CICATRIZES

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Pintura: “A incredulidade de São Tomé”, Caravaggio, 1599

Você possui alguma cicatriz?
Me faltariam dedos para contar as minhas.
Elas não foram vencidas pelo tempo,
mas me lembro de como chegaram até mim.

Toda cicatriz tem uma história a contar,
Mas, cicatrizes não revelam somente histórias,
revelam fraqueza,
revelam limitação;
nos lembram que somos feitos de carne,
carne, frágil, facilmente lesionada e marcada.
Cicatrizes nos lembram o que somos:
humanos, eis a nossa condição.

Mas, o que dizer de um Deus marcado por cicatrizes?
Ei-lo ali, curando os enfermos,
mas, veja, as mãos que curam
também carregam as cicatrizes de um carpinteiro;
os joelhos do que se dobram em agonia
também carregam as cicatrizes do menino que corria.

O Deus que cura foi ferido,
o Deus que dá vida se entregou à morte.
Que paradoxo, um Deus que possui cicatrizes,
cicatrizes que trazem cura.
Cicatrizes que contam a história

do homem de dores, transpassado
que disse a Tomé:
“coloca aqui o teu dedo e vê as minhas mãos!
Estende a tua mão e coloca-a no meu lado.
Não seja incrédulo, mas crê!”