A Bíblia é uma fonte confiável para mulher?

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Nas últimas décadas do século XX a teologia cristã passou a ser afetada pela consciência feminista que se desenvolveu a partir da América do Norte e desde então, certos questionamentos a respeito da Bíblia têm sido levantados.
Alguns afirmam que a Bíblia é um livro que não contempla a mulher, pois foi escrita por homens – numa sociedade machista e patriarcal (GRENZ; J e MILLER, 2011). Sendo assim, a menos que seja reinterpretada sob uma ótica feminina, ela não deve ser considerada um livro confiável, pois é feita por homens e para homens. Lamentavelmente, tais questionamentos nem sempre partem de pessoas não cristãs. Rosemary Radford Ruether, uma importante teóloga cristã, foi uma das precursoras deste pensamento (GRENZ; J e MILLER, 2011).
Passou-se a relativizar a Bíblia afirmando-se que boa parte de seus escritos são fruto da cultura da época em que foi escrita. Sendo, portanto, apenas questões culturais e não padrões absolutos. Como disse Schaeffer, “A Bíblia [passou a ser] adaptada à cultura e à sociedade quando, na verdade, deveria julgá-las” (SCHAEFFER, 2010, p. 281).
Na tentativa de conciliar o conceito moderno de igualdade de gêneros com o conteúdo bíblico, muitos cristãos têm negado a inspiração [1]  dos textos bíblicos que contrariam o pensamento moderno.
Paul Jewett, um proeminente teólogo cristão que advogou em prol da igualdade plena entre homens e mulheres no contexto eclesiástico, afirma que os escritos paulinos a respeito da mulher revelam sua mentalidade dividida entre a velha interpretação rabínica e o pensamento revolucionário de igualdade plena entre homens e mulheres ensinado por Jesus (STOTT, 1990).
Segundo o autor, como apóstolo do Cristianismo revolucionário, Paulo falou decisivamente em favor da liberação feminina, porém, como um rabino judeu ele falou decisivamente em favor da submissão feminina. Segundo ele, essas duas visões incompatíveis se devem ao fato de que “a Escritura é tão humana quanto divina” (JEWETT, 1975, apud STOTT, 1990, p. 266) e os insights que o apóstolo Paulo teve estavam historicamente limitados. Em outras palavras, o autor considerou que nem todas as palavras de Paulo foram inspiradas por Deus.
Muitos textos têm sido usados fora de seu contexto e, com base nestes recortes, afirma-se que a visão bíblica a respeito da mulher é opressora. Todavia, uma leitura honesta das Escrituras é suficiente para mostrar que ela não contém qualquer ensino degradante a respeito da mulher. A visão sexista, muitas vezes atribuída a ela se deve, a uma compreensão errônea – e pecaminosa, de seu conteúdo e não ao ensino em si.
As mulheres tiveram grande contribuição na história do povo de Deus e seu papel é visto ao longo de toda a narrativa bíblica. Se conceitos sexistas em relação às mulheres estivessem acima da inspiração bíblica, certamente elas sequer seriam incluídas nos textos sagrados. Os autores da Bíblia, considerados por muitos machistas, louvaram as virtudes das mulheres, incluíram-nas em suas genealogias e reconheceram seu testemunho e contribuição na história da salvação.
Em contrapartida, é preciso tomar cuidado para que, ao tentar justificar as Escrituras, acabe-se por negar o seu conteúdo e verdade. A sociedade moderna considera machista qualquer pensamento ou atitude que contrarie seus conceitos. A submissão, por exemplo, é um ensino bíblico que tem sido justificado sob o argumento de que se refere a um padrão estabelecido como consequência do pecado, ou ainda devido à concepção machista da época.
Ainda que certos conceitos sejam contrários ao pensamento moderno, não é a Escritura que deve se justificar e se dobrar ao pensamento moderno, pelo contrário. Se o pensamento moderno é inconsistente com a Bíblia, é ele que deve ser questionado e reavaliado, não a Bíblia.
Não há como negar que o pecado afetou o homem em todas as dimensões do seu ser. A Bíblia não oculta tais consequências, ela é franca ao mostrar como o pecado afetou a vida de homens e mulheres, justos e ímpios. É fato que o pecado deturpou o propósito de Deus para a humanidade, porém, o ensino bíblico é puro e a Palavra de Deus tem sido preservada durante milênios até chegar a esta geração.
A ortodoxia cristã compreende que toda a Bíblia é a Palavra de Deus igualmente inspirada, ela não contém erros. Sendo assim, qualquer análise bíblica fiel deve partir do pressuposto de que toda a Bíblia é a Palavra inspirada de Deus, conforme afirma II Timóteo 3:16 “Toda a Escritura é inspirada por Deus”. A Bíblia é uma fonte confiável, embora tenha sido escrita por homens, não foram quaisquer homens, mas homens escolhidos por Deus e devidamente capacitados para transmitirem fielmente a Sua Palavra. A soberania Divina está acima das limitações humanas e a mulher que crê em Deus deve estar convicta de que a Palavra de Deus é uma fonte confiável para conhecer a Deus e a si mesma.

[1] Conforme definição encontrada em GRENZ, GURETZKI e NORDLING (2000, p. 76), refere-se “[…] a obra do Espírito Santo de capacitar escritores humanos a registrar o que Deus desejava que fosse o conteúdo das Escrituras […] a maioria das teorias evangélicas da inspiração sustentam que o Espírito Santo orientou divinamente a redação das Escrituras”.
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