CARTA À MINHA AMIGA SOLTEIRA: “E SE EU NÃO QUISER ME CASAR?”

E SE EU NÃO QUISER ME CASARQuerida amiga, foi tão bom receber notícias tuas! Fiquei feliz ao ver que apesar do pouco contato que tivemos nos últimos anos você me confiou suas dúvidas e questionamentos. Espero poder ajudá-la de alguma forma. Você parece animada com essa “nova” perspectiva de vida que tem surgido em seu coração, contudo, é evidente que a resposta à pergunta que me fez ainda parece lhe inquietar. Não tenho dúvidas de que realmente esteja vivendo um misto de emoções e questionamentos, mas, o melhor que pode fazer nesse momento é orar para que o Senhor lhe aquiete o coração.  É bom que estas dúvidas estejam vindo à tona nesse momento de sua vida, portanto, não tenha medo de levantar questionamentos quanto ao desejo ou a ausência do desejo de se casar.

Quando li suas palavras me lembrei do trecho de uma pregação do reverendo Augustus Nicodemus em que ele diz que “(…) há muitas pessoas que teriam sido muito mais felizes se nunca tivessem se casado”. Esta afirmação chamou minha atenção para um fato importante: há muitas pessoas que se casam por mera empolgação ou pressão social e, no fim das contas, acabam sendo infelizes; fazendo seus cônjuges infelizes e tornando-se péssimos testemunhos para o Evangelho. Tudo isso porque tomaram uma decisão sem convicção.

Apesar de ser pouco abordado em nossas igrejas o celibato é bíblico, e, portanto, não deve ser menosprezado. Por definição o celibato é uma capacidade dada por Deus para que homens e mulheres possam viver sem a necessidade de relacionamento sexual. Assim sendo, não ter o desejo de se casar pode ser a manifestação desse dom, porém antes de chegar a esta conclusão é preciso avaliar quais são as reais motivações do coração.

Esse tipo de avaliação não deve ser feita somente por aqueles que desejam permanecer solteiros; todos, em algum momento da vida, precisam questionar suas motivações em querer casar ou querer permanecer solteiro. O objetivo disso é descobrir se essa motivação é bíblica ou hedonista. Vou explicar isso melhor na prática.

Você é uma jovem de 36 anos que ama trabalhar e estudar. Sei que deseja progredir em seu trabalho e em seus estudos e que possui independência e certa estabilidade financeira. Tudo isso é bom, mas é preciso ter cuidado para que não se torne um ídolo. Há muitas mulheres que não desejam se casar para que o casamento não atrapalhe suas aspirações pessoais restringindo sua “liberdade” e independência. Se esta for a sua motivação, então, ela é uma motivação hedonista, pois você está colocando o seu prazer como fim supremo de suas escolhas; isso te conduzirá ao pecado. De nada valerá permanecer solteira, estudar, trabalhar, viajar ou fazer qualquer outra coisa se tudo isso for somente para ganhar a sua vida. Estar solteira, assim como estar casada, não tem a ver com você; não tem a ver com os seus sonhos, planos, projetos e ideais, mas com o grande e fiel propósito de Deus.

Ser solteira não é um tipo de licença premium para viver para si mesma, buscando seus próprios interesses, e, sim, um chamado para servir a Deus de uma forma distinta daquela que você serviria na condição de esposa e, posteriormente, mãe. Se você pretende permanecer solteira para aproveitar sua liberdade e independência, te exorto a ler aquilo que o Senhor declarou ao povo de Israel por meio do profeta Isaías: “o teu Criador é o teu marido” (54:5). O apóstolo Paulo confirma estas palavras em I Coríntios 7:32 ao dizer que os solteiros devem cuidar das coisas do Senhor, em como agradá-lo. Portanto, ser solteira não significa viver livre para agradar a si mesma, mas viver “livre” para agradar a Deus. Quer se case ou permaneça solteira, você prestará contas a Deus quanto à maneira que usou os dons que Ele lhe concedeu. Se o Senhor te liberou das responsabilidades do matrimônio então você prestará contas acerca da maneira como investiu o tempo e “liberdade” que Ele lhe concedeu.

Em relação a falta de incentivo por parte da família e amigos, peça a Deus que possa trazer convicção e aceitação no coração deles também. Creio que podemos aprender muito com o apóstolo Paulo, pois, embora desejasse que todos fossem como ele, ele manifestou graça e amor para com aqueles que possuíam uma condição diferente da que ele almejava para todos. Precisamos aprender a amar e respeitar as diferenças que Deus plantou em nosso meio. Seja paciente, ore e responda a isso de maneira amorosa.

Sabe, querida, o nosso coração é vil a ponto de se envaidecer por coisas que recebeu como dádiva da parte de Deus. Ao ler suas palavras achei que deveria lhe exortar a tomar o devido cuidado para que lá no fundo você não menospreze aqueles que já são casados, ou que esperam se casar um dia. Não se trata de uma competição para ver quem é mais forte, pois cada um deve servir ao Senhor, com alegria, de acordo com a vocação que recebeu do alto. Não precisamos valorizar o celibato em detrimento do casamento, nem o contrário. Há lugar para ambos na dinâmica do Corpo de Cristo.

 “Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu; mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se”. (I Co 7:8,9). Não poderia deixar de citar esse versículo. O apóstolo Paulo pretendeu ser bastante direto ao dizer que aquele que não consegue conter seus desejos sexuais deve se casar. Ora, cada conhece bem a si próprio, e não é minha intenção avaliar esse aspecto de sua vida. Mas, gostaria de levá-la a refletir acerca de sua condição. O desejo sexual foi concedido por Deus, Ele não apenas ordenou que os homens se multiplicassem, mas concedeu um meio agradável para que isso ocorresse. Esse meio Divino é o sexo, que deve ser realizado dentro da aliança do matrimônio em santificação e honra.

Todo cristão deve sujeitar sua vida sexual a Deus; Se não houver plena satisfação em Deus, o risco de tornarmos o sexo ou qualquer outro prazer em ídolo é muito grande. Como uma jovem solteira você deve sujeitar sua sexualidade ao senhorio de Cristo, crendo que Ele é poderoso para suprir todas as suas necessidades, quer você permaneça nessa condição, quer se case algum dia. Mas se, de fato, há em seu coração a convicção de que não deseja se casar, então você deve se certificar de que o desejo sexual não será uma pedra de tropeço em sua vida. Caso contrário é melhor que você se case e usufrua do sexo dentro do matrimônio. Se me permitir, gostaria de lhe falar sobre defraudação e pecados sexuais numa outra oportunidade, creio que será de grande valia.

Gostaria de aconselhá-la que converse com seu pastor e compartilhe suas dúvidas e sentimentos com irmãs piedosas que possam lhe orientar. Provérbios 11:14 diz que “na multidão de conselhos há segurança”, então, busque-os. Se permanecer solteira é uma opção para você, busque a direção de Deus, peça para que Ele confirme sua vontade e te conceda convicção.

Gostaria de concluir com as palavras de Isaías  56:3 – 5: “(…)nem tampouco diga o eunuco: Eis que eu sou uma árvore seca. Pois assim diz o Senhor a respeito dos eunucos que guardam os meus sábados, e escolhem as coisas que me agradam, e abraçam o meu pacto: Dar-lhes-ei na minha casa e dentro dos meus muros um memorial e um nome melhor do que o de filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará.”

Essa é uma promessa maravilhosa para os filhos de Deus, uma promessa que transpõe o presente e atravessa os portais da eternidade, “um nome maior do que o de filhos e filhas”. Ser solteiro não te torna menos frutífera para Deus, os maiores frutos que você pode oferecer ao Senhor são uma vida de fidelidade e obediência à Sua Palavra. Sirva ao Senhor de todo o seu coração, minha querida, exerça seus dons, cultive a hospitalidade, discipule outras jovens, conviva com as mulheres mais velhas da igreja, busque conhecer e transmitir a Palavra, discipule, aconselhe, invista em relacionamentos duradouros no Reino, estude, trabalhe e desenvolva sua vocação, seja o melhor que puder ser.

Que a sua solteirice seja frutífera, e que sua vida possa testemunhar a beleza do viver em Cristo. Que Deus lhe abençoe, minha querida.

Sua amiga,

Prisca Lessa