Decepcionadas com a igreja


Você conhece um cristão que critica avidamente a igreja? Lembra-se de alguém que faz tantas análises que parece não haver uma denominação boa o suficiente? Pense um pouco e veja quantas pessoas surgem em sua mente. Algumas são famosas, outras, fazem parte da sua família, e há aquelas que você encontrou pelas redes sociais.

Há pessoas tão desapontadas com o corpo de Cristo que dizem não fazer sentido continuar frequentando um espaço repleto de pecadores. Elas estão profundamente feridas: foram enganadas, roubadas ou duramente esquecidas. 

Há casos que ofendem os nossos olhos. ‘‘Não dá para acreditar!’’, reforçamos. Denominações ganham seu espaços nas metrópoles, nas mídias, no coração dos fiéis e, de repente, os mais repulsivos erros são descobertos. É possível não ficarmos contrariadas? Paulo de Tarso diria que não.

Em Gálatas, o apóstolo observou que as pessoas se detestavam. Elas se ofendiam, puxavam o tapete umas das outras e desejavam o mal para os seus irmãos. Queriam mesmo era se destruir (Gl 5:15). Já na igreja de Tessalônica, ele percebeu que os membros não queriam saber de trabalhar. Eles eram preguiçosos, indispostos e ainda se intrometiam em assuntos alheios (2Ts 5:15). Paulo também disse que a igreja de Corinto era repleta de invejosos. Nem pareciam crentes de verdade, pois viviam brigando (1Co 3:3). Imagine quanto desgosto: além de todas as preocupações que o apóstolo enfrentava em seu ministério, ainda precisava lidar com as mesquinhas brigas dos membros das igreja. Podemos pensar: “Que absurdo! Eles ouviam a Palavra e continuavam errando. Jamais faríamos isso!”

Mas, veja só, não parou por aí. A igreja de Roma, de Éfeso e tantas outras receberam profundas críticas. Paulo estava consternado com tamanhas problemáticas envolvendo o corpo de Cristo, assim como muitas de nós. Em toda a Bíblia, porém, não encontramos sinais de desistência vindos de sua parte.

Está escrito: Não há um justo, nem um sequer (Rm 3:23; ênfase da autora). E podemos aplicar esse versículo às igrejas que encontramos em nossos bairros. A cada esquina, há uma placa promovendo a salvação. Mas também há o lobo em pele de cordeiro, o leão faminto que ruge em busca de sua vítima e o homem que é maldito por confiar em outro. Não há uma denominação em que possamos encontrar a imagem de Cristo em seu perfeito estado.

Mas, afinal, se não há igreja boa o suficiente, para onde iremos? Nós sabemos e cremos que só o Senhor é o Santo de Deus, e Ele mesmo é quem nos afirma: “Pois, onde dois ou três se reúnem em meu nome, eu estou no meio deles” (Mt 18:20). Entenda, Ele não diz: “Onde estiverem dois ou três crentes mansos, dispostos a trabalhar e livres de inveja, aí estou eu no meio deles.” O próprio Deus, que compreende a incapacidade de sermos estavelmente justos e corretos, garante a sua presença sem exigir qualquer outra atividade além da reunião que é feita em seu nome. 

Mas nós devemos permanecer na igreja, apesar de todos os erros?

Há algo que precisamos compreender sobre a permanência no Corpo: não é porque desistimos de uma igreja local que desistimos da Igreja de Cristo. Entenda que há denominações abusivas, mentirosas, que promovem um falso Evangelho, em que há mais de dois ou três, e até milhões, reunidos, mas essa mesma reunião não é feita em nome do Deus Verdadeiro. Em muitos casos, é feita em nome de outros deuses, como o dinheiro, por exemplo. Por isso, a busca por uma parte do Corpo que reflita a imagem de Cristo continua para muitos. 

Julgue segundo a reta justiça, ore e permaneça. Essa é a única chance que temos de servir a Deus de maneira imperfeita. Por isso, não releve qualquer erro. Encontre os pecados da igreja e insista em desmanchá-los diante da graciosa Palavra de Deus, que nos instrui. Apresente suas dúvidas, aquilo que não está correto, de acordo com a Escritura, converse com seus irmãos sobre isso.

E não se esqueça de que é impossível desistir. Aqui estamos, alicerçadas na Rocha. O que há de melhor nesta jornada caída é ser encontrada pela graça de Deus, que sempre superabundou sobre o pecado e, justamente por isso, é que nunca pensou em abandonar a sua confusa, difícil, errante e amada igreja. Se for preciso, contrarie-se para a glória de Deus e procure uma igreja local fiel à Palavra e ao Deus da Palavra. Sim, é possível que, ferida, você acredite que não existe comunidades cristãs saudáveis. Mas, acredite, elas existem. Que o Senhor a ajude a encontrar uma.

Luísa Coutinho