A necessidade do serviço cristão

“Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de toda a sua mente’. Este é o primeiro e o maior mandamento. O segundo é igualmente importante: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. Toda a lei e todas as exigências dos profetas se baseiam nesses dois mandamentos. ” (Mateus 22:37-40)

Jesus, quando questionado maliciosamente sobre qual seria o mandamento mais importante de todos, respondeu não apenas com um, mas com dois mandamentos em sequência — amar a Deus e amar o próximo. Por fim, ele concluiu dizendo que ambos são igualmente importantes.
Naquele momento, o orgulho precisou dar um passo para trás. O orgulho, que motivou a queda humana e que anula toda e qualquer necessidade de serviço, teve sua tese levada por água abaixo.
A causa defendida por esses dois mandamentos é tão grande, que não há espaço somente para o “eu”. É necessário mais. É preciso viver para Deus e para o outro.

Eu e você nascemos para colocar a mão no arado, suar e diminuir a nós mesmos.
Você pode pensar que essa não é uma exclusividade do cristianismo, afinal, outras religiões pregam a necessidade de se fazer pequeno em favor dos outros. Isso é verdade. Porém, o que muda é o propósito para o qual deixamos o orgulho e servimos.Deus é quem nos chama. E nós, deixando a nossa incapacidade, confiamos que Ele conduzirá nossas mãos, pés e coração para o serviço. Tudo para a glória dEle (Romanos 11:36). Portanto, o nosso compromisso último é para com Ele, com Sua glória, Seu nome, Seu amor e, em sequência, temos um chamado igualmente importante: servir aos Seus filhos.

Espelhando-se em Cristo e vencendo o pior dos pecados
C.S.Lewis diz, em seu livro Cristianismo Puro e Simples, que o orgulho é o Grande Pecado. Segundo ele, “O orgulho é a galinha sob a qual todos os outros pecados são chocados.”
O orgulho motivou a Queda. O orgulho mantém, dentro de sua fortaleza, armas de egoísmo tão poderosas, que a batalha contra ele é sempre duramente vencida. No orgulho, encontramos as mais confortáveis desculpas para, de um lado, acomodar o ego, e, de outro, ignorar a Deus e àqueles que foram feitos à sua imagem. No drama das Escrituras, porém, encontramos Aquele com quem podemos aprender a deixar o orgulho. Quando olhamos para Cristo, encontramos a vida perfeita do homem perfeito, que, de modo humildemente perfeito, doou-se em favor de muitos.

“Embora sendo Deus, não considerou que ser igual a Deus fosse algo a que devesse se apegar. Em vez disso, esvaziou-se a si mesmo; assumiu a posição de escravo e nasceu como ser humano. Quando veio em forma humana, humilhou-se e foi obediente até a morte e morte de cruz." (Filipenses 2:6-8)

O exemplo de Cristo é a razão que nos motiva a servir. É necessário que tenhamos a mesma atitude demonstrada por Ele (Filipenses 2:5). Nas palavras de John Piper:

“Em Cristo, é criada a “mente de Cristo” que exalta a Deus (Gl 6.15; Fp 2.5). No centro dessa novidade está o milagre de que “por humildade [consideramos] cada um dos outros superiores a [nós] mesmos” (Fp 2.3). Esse é o fim do orgulho”. [1]

A necessidade do serviço cristão

A necessidade do serviço cristão nasce do amor genuíno por Deus e por nossos irmãos, tendo em vista os dois principais mandamentos apontados por Jesus. O amor é o que motiva o serviço, e “sabemos o que é o amor porque Jesus deu sua vida por nós. Portanto, também devemos dar a nossa vida por nossos irmãos.” (1 João 3:16). O apóstolo João continua a sua declaração sobre a verdadeira face do amor cristão e diz: “Se alguém tem recursos suficientes para viver bem e vê um irmão em necessidade, mas não mostra compaixão, como pode estar nele o amor de Deus?”
Através do amor, reconhecemos que somos cooperadores de Deus e que o Espírito que move os nossos corações também move nossas mãos. O serviço cristão é uma necessidade inerente à Igreja e se fortalece à medida que desenvolvemos um entendimento mais profundo sobre ela.

A igreja de Cristo é dinâmica. Ela funciona com base na complementariedade de seus membros e, jamais, deve ser reduzida ao individualismo. O cristianismo é coletivo. Não podemos e não devemos viver a vida cristã de modo individual e automático. O chamado de Deus aos crentes é de unidade e propósito (1Co 12:5; 1Co 12:25). Desse modo, o motor da Igreja é o serviço.

“Deus estruturou o corpo de maneira a conceder mais honra e cuidado às partes que recebem menos atenção. Isso faz com que haja harmonia entre os membros, de modo que todos cuidem uns dos outros. Se uma parte sofre, todas as outras sofrem com ela, e se uma parte é honrada, todas as outras com ela se alegram.” (1 Coríntios 12: 24-26)

A igreja compartilha a dinâmica do serviço, e isso mantém a estrutura fortalecida. Servir, para o cristão, não é uma opção. Faz parte do que ele foi criado para fazer.

A mulher cristã e o serviço: exemplos que inspiram

Em Lucas 8:1-3, nos deparamos com a atitude servil de algumas mulheres seguidoras de Jesus. Gosto da ênfase que Lucas dá ao papel delas. Ele destaca que a cooperação feminina contribuiu com o ministério de Cristo aqui na terra. É lindo pensar que algumas mulheres — a maioria delas, anônimas — puseram suas vidas e seus bens à disposição do Mestre para que ele fosse servido. E não somente ele, mas também seus companheiros de jornada. Imagine quão honroso foi para cada uma delas ter sido útil para o Rei dos reis?! De alguma forma, ter contribuído para a jornada de salvação?! Servir é sempre um prazer, e ser útil para o reino de Deus é um prazer ainda maior.
Mas o exemplo de serviço não era exclusividade dessas mulheres. Ao longo de toda a história da Igreja, o papel colaborativo feminino sempre pôde ser observado; ainda que, diversas vezes, com menos notoriedade. Ainda assim, a pouca visibilidade não diminui, em nada, sua relevância.

Vários exemplos de doação e amor puderam ser observados na vida de mulheres nos primeiros séculos da História da Igreja. Podemos citar, por exemplo, a história de Olímpia, uma jovem da alta sociedade romana que dedicou todos os seus bens aos outros e à Igreja.
Sobre ela, João Crisóstomo — considerado um dos pais da igreja — escreveu:
“Essa mulher garantiu, sozinha, que os bispos da ‘Cidade Regente’ desfrutassem de recursos, tanto para o alívio dos pobres quanto para o entretenimento adequado dos ambiciosos, equivalentes aos que foram esbanjados nos Lugares Santos de Jerusalém por uma romana auto exilada como Melânia”. [2]
As mulheres eram ágeis em assumir posições de serviço durante o período da igreja primitiva. Elas se ocupavam em satisfazer as necessidades dos menos abastados e tinham prazer em doar seu tempo e seus bens em favor da comunidade. Com isso, contribuíam com a reputação social mantida pela Igreja no início do cristianismo.

“O amor uns aos outros era o atrativo mais forte da nova religião. Os cristãos se tratavam por irmãos e suas reuniões eram denominadas ágape […] Ajudavam-se mutuamente sem alardes nem arrogância”. [3]

Suas mãos haviam sido preparadas pelo mesmo Senhor que deixou a glória para servir a homens pecadores. Seus corações eram motivados pela mesma Palavra que as instruiu a seguir os passos de Cristo. Assim, sigamos o exemplo daquelas que O seguiram.

“Portanto, meus amados irmãos, sejam fortes e firmes. Trabalhem sempre para o Senhor com entusiasmo, pois vocês sabem que nada do que fazem para o Senhor é inútil. ” (1 Coríntios 15:58)

Por Ana Karolina Brito

Referências:
[1] PIPER, John. Racismo Estrutural. Voltemos ao evangelho. Disponível em: https://voltemosaoevangelho.com/blog/2020/06/racismo-estrutural/
[2] BROWN, Peter. Corpo e sociedade, p. 236 (Retirado do livro Vozes femininas no início do cristianismo, Rute Salviano, p.227)
[3] SALVIANO, Rute. Vozes Femininas no início do cristianismo, p. 76.