CARTA À MINHA AMIGA SOLTEIRA: FEMINILIDADE BÍBLICA NÃO SE RESTRINGE A CASAMENTO E MATERNIDADE

carta À minha amiga solteira (2)

 Querida amiga,

Fico feliz que sua igreja esteja investindo em seminários, encontros e palestras sobre feminilidade. Em tempos de ondas feministas se faz ainda mais necessário instruir as mulheres de acordo com a Palavra. Mas, entendo seu questionamento, você é uma jovem solteira e a abordagem sobre feminilidade bíblica é quase sempre voltada para o casamento e a maternidade. Isso acaba te deixando um tanto deslocada, pois, é como se sendo solteira não houvesse nada que você pudesse fazer para exercer sua feminilidade segundo os moldes bíblicos.

É verdade que feminilidade engloba casamento e maternidade, mas ela não se restringe a elas. A feminilidade bíblica é cultivada através do relacionamento com a Palavra de Deus, este é o cerne. Quanto mais nos dedicamos em conhecer a Deus por meio de Sua Palavra mais nos tornamos quem Ele nos projetou para ser; e a medida que nos tornamos quem Ele nos projetou para ser nossa feminilidade vai sendo lapidada.

Ser solteira não te torna menos (biblicamente) feminina. Independentemente do seu estado civil, o que te torna mais feminina é sua submissão à Palavra de Deus. É perfeitamente possível que mulheres solteiras, viúvas e estéreis exerçam a feminilidade bíblica de forma tão eficaz – embora em diferentes aspectos – quanto aquelas que desfrutam da companhia de seus maridos e filhos. Deus nos chama a exercer a feminilidade na condição em que nos encontramos.

Quando leio Tito 2, Atos 9:36, Atos 16:15; Lc 1:38, I Pedro 3:1-6, me deparo com aspectos da feminilidade que não se limitam a mães e esposas: a instrução a outras mulheres, a dedicação ao lar, o cuidado para com os seus, a sabedoria, o temor ao Senhor, a hospitalidade, a prática do bem, o serviço aos necessitados, a força, a mansidão, a conduta íntegra que não dá lugar para que a palavra de Deus seja difamada. Você deve buscar ser esse tipo de mulher, e ao fazer isso estará exercendo sua feminilidade.

A mulher casada é chamada a se submeter ao seu marido como a Cristo cuidando em agradá-lo, já a mulher solteira se submete a Cristo, cuidando das coisas do Senhor. Enquanto a mulher casada é chamada a gerar filhos biológicos – e também espirituais – e dedicar-se integralmente à família, a mulher solteira deve gerar filhos espirituais e dedicar-se ao cuidado da família da fé. Ambas estão exercendo sua feminilidade de acordo com a Palavra de Deus e nenhuma está em vantagem ou desvantagem em relação à outra.

Não sinta como se estivesse um passo atrás no exercício de sua feminilidade. Sirva a Deus com alegria e contentamento na condição que Deus te chamou (I Co 7:17) e você descobrirá que há muito para ser feito.A cosmovisão bíblica é aplicável a todas as esferas e etapas da vida, sendo solteira, casada, viúva, gestante ou estéril, sem qualquer prejuízo.

Tenho certeza de que, ao enfatizar o casamento e a maternidade, a intenção não é excluir ou discriminar as solteiras, por isso, não se sinta à margem como alguém que não entrou “no time”. A realidade é que nós pertencemos a um único time, que é o Corpo de Cristo, e nele não existem sub times, pois, Cristo não nos separa por estado civil.

Numa manhã eu estava vivenciando alguns conflitos, minha alma estava aflita e confessei a Deus o meu medo de permanecer solteira. Como uma resposta imediata, esse versículo ecoou em minha mente trazendo luz e consolo ao meu coração:

“[..] nem tampouco diga o eunuco: Eis que eu sou uma árvore seca. Porque assim diz o Senhor: Aos eunucos que guardam os meus sábados, escolhem aquilo que me agrada e abraçam a minha aliança, darei na minha casa e dentro dos meus muros, um memorial e um nome melhor do que filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles que nunca se apagará” (Isaías 56:3-5).

Guarde estas palavras: “Deus promete, àqueles que permanecem solteiros em Cristo, bênçãos que são maiores que as bênçãos de casamento e filhos; e ele os chama para mostrar, pela devoção que exalta a Cristo na solteirice, as verdades sobre Cristo e seu reino que brilham mais claramente através da solteirice do que através do casamento e da criação de filhos”, a saber:

  1. “Que a família de Deus não cresce pela reprodução através da relação sexual, mas pela regeneração pela fé em Cristo;
  2. Que relacionamentos em Cristo são mais permanentes, e mais preciosos, do que relacionamentos em famílias (e claro, é maravilhoso quando os relacionamentos nas famílias são também relacionamentos em Cristo)
  3. Que o casamento é temporário, e finalmente dá caminho ao relacionamento ao qual estava apontando o tempo todo: Cristo e a Igreja – da mesma forma que um retrato não é mais necessário quando você vê face a face;
  4. Que a fidelidade a Cristo define o valor da vida; todos os outros relacionamentos obtêm seu significado final disso. Nenhum relacionamento familiar é definitivo; o relacionamento com Cristo é” (John Piper).

Essas verdades precisam ser lembradas de tempos em tempos, pois há dias em que nos esquecemos das palavras e promessas de Deus. Minha querida, a solteirice não te priva de maiores bênçãos, ela não te priva de ser plenamente feminina ou parte do Corpo de Cristo, antes, concede a oportunidade de desenvolver aspectos da vida cristã que também O glorificam .

É claro que tanto a feminilidade quanto a masculinidade estão relacionadas a aspectos reprodutores, mas não param por aí! Envolvem também aspectos profundos relacionados à nossa espiritualidade, mente e emoções. Temos em Cristo a maior prova de que é possível glorificar a Deus e servi-lo plenamente sendo solteiro.

Por fim, quero lembrá-la que nossa alegria não deve consistir primordialmente em formarmos uma família para amar e servir, mas sim, no fato de que, fazemos parte da família de Deus; devemos amar e servi-la de todo o nosso coração.

Assim como as mulheres (majoritariamente viúvas e solteiras) que serviam a Jesus com seus bens, com seu tempo, abrindo as portas de suas casas, preparando refeições, anunciando as boas novas, prestando assistência a outras mulheres, nós solteiras somos chamadas a cuidar das coisas do Senhor (I Co 7:32). Deus certamente proverá meios para que sejamos santificadas ao longo de nossa vida, para algumas  o casamento será um desses meios de santificação, para outras a solteirice, para outras a viuvez, para outras a enfermidade, para outras o desemprego… Não sabemos os meios que Ele usará para cada uma, mas, uma coisa é certa, ao final da jornada cada filho de Deus atingirá a estatura de varão perfeito (Ef 4:13), este é o alvo.

Não desejo que casamento e maternidade não se tornem pra você uma pedra de tropeço, não permita que isso ocorra. Devemos, sim, amar e incentivar o casamento e a maternidade, mas não como um fim em si mesmo. O equilíbrio consiste em não torna-los ídolos e, por outro, lado não menosprezá-los como o mundo faz.

Desejo do fundo do meu coração que essas palavras sejam consolo e fortaleçam o seu coração. Saiba que essa luta não é só sua, peço a Deus todos os dias que me recorde que Ele é suficiente.

Deus é glorificado por meio da nossa feminilidade, não importa a estação que estejamos vivendo.

Coragem, querido coração.