A pornografia te afeta, mesmo se você não olhar

A pornografia ganhou muita atenção hoje ao ser noticiada a morte de Hugh Hefner. Cada vida deixa uma pegada – algumas maiores que outras. O fundador da revista Playboy, de fato, deixou um legado. Grande parte do mundo está celebrando a “liberdade sexual” que ele introduziu em nosso mundo. Em vez disso, meu coração lamenta. Eu vi o impacto da pornografia em homens, mulheres e crianças. Este tipo de “liberdade” é realmente escravidão.

Uma pesquisa recente revelou que aproximadamente 85% dos homens interagem com material pornográfico de forma mensal. A exposição precoce e o vício em pornografia estão aumentando rapidamente, com meninos e meninas ficando viciados antes da adolescência. Estamos aprendendo mais sobre o impacto negativo da pornografia na saúde e nos relacionamentos sexuais e emocionais das pessoas. Sabemos que a pornografia mata a intimidade, mas agora estamos aprendendo que a pornografia está sabotando os relacionamentos antes mesmo de começarem. Se você já usou ou não pornografia, isso está afetando você. Por quê? Porque o amplo uso e aceitação da pornografia mudou as normas e expectativas sexuais em nossa cultura.

Seja você casada ou solteira, é importante que você entenda como a pornografia impactou a maneira como você e as pessoas ao seu redor pensam sobre sexo.

A pornografia diminuiu o valor do sexo

Tenho estudado a pesquisa dos sociólogos Mark Regnerus e Jeremy Uecker em seu fascinante livro Premarital Sex in America [“Sexo antes do casamento na América”]. Eles explicam que a sexualidade não acontece no vácuo, mas os relacionamentos românticos são impactados pelas atitudes e crenças da cultura.

Regnerus e Uecker observam que as mulheres sempre estabeleceram o “preço” por sua sexualidade. Quando o desejo sexual de um homem o leva a uma mulher, ela determina o que ela requer para sua sexualidade. Ela é a “porteira” da sexualidade. De acordo com o desígnio de Deus e muitas normas culturais passadas, o “preço” da sexualidade de uma mulher tem sido que um homem deve assumir um compromisso vitalício de amá-la e sustentá-la.

A pornografia deu aos homens uma saída sexual que não exige nada deles. Regnerus e Uecker escrevem: “a onipresença e a qualidade percebida da pornografia digital tem a capacidade de saciar sexualmente mais homens – e com mais frequência – do que nunca…. Se a pornografia e a masturbação satisfazem parte da demanda masculina por relações sexuais – e claramente satisfaz – isso reduz o valor da relação sexual real” (p. 99).

Em outras palavras, os homens estão menos dispostos a se sacrificar e se comprometer com uma mulher para ter acesso ao seu corpo. Uma vez que o valor do sexo em nossa cultura diminuiu, as mulheres (e meninas) sentem que não podem exigir compromisso sexual. Eles estão mais dispostos a fazer sexo por alguns encontros ou mesmo por algumas horas de atenção. Daí a cultura da “pegação” e a tendência crescente de morar junto em vez de se casar.

Embora uma mulher possa desfrutar de sexo sem compromisso no momento, o impacto a longo prazo de muitos parceiros sexuais provavelmente a afetará nos próximos anos. Deus projetou uma mulher para se conectar com um homem através da intimidade sexual. Quando uma mulher está envolvida sexualmente fora do casamento, é provável que ela experimente culpa, arrependimento, auto-aversão temporária, ruminação, diminuição da auto-estima, sensação de ter decepcionado a si mesma, desconforto por ter que mentir ou esconder o sexo da família, ansiedade sobre a profundidade e o curso do relacionamento e preocupação com o lugar do sexo no relacionamento (p. 137).

Fazer sexo fora de um relacionamento comprometido ou com vários parceiros ao longo da vida está associado a uma saúde emocional ruim nas mulheres. Regnerus e Uecker escrevem: “Mesmo o casamento não apaga os desafios emocionais para as mulheres que tiveram vários parceiros sexuais em sua vida” (p. 149). Quando os homens usam pornografia, as mulheres são criadas para a solidão, o arrependimento e a pressão para comprometer sua saúde espiritual e emocional.

A pornografia mudou as expectativas quanto ao que é normal

Mesmo dentro do casamento, podemos ver o impacto de uma cultura que abraçou a pornografia e o sexo sem apegos. Uma das perguntas mais comuns que recebo sobre sexualidade diz respeito a casamentos jovens em que os homens não estão interessados em sexo. Eu ouço de um número crescente de jovens esposas que estão devastadas por terem que pedir sexo, se perguntando por que ele não está iniciando. Embora existam muitas razões possíveis para essa tendência, sem dúvida o maior culpado é a pornografia.

Quando rapazes crescem vendo pornografia e satisfazendo seus desejos por meio da masturbação, aprendem a ver o sexo na posição de um consumidor. Eu devo conseguir o que quero, quando e como quero. Sexo é sobre obter prazer, excitação e uma liberação para benefício pessoal. A pornografia não exige nada de uma pessoa, mas existe para atender imediatamente a todas as fantasias sexuais. A pornografia treina a resposta sexual de uma pessoa para ser impaciente, egoísta e sempre exigindo algo mais excitante do que você experimentou da última vez.

Transfira essas crenças para um relacionamento sexual no casamento e você terá um desastre. Fazer sexo com uma pessoa real que tem sentimentos e suas próprias necessidades sexuais significa que você tem que ser paciente, compreensivo e altruísta. A maior parte do sexo dentro do casamento será “normal” (sem brinquedos, posições estranhas, dramatização e fantasias bizarras) e não atenderá ao apetite por algo maior. Levará anos e trabalho duro para construir uma intimidade verdadeira enquanto vocês exploram o dom da sexualidade juntos. Em vez de trabalhar para esse objetivo magnífico, o homem (ou mulher) envolvido com pornografia provavelmente voltará a um alívio sexual que não demanda nada.

Embora a pornografia pareça não exigir nada, ela eventualmente acaba roubando tudo. Não fomos criados para uma série de experiências sexuais extremas. Somos projetados para uma intimidade autêntica, celebrada e expressa através do sexo com uma pessoa real que está comprometida em amá-lo por toda a vida. Eu nunca conheci um homem ou uma mulher que estivesse realmente satisfeito com pornografia. O uso de pornografia pode ser “normal”, mas isso não sugere que seja saudável.

O que você pode fazer

Embora este post não seja exatamente animador, espero e oro para que ele desafie você a confrontar a aceitação da pornografia em sua vida, em seu casamento e em nossa cultura. Usar pornografia (incluindo livros e filmes eróticos) não é apenas uma escolha pessoal. É uma decisão que impacta as pessoas e até a cultura ao nosso redor.

Autora: Dra. Juli Slattery

Tradutora: Giulia Alcântara

Link para texto original: https://www.authenticintimacy.com/resources/3623/porn-affects-you-even-if-you-dont-look-at-it