhor revelado em Sua Palavra.

Uma boa teologia — uma teologia feita sob o solo de um coração ferido pela Verdade, entendendo que conhecemos a Deus à medida que nos debruçamos sobre Sua palavra revelada — tem o poder de nos guiar pela escuridão, seguras em nosso Pai Eterno.

Assim, quando nos debruçamos sobre a Palavra, nós passamos a conhecer os atributos de Deus, e descobrimos que Ele se revela como um Pai amoroso que diz: ‘’não vos deixarei órfãos’’.  Isso significa que Ele acolhe nossos sentimentos, mesmo quando parece que estamos sozinhas e não somos compreendidas.

Isso quer dizer que Ele concorda com nossa atitude de nos apegar às coisas terrenas e passageiras? De modo nenhum! Significa que Ele é um Pai que nos corrige em amor, e nos permite nos achegar a Ele com total sinceridade, confessando nossas falhas, e permitindo que Ele molde nossa maneira de viver e de enxergar o mundo. Assim, através de um relacionamento com Ele, seremos capazes de reajustar o foco e restabelecer nossas prioridades.

COMO A ORAÇÃO NOS AJUDA A VENCER O DESÂNIMO

Vimos, portanto, que conhecer a Deus através da leitura, meditação e estudo da Sua Palavra é fundamental para vencermos o desânimo. Mas, além disso, para conhecer a Deus, é preciso cultivar um relacionamento com Ele, por meio de uma vida de oração.

Nesse sentido, o salmista diz, no Salmo 88,

“SENHOR Deus da minha salvação, diante de ti tenho clamado de dia e de noite.
Chegue a minha oração perante a tua face, inclina os teus ouvidos ao meu clamor;
Porque a minha alma está cheia de angústia, e a minha vida se aproxima da sepultura. (…) Eu, porém, Senhor, tenho clamado a ti, e de madrugada te esperará a minha oração.” (Salmos 88:1-3,13).

Essa passagem nos ensina sobre a necessidade de buscar a Deus em oração, quando nos vemos abatidas pelo desânimo. A oração é uma forma de entregarmos nossos fardos a Deus, e termos a certeza de que, ancoradas em quem Ele é, tudo ficará bem, afinal, Ele é o Deus da nossa salvação.

COMO A COMUNHÃO COM OS IRMÃOS NOS AJUDA A VENCER O DESÂNIMO

Até agora, vimos que os dois primeiros remédios para o desânimo consistem em conhecer a Deus, por meio do estudo da Palavra e de uma vida de oração. Neste último tópico, falaremos sobre a importância de não somente nos relacionarmos com Deus, mas também com o próximo, a fim de sermos vitoriosas na luta contra o desânimo.

Querida irmã, eu seria insensível se dissesse que você deve passar por tantos problemas e dificuldades sozinha, sem se sentir desanimada. Mas, veja, o Evangelho nos dá a boa notícia de que eu e você NÃO precisamos caminhar sozinhas!

Como tudo em nossa caminhada cristã, Deus não deixa as regras e, depois, “some”. Ele se faz presente e próximo a nós. Ele caminha juntamente conosco. E não somente isso, Ele também nos dá irmãos em Cristo, com quem podemos compartilhar a jornada.

Vemos um grande exemplo disso na própria caminhada do Senhor Jesus. Você lembra como Ele agiu perto da maior tempestade de sua vida terrena? Momentos antes da crucificação, quando Ele foi tomado pelo desânimo em saber o que viria a seguir, Jesus clamou pelo Pai, mas também pediu ajuda aos Seus amigos, chamando-os para orar.

Isso nos mostra que o desânimo é um lembrete para nosso egoísmo de que: NÃO, nós não somos sozinhas e autossuficientes em nossa caminhada; NÃO, nós não podemos fazer tudo com as nossas próprias forças; e NÃO, os discípulos de Jesus não devem se acanhar quando tudo parecer não corresponder ao que eles esperam.

CONCLUSÃO

Assim, irmãs, concluímos o seguinte: Qual o caminho para não deixar com que o desânimo nos faça querer parar? Primeiro, conhecer a Deus. E, assim como o salmista, meditar no nosso Senhor, pois é nEle que encontramos todas as fontes de vida. Segundo, nos relacionar com o Pai, por meio da oração. E, terceiro, caminhar lado a lado com nossos irmãos na fé.

Perceba que o primeiro — conhecer a Deus — é o que sustenta todos os outros. Você se lembra do texto que citamos no início? Ele diz o seguinte:

“Lembro-me, Senhor, das tuas ordenanças no passado e nelas acho consolo […] Os teus decretos são o tema da minha canção em minha peregrinação.” (Salmo 119: 52, 54)

Portanto, saber quem Deus é e lembrar dos Seus feitos, em especial, a gloriosa vida que Cristo já nos concedeu, é a resposta para mentes cansadas, inconstantes e ansiosas. Isso implica entender que não somos chamadas a nos preocupar com nossas próprias coisas, mas, a entregá-las a Deus, e nos ocuparmos de servir como Jesus.

De forma prática, isso irá requerer de nós disciplina. Sim! Uma palavra que não é muito querida por nós em muitas circunstâncias, mas que é a maneira pela qual a nossa fé é fortificada. Logo, precisamos olhar para as disciplinas espirituais como misericórdia do nosso Pai, e não como um enfado.

Desse modo, se entendemos que uma boa teologia é o que nos manterá com os olhos fixos no Senhor, devemos estudar a Palavra com uma mente humilhada pela oração e pelo jejum, pois, sem isso, nós só iremos ler coisas aleatórias sobre Deus, sem crescer no conhecimento de quem Ele é. Lembremos que a verdadeira teologia só faz sentido se for feita com devoção, joelhos temorosos e deslumbramento, uma vez que o nosso Salvador é um oceano infinito de deleite.

Por fim, essas palavras são apenas fruto do processo que o próprio Pai bendito tem me permitido passar. Por isso, querida, termino dizendo que meu pés são cientes de que esse assunto é um território difícil e subjetivo. Porém, quero te convidar a ser perseverante, não por sua força, nem por seu conhecimento, mas porque Deus ama se relacionar com Seus filhos e, para a glória de Seu nome, quem O procura há de encontrá-Lo. E esse encontro transforma, a cada dia, toda estrutura e lógica humana.

Por Sammara Cristina