Amor próprio, um novo mandamento? (pte 2)

CARTA À MINHA AMIGA SOLTEIRA - Homossexualidade[Continuação]

Engana-se quem acredita que o amor próprio é um caminho para o amor ao próximo, muito pelo contrário, ou o amor próprio nos torna mais egoístas.

O amor próprio oferece um risco à sociedade porque apresenta uma disputa com o amor a Deus e, consequentemente, com o amor ao próximo. Quando os homens deixam amar a Deus eles só conseguem amar os mesmos. O texto de 2 Timóteo 3: 1 – 5 nos revela porque o amor próprio oferece um risco à sociedade .

Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobreviveu nos trabalhos. Porque existem homens amantes de si mesmos , avarentos , presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para os bons, traidores, obstinados, orgulhosos , mais amigos dos seus filhos de Deus, tendo aparência de piedade , mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.

Esta descrição desoladora se refere ao que a Bíblia denomina como nos últimos dias , ou o tempo que antecede a vinda de Messias. Embora a Bíblia não revele com exatidão durante esse período, podemos nos orientar com base nas variações que caracterizam.

Ao abandonar o mandamento supremo de amar Deus sobre todas as coisas como pessoas que estão envolvidas no ponto de chamar de amor próprio aquilo que a Bíblia chama de egoísmo. O amor próprio tem sido justificado por uma série de pecados que o acompanham. Com base na passagem de 2 Timóteo 3: 1 – 5, vamos analisar alguns desses pecados e suas consequências, observando como eles caracterizam com precisão a sociedade atual.

Avareza

Um dos grandes produtos disponíveis nos nossos dias é o consumo, ou o último amor próprio exige que as necessidades pessoais sejam colocadas no primeiro lugar. Consequentemente, como as pessoas podem tornar-se consumidores frenéticos e também tornarem-se propagandas enganosas que armazenam “tudo” o que é necessário para permanecer ainda melhores que já são. O consumo é um prato cheio para a fome de amor próprio.

Presunção

A Presunção é uma visão excessivamente elevada sobre si mesmo, reflexo de um ego tão inflado ao ponto de se considerar superior. Muitas vezes, a prescrição se apresenta com falsa modéstia. Seu principal título em nossos dias é como redes sociais, onde diariamente ajuda, e até mesmo, participa de um culto ao ego. Aquilo que a sociedade chama de “autoestima” é apenas um nome bonito para a Bíblia que chama egoísmo e vaidade.

Soberba

Em nossos dias, a soberba é chamada de autoafirmação, não obstante, ela é exaltada. A falta de soberba é vista como um tipo de fraqueza, complexo ou distúrbio relacionado a autoimagem. Se alguém não se ensoberbece, ou, não se auto afirma, há algo errado com tal pessoa, é preciso buscar algum tipo de tratamento com urgência a fim de resgatar sua autoimagem.

Blasfêmia

A blasfêmia se tornou sinal de intelectualidade. Antes condenada, agora passou a ser apreciada. Ofender a Deus se tornou uma demonstração de algum tipo de evolução intelectual e a religião passou a ser vista como algo muito primitivo que precisa ser suplantado para o bem da sociedade.

Desobediência

Desobediência e rebeldia são filhas do mesmo pai. Ser desobediente, inconformado, se rebelar contra as leis e padrões morais se tornou algo admirável. A desobediência se tornou uma norma, afinal, em nome do amor próprio, as pessoas não podem se sujeitar a nada e a ninguém – somente a si mesmas. Cada homem é sua própria lei[1].

Ingratidão

A gratidão se tornou uma virtude rara. O amor próprio tem tornado as pessoas cada dia mais insatisfeitas com aquilo que possuem. Em contrapartida, a vaidade as impele a uma busca frenética e insaciável por mais. A ingratidão não permite que as pessoas se alegrem com o que possuem nem que enxerguem o quanto já possuem; seu foco repousa somente naquilo que lhe falta.

 Profanação

As pessoas perderam o senso de reverência a Deus, a maneira como Deus merece e deseja ser honrado e cultuado já não importa. O que importa agora é a forma como cada um se sente em relação a Deus e como deseja cultuá-lo. Mas, dirigir-se a Deus da forma como desejamos, desconsiderando os padrões por ele estabelecidos é profanar sua santidade.

Sem afeição natural

Cada vez mais ensimesmadas, as pessoas preferem se “relacionar” por meio de uma tela, construindo relacionamentos superficiais que podem ser descartados com apenas um clique. Os vínculos estão cada vez mais difíceis de serem criados e mantidos, os relacionamentos se tornaram líquidos. O único afeto realmente valorizado é aquele voltado para si mesmo, mas, quem muito se ama, no fim, não consegue ama a ninguém.

Falta de reconciliação

Uma vez que as pessoas se julgam autossuficientes, já não existem esforços para manter relacionamentos saudáveis. Sem a ênfase do perdão as pessoas são descartadas e substituídas como se fossem objetos que já não servem mais e precisam ser trocados. Buscar reconciliação é humilhar-se e auto humilhação é um insulto ao amor próprio.

Calúnia

A quebra do nono mandamento se tornou praxe em nossos dias. Caluniar o outro é um dos passatempos favoritos dos amantes de si mesmos. Deixando de enxergar seus próprios defeitos muitos preferem gastar seu tempo avaliando, apontando e fazendo críticas à vida alheia.

Incontinência

 A incontinência tem deixado um rastro de destruição na sociedade. Diante da incapacidade de controlarem a si mesmos, os homens têm sido dominados por sexo, comida, entretenimento e todo o tipo de excessos. Por causa da incontinência as pessoas são capazes de destruir famílias inteiras a fim de suprir suas “necessidades pessoais” e correrem atrás de sua autorrealização.

Crueldade

As pessoas têm se tornado frias ao ponto de serem cruéis sem nenhum pesar. O amor próprio só pensa em si mesmo, não enxerga o outro, passa por cima, zomba e humilha a quem quer que seja para se exaltar e se auto afirmar.

Falta de amor para com os bons.

A bondade deixou de se enaltecida e passou a ser considerada uma fraqueza. Os bondosos, antes amados e admirados, passaram a ser vistos como pessoas tolas e fáceis de serem enganadas.

Traição

Capazes de trair, quem quer que seja, a fim de manter o amor próprio a salvo, as pessoas têm perdido todo e qualquer senso de lealdade. A traição deixou de ser vergonhosa e passou a ser justificada. As pessoas já não são confiáveis, nem confiam em ninguém.

Obstinação

A obstinação se refere a um apego excessivo às próprias ideias. As ideias e opiniões pessoais têm sido excessivamente valorizadas, tornando-se quase uma verdade absoluta que deve ser respeitada por todos. Embora seja vista como determinação, a obstinação não passa de teimosia.

 Orgulho

Ao invés de se envergonharem de sua condição e buscarem a Deus, os homens passaram a exaltar e enxergar a si mesmos como bons, dignos de todo admiração e reconhecimento. O orgulho impera; os homens preferem viver sem Deus e continuar em seus prazeres; seus corpos são seus próprios templos e seus desejos sua própria lei.

Falsa piedade

A falsa piedade é o último dos pecados apresentados pelo apóstolo Paulo. Ela resulta de uma profunda letargia moral e espiritual, pois, embora os homens estejam vivendo em sua pior condição eles não se dão conta de sua realidade. É triste constatar que nossa geração ainda se enxergue como o sumo bem da humanidade; acreditando que que está tornando o mundo um lugar definitivamente melhor.

A despeito da aparência de piedade e bondade, dos belos discursos que exaltam o amor e parecem se importar com o próximo, no fundo as pessoas estão condicionadas a se importarem somente consigo mesmas. Têm aparência e discurso de piedade, mas não a manifestam na prática.

Diante de todas as evidências apresentadas, a resposta a questão: o que há de tão nocivo no amor próprio? É simples e direta, o amor próprio torna o nosso mundo um lugar absorvido em si mesmo. Um lugar sem amor.

Diante da mentalidade pecaminosa que caracteriza os últimos dias, o apóstolo Paulo expressa claramente qual deve ser a posição do cristão: “Destes afasta-te” (2 Tm 3:15). Essa é a postura que a Escritura nos convoca a assumir, uma postura de inconformidade. Precisamos sábios e muito prudentes na maneira como nos relacionamos com o mundo, pois, embora estejamos no mundo, não somos do mundo.

Ainda que o mundo, muitas vezes, pareça ter uma aparência de piedade e um discurso convincente, precisamos estar alertas para que não sejamos enredados por suas vãs filosofias. Tal como disse o apóstolo João, precisamos provar os espíritos para saber se procedem de Deus (1 João 4:1-2). Em outras palavras, é preciso avaliar criteriosamente cada pensamento e conceito que vêm até nós, mesmo estando travestido de amor e piedade. Pessoas podem falar de amor, amar a humanidade, odiar as injustiças e ainda assim serem inimigas da cruz de Cristo em sua conduta e pensamento.

 Há esperança para o amor?

Sim, há esperança, e à luz de 1 Coríntios 13:13 podemos afirmar que mesmo se falhar a esperança o amor prevalecerá, pois o amor nunca falha.

Em Cristo temos a fonte inesgotável do amor de Deus. Nele encontramos não somente amor, mas também favor. Somente em Cristo conseguimos estar em um mundo de ódio e desafeto sem termos parte com ele (Jo 17:14 – 17). Somente em Cristo nosso amor autocentrado é quebrado e remodelado para ser vaso de barro que manifesta a glória de Deus (2 Co 4:7).

C.S. Lewis escreveu que o amor “torna-se um demônio no momento em torna-se um deus”[1]. Isso não poderia ser mais verdadeiro. O amor é algo bom, Deus o criou, mas quando a fonte do amor deixa de ser Deus, criamos ídolos; nos tornamos nossos próprios deuses e passamos a devotar nosso amor a criaturas e objetos. Mas, enquanto a fonte inesgotável do amor existir sempre haverá esperança.

O amor quebra para construir sobre um alicerce correto. Ele é o meio mais eficaz que Deus concedeu aos homens que se assemelhem a Ele

No Amor de Cristo,

Prisca Lessa

[1] LEWIS, CS Os quatro amores . Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017, p. 12)

[1] Jz 21:25