CARTA À MINHA AMIGA SOLTEIRA PASSANDO PELO FIM DE UM RELACIONAMENTO

Cópia de DISCIPULADOOlhe para Cristo, o melhor está por vir.

Querida amiga, conquanto meus braços não possam chegar até você nesse momento, anseio intensamente que minhas palavras lhe alcancem e tragam algum consolo e esperança. Sei que nesse momento seu coração está envolto em tribulações, pude sentir a aflição, dor e amargura em suas palavras. Compreendo suas dúvidas e questionamentos; sonhos, expectativas e planos foram interrompidos. Não é fácil lidar com esse momento, as instruções não vêm descritas no manual, infelizmente, só aprendemos a lidar com ele passando por ele. Mas, por mais difíceis que esses dias possam ser, e, certamente, eles serão, não perca de vista que a bondade e a misericórdia de Deus te acompanham e te acompanharão todos os dias, mesmo naqueles em que as lágrimas te impedirem de enxerga-las (Sl 23:6).

Lidar com um término não é fácil, é um processo lento, doloroso e angustiante. Sei que você jamais imaginou passar por isso, afinal, você fez tudo certo, não é mesmo?! Tudo deveria cooperar para o triunfante sim, é assim que as coisas deveriam ser! Mas… ah, minha querida, como o nosso coração é ardiloso, mesmo em nossas melhores ações ocultamos um coração cheio de justiça própria – a “síndrome” do filho mais velho – geralmente essa justiça própria só é exposta quando as coisas não acontecem conforme planejamos ou esperávamos. Quando nossos sonhos, planos e projetos são frustrados.

Quando isso ocorre, somos obrigadas a encarar algumas realidades que na prática parecemos ignorar, a primeira delas é a de que não temos controle algum sobre nossas vidas. Sim, nós oramos, planejamos e confiamos, mas, como disse o sábio, ao Senhor pertence a resposta final (Pv 16:1). No fim das contas, não são os nossos planos que nos garantem sucesso final, e, sim a vontade de Deus. Sei que essas não são exatamente as palavras consoladoras que você desejava ouvir nesse momento, mas sei que você é uma mulher que teme ao Senhor, e, portanto, é meu dever como sua irmã em Cristo apontar-lhe um caminho muito mais excelente do que simplesmente lhe trazer um consolo superficial.

Momentos difíceis como o término de um relacionamento também nos levam a encarar a realidade de que no fundo, no fundo alimentamos em nossos corações um orgulho muito bem polido e travestido. E nesse ponto eu gostaria de lhe falar de minha própria experiência com o término de um relacionamento. Já lhe contei sobre isso em outra ocasião, mas quero lembrá-la para que não pense, erroneamente, que estou me colocando na posição de juíza, antes, me coloco humildemente ao seu lado como alguém cujas máscaras de orgulho foram reveladas por Deus.

Há alguns anos, quando passei pelo rompimento de um relacionamento, eu estava exatamente como você: quebrada. Somado a toda dor e sofrimento que a situação provocou havia um sentimento latente de indignação e injustiça. Eu me sentia injustiçada, afinal, eu havia confiado meu futuro a Deus, esperando o momento certo e “a pessoa certa” com quem finalmente namoraria e me casaria, mas, de repente, sem qualquer aviso prévio, vi meus planos frustrados. Aquilo não parecia justo, me senti traída por Deus, eu havia feito a minha parte do “acordo” que eu, inconscientemente, havia criado em minha mente, no entanto, Deus não cumpriu a parte dEle, me senti lesada por não receber o pagamento devido.

Quão tola e cega eu estava, tal como o filho mais velho na parábola de Lucas 15, eu acreditava que minha obediência interesseira me concedia direitos ou créditos para com Deus e quando vi que as coisas não saíram conforme eu esperava, me caiu o semblante, minha dor era genuína, mas nutrida por um profundo senso de orgulho não reconhecido, meu ego havia sido ferido e a dor era latente.

Por um bom tempo senti como se alguém, no caso, Deus tivesse, me “passado a perna”, até que no fundo da minha autocomiseração, orgulho travestido de humildade, o Senhor me chamou à luz. Quando sua Palavra iluminou as trevas do meu coração, sabe o que eu vi? A feiura do meu orgulho, tal como uma criança que chora e esperneia quando tem seu objeto de desejo tirado de suas mãos, eu me vi. Foi então que percebi que minha real condição não era a de juiz, julgando inclusive a Deus, mas de réu.

Foi quando Deus revelou a condição do meu coração que eu finalmente consegui enxergar aquele momento a partir da perspectiva correta. Com isso não quero dizer que seu relacionamento terminou porque você é orgulhosa e Deus quer te dar uma lição, não mesmo! O que quero dizer é que Deus, em sua ação soberana, usa absolutamente todas as circunstâncias de nossas vidas para nos santificar, para que por meio delas nosso coração seja revelado e transformado. Toda dor tem como fim nos curar verdadeiramente, há algumas doenças silenciosas que são reveladas somente quando a dor é manifesta, não fosse assim, elas permaneceriam silenciosas nos corroendo.

Além disso, é óbvio que se cremos na soberania absoluta de Deus, e estou certa de que você crê, sabemos que nada foge do Seu controle, se algo deu errado, deu errado partindo de nossa limitada perspectiva humana e não da de Deus, para Deus as coisas estão exatamente como deveriam estar. Não se sobrecarregue pensando nos famosos “e se…”: e se eu não tivesse feito isso, ou dito aquilo, e se…, e se… Não há como saber, o que se sabe é que sua vida está nas mãos de Deus e só Ele sabe o que é melhor para você, só Ele sabe os rumos que tem para você e Ele tem total direito de conduzir a sua vida como quiser.

Lembre-se: Deus é bom! Usamos essa frase de maneira tão frequente e irrefletida que, por vezes, ela parece até um clichê, mas não, ela é bíblica e verdadeira: Deus é bom, sua bondade é declarada por toda a Escritura.

“Provai e vede como o SENHOR é bom. Como é feliz o homem que nele se abriga!” (Sl 34:8)

“Tu és bom e fazes o bem; ensina-me os teus estatutos.” (Sl 119:68)

“Porque o Senhor é bom; a sua benignidade dura para sempre, e a sua fidelidade de geração em geração.” (Sl 100:5)

“O Senhor é bom, uma fortaleza no dia da angústia; e conhece os que nele confiam.” (Nm 1:7)

Não encare o sofrimento como um castigo, encare-o como uma oportunidade de crescimento. Quando sofremos é difícil admitir isso, mas, o tempo nos permite perceber que é nos momentos de dor que crescemos mais profundamente, que nos tornamos mais fortes e resilientes, não por nossos méritos, mas porque o Senhor usa o sofrimento para nos fortalecer.

Há bênçãos espirituais que só nos alcançam por meio do sofrimento. Essa é a beleza da Palavra de Deus, semeamos aos prantos, mas colhemos com alegria, choramos por uma noite, mas a alegria nos encontra ao amanhecer, vivemos em duras tribulações, mas ressuscitamos em glória eterna. Gosto muito das famosas palavras do poeta inglês William Cowper: “… por trás de uma providência carrancuda, [Deus] oculta uma face sorridente”. Só quem já enfrentou uma providência carrancuda compreende quão verdadeira é esta afirmação.

Como disse John Piper: “Para os piedosos, a vida não é uma rodovia interestadual que passa por uma terra plana, sem curvas e desníveis, mas uma estrada estadual menor que serpenteia por montanhas e vales. Existem pedras que deslizam, precipícios, nevoeiro espesso, ursos na estrada, curvas escorregadias, viradas bruscas e apertadas que nos fazem voltar para trás antes de seguir adiante. Mas ao longo de toda essa estrada perigosa que não nos deixa ver muito à frente, há sinais frequentes dizendo: ‘O melhor está por vir’”. Sim, querida – por mais difícil que seja crer nesse momento – o melhor está por vir, “existem coisas melhores adiante do que qualquer outra que deixamos para trás.” (C.S. Lewis), descanse seu coração em Deus, porque ele mesmo disse: Não te deixarei, nem te desampararei. (Hb 13:5).

Lembre-se: Cristo é suficiente. Frequentemente estamos conscientes e declaramos esta verdade, porém, nem sempre percebemos como ela se aplica em nossa vida diária. Contudo, creio que por meio do sofrimento o Senhor nos concede uma oportunidade ímpar de experimentarmos a suficiência de Cristo em nossas vidas. Ele, e somente Ele, é suficiente para satisfazer e preencher as lacunas de nossas vidas. É quando perdemos aquilo que amamos e corremos para Cristo que percebemos que Ele é tudo o que, de fato, necessitamos. Ele nos supre e preenche. “[…] já aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.” (Fp 4:11-13), inevitavelmente, essa compreensão só é atingida por meio das perdas.

Lembre-se: Deus cura. Um dos textos que mais gosto na Escritura é Oséias 6:1: “Vinde, voltemos ao Senhor, ele feriu-nos, ele nos curará; ele causou a ferida, ele a pensará.” Deus cura, essa é uma verdade gloriosa para mim e exulto ao olhar para minhas próprias cicatrizes e ver como Deus, através do tempo me curou e tem me curado dia após dia. Deus não apenas ordena a cura, mas vem e coloca as mãos em nossas feridas impuras e nos purifica.

Para tanto, é importante que você não mascare seus sentimentos. Se há raiva, frustração, culpa ou vergonha, exponha-os a Deus e, se possível, confesse a uma irmã em Cristo madura que esteja mais próxima de você e possa lhe auxiliar nesse processo. Ao expor aquilo que está em nosso coração muitas coisas, até então, desconhecidas se manifestam, portanto, não tenha medo de descortinar o coração diante de Deus. Fale o que está sentindo, não tenha medo de ser honesta, pois o Senhor já conhece cada palavra antes que seja pronunciada (Sl 139:4). “Confessai, portanto, os vossos pecados […] para serdes curados” (Tg 5:16). O Médico dos médicos cura feridas, sejam elas emocionais, físicas ou espirituais; não importa a extensão da ferida, ou o tamanho da dor, Deus cura, a seu tempo.

Não tenha medo da solidão. Sei que com o término diversos medos irão surgir em seu coração, a solidão é um deles. Perguntas como: “E se não houver outra pessoa para mim?”, “Será que eu vou ser feliz novamente?”, “Como será a vida daqui em diante?”, “O que as pessoas vão dizer e pensar?”. Eu me fiz essas mesmas perguntas por dezenas de vezes, mas, sabe, no momento em que acontece a situação parece mais assustadora do que realmente é, mas, é preciso tempo para perceber isso. A vida vai seguir e quando você menos esperar esse rompimento deixará de ser o foco de sua atenção. E, sim, claro, você será feliz novamente, afinal, a felicidade não está condicionada a uma pessoa ou circunstância, mas, também levamos um tempo para perceber isso. Não se angustie com aquilo que as pessoas vão dizer ou pensar, um término é uma marca que preferiríamos não carregar, no entanto, essa amarga experiência faz parte da vida, não importa quão cristã você seja.

Se afaste tempo suficiente para poder ajustar a mente e o coração, mas não se isole, o convívio social, por difícil que seja inicialmente, é salutar para que você supere esse momento. Invista em momentos com a família, com amigos encorajadores, reserve momentos para si, leia a Bíblia, leia bons livros, faça um bom passeio, assista a bons filmes (por via das dúvidas, evite os românticos por agora) e lembre-se: sua identidade não se baseia em seu(s) relacionamento(s).

Mantenha DISTÂNCIA, escrevo isto com letras garrafais, pois sei o quão difícil é seguir essa recomendação. Por mais doloroso que seja o término, nos habituamos à convivência, não há como mudar sentimentos da noite para o dia, no entanto, especialmente nessa fase, você precisa exercer o domínio próprio, controle suas emoções e não ceda à tentação de enviar mensagens, ligar, bisbilhotar, procurar notícias – seja virtualmente, ou por meio de amigos e familiares. Nossa tendência natural é perseguir obsessivamente cada passo que o outro dá, mas, por favor, não faça isso, você só estará prolongando sua dor. Toda ferida precisa de tempo para cicatrizar e cada casquinha arrancada requer ainda mais tempo para cicatrizar novamente.

Fuja da defraudação. Não alimente esperanças, fantasias ou sonhos. Não fique pensando na possibilidade de reconciliação, viva a realidade, quanto mais esperanças você alimentar, maior o risco de acabar se frustrando novamente. Se Deus quiser restaurar esse relacionamento algum dia, Ele o fará sem sua ajuda ou consentimento. Contudo, tal como disse o Pregador em Eclesiastes, há tempo para todas as coisas, se esse é o tempo de deixar de abraçar, então deixe, absolutamente. Corte as expectativas, não se defraude, tampouco permita que outros o façam. Muitas vezes, na tentativa de promover consolo, familiares e amigos dizem coisas como: “Vocês foram feitos um para o outro”, “Vocês vão voltar, é só uma questão de tempo”, “Ele vai perceber o erro que cometeu e vai voltar”, “Deus tem um propósito para vocês”, entre outras coisas, mas, não se deixe levar, cabe a você falar em amor a essas pessoas que você não deseja que elas a consolem com esse tipo palavras.

Por fim, minha querida, quando olho daqui para trás, percebo que uma das maiores bênçãos que recebi por meio do fim desse relacionamento foi compreender melhor minha identidade em Cristo: quem sou, minha completude nEle, e o quanto necessitava cultivar um relacionamento genuíno com Ele antes de cultivar um com qualquer outra pessoa. Percebi também que minhas expectativas e anseios deveriam estar depositadas nEle, pois somente Ele seria capaz de supri-las verdadeiramente. Isso não ocorreu num passe de mágica, na realidade, esse é um processo contínuo, sobre o qual preciso refletir e me lembrar diariamente, mas ter compreendido isso me ajudou a viver minha solteirice de maneira diferente. Embora falhando muitas vezes, hoje compreendo que é sobre Cristo que devo depositar todos os meus anseios e expectativas.

Agora, a alguns meses de me casar, contemplo com assombro e gratidão a doce e amarga providência de Deus. O triunfo, contudo, não consiste no fato de estar prestes a me casar – pois, eu poderia, ou posso, não me casar, no fim das contas, Deus é quem sabe – mas na obra que Deus iniciou em meu coração, uma obra destruidora, mas redentora. Sou eternamente grata ao Senhor pelas muralhas de orgulho que Ele começou a quebrar, muralhas que eu só pude enxergar por meio desse difícil episódio em minha história. Deus poderia tê-las revelado de outra forma? Sim, mas Ele conhece os meus ídolos melhor do que ninguém – a reputação era um deles – e esse foi o meio que Ele escolheu para evidenciar Sua graça em mim.

No fim das contas, os sofrimentos produzem em nós perseverança, experiência e esperança, aprendemos que por maiores que venham a ser os sofrimentos, eles se tornam apenas degraus que, no fim das contas, nos conduzirão para mais perto de Cristo (Rm 8:28-30). Querida, você não está sozinha, Cristo está com você. Concluo esta carta apresentando sua vida diante do trono da graça, rogando a Deus para que as mesmas consolações que me alcançaram te alcancem também! (2 Co 1:4)

Um grande abraço

Sua amiga,

Prisca Lessa