Alimentação saudável: o que a sua alimentação diz sobre você?

Eu acho que alimentação é um assunto que mexe muito conosco, as mulheres. Isso porque não consideramos a comida apenas como algo para encher nossos estômagos e nutrir os nossos corpos, mas temos uma relação emocional com ela – muitas vezes, de amor e ódio, não é mesmo? Bem, pelo menos, para mim foi assim por muito anos. 

Durante a adolescência, lidei com transtornos alimentares leves e mais graves. Muito influenciada pela mídia que eu consumia naquela época – videoclipes e novelas juvenis – eu sempre quis ser magra e tinha pavor da ideia de ganhar peso. Então, aos doze anos eu já era obcecada pelo assunto alimentação saudável. Eu amava comer, mas odiava a ideia de me olhar no espelho e não ter o corpo magro que eu ansiava. Com o passar do tempo, isso acabou gerando compulsões alimentares; em alguns momentos eu comia muito e, de repente vinha a culpa, então, eu ia para o banheiro vomitar aquilo que eu havia comido e passava alguns dias quase sem me alimentar, ingerindo apenas líquidos para “compensar”. Foram anos nessa luta, até compreender que eu estava vivendo debaixo de um jugo do qual precisava ser liberta. E, graças a Deus, isso aconteceu. 1

Porém, as consequências psicológicas disso ainda me seguiram por muito tempo. Minha relação com a comida era sempre de descontrole ou de repulsa. Até que comecei a compreender que eu precisava entregar essa área da minha vida a Deus e submetê-la ao Seu domínio bondoso e perfeito. Sim, Deus se importava com o que eu comia e, comer desenfreadamente ou com restrições, estava revelando um ídolo em meu coração. 

“São líderes que proíbem o casamento e ordenam a abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos com ações de graças pelos que são fiéis e estão bem firmados na verdade. Pois tudo o que Deus criou é bom, e, nada deve ser rejeitado, se puder ser recebido com ações de graças.” (1 Tm 4:3-4)

Assim como disse Paulo a Timóteo, Deus criou os alimentos para serem recebidos com ações de graças e eles não devem ser rejeitados. Compreender isso foi o início de mudanças profundas em minha vida alimentar. Eu não precisava odiar a comida, nem mesmo deixar que ela me governasse, nutrindo um afeto desenfreado, mas eu deveria me relacionar com ela de maneira saudável para a glória de Deus. Aprender isso fez muita diferença. 

Com o passar dos anos, continuei me interessando pelo tema alimentação, sempre buscando uma perspectiva cristã sobre esse assunto. Hoje em dia, o tema alimentação saudável está em alta, as pessoas, inclusive os cristãos, estão cada vez mais preocupados com os alimentos que consomem e têm buscado alternativas para comerem comidas que sejam não somente saudáveis, mas saborosas. Eu amo cozinhar e como esposa e mãe, busco manter uma alimentação equilibrada para a nossa família, reduzindo ao máximo o consumo de alimentos ultraprocessados e tentando optar por alimentos mais saudáveis. 

Contudo, em meio a esse cenário, percebo que existem dois extremos quando o assunto é alimentação. Por um lado, há aqueles que se entopem de “alimentos” industrializados que trazem muitos malefícios ao corpo, e não se importam com isso simplesmente porque esses alimentos lhes causam prazer e viciam seus paladares. Eles não estão muito preocupados com as consequências de sua alimentação a médio e longo prazo. Seu apetite desenfreado pela comida parece ser tudo o que importa, fazendo com que a comida deixe de ocupar o lugar de servo e passe a ocupar o lugar de senhor. Eles não conseguem dizer não a ela, apenas “sim, senhor”. 

Por outro lado, no extremo oposto, vejo muitos cristãos que, na ânsia de buscar uma alimentação mais saudável, acabam demonizando certos alimentos, sendo reféns daquilo que a ciência diz sobre eles – como se fosse uma regra de fé infalível – e deixando de comer com alegria, além de colocarem um jugo pesado sobre aqueles que não se alimentam como eles. 

“Deus poderia ter escolhido nos alimentar por meio de uma insípida pílula verde. Mas, Ele nos abençoou com esses prazeres e então nos deu a habilidade, porque temos cérebros e línguas, de manipular esses produtos brutos e então as coisas são ainda mais prazerosas. Isso tudo está em Gênesis 1. É isso que Deus está dizendo: “toma isso tudo, vai!”. A Bíblia imediatamente nos diz que Deus não é anti-prazeres. Ele é glorificado através de minha apreciação nos prazeres que Ele providenciou.”2 (Paul Tripp)

Deus criou o alimento não somente para a nossa nutrição, mas para o nosso prazer. Se não fosse assim, a comida poderia ser insípida, não faria a menor diferença. Contudo, Ele criou sabores, texturas, cores, formas e nos deu papilas gustativas capazes de detectar toda sorte de sabores: doces, salgados, azedos, amargos e a capacidade de misturarmos esses sabores e nos deleitarmos nessa maravilhosa experiência que é comer. 

Assim como existe perigo no vício de comermos apenas aquilo que nos apetece sem nenhuma responsabilidade com o que estamos ingerindo, também existe perigo em nos preocuparmos tanto com o que comemos, que o alimento deixa de ser um motivo de graças e se torna um motivo de preocupação e inquietação constante. Quando reduzimos os alimentos apenas a gramas, calorias, carboidratos, proteínas e lipídios, estamos perdendo muito mais do que a balança é capaz de mensurar. 

A verdade é que tanto para aquele que come sem se importar com o que está ingerindo, quanto para aquele que se importa demais com o que está ingerindo, o alimento se tornou um ídolo. Se para um ele é quem dita as regras, para o outro ele se torna importante demais, o centro de suas preocupações. Quando passamos tanto tempo preocupadas com o que vamos comer, nos tornamos ansiosas e deixamos de confiar na providência de Deus. Precisamos sim zelar pelo alimento, mas sem nos esquecermos que a comida não salvará os nossos corpos, nem as nossas almas, somente Cristo pode fazer isso. 

Querida irmã, Deus deseja ser glorificado na explosão de sabores que ocorre quando comemos. Ele não quer que comer se torne algo sem graça; que comer se torne mera questão de proteínas, lipídios, carboidratos, frutose e lactose. Mas que haja deleite, que haja ações de graças pelo alimento disponível. E que nos lembremos também de que a comida não deve reinar sobre nós, pelo contrário, nós devemos reinar sobre ela, colocando-a em seu devido lugar. Comer deve ser um ato de deleite, mas, antes disso, deve ser um ato de glorificação a Deus. 

A forma como nos alimentamos tem muito mais a ver com o nosso coração do que com o nosso estômago. Você pode se alimentar mal porque a comida se tornou um ídolo para você na mesma proporção em que você pode se alimentar bem porque a comida se tornou um ídolo para você. No fim das contas, seu coração pode ser um deus tanto quanto seu estômago pode ser um deus em sua vida. 

O nosso corpo é templo do Espírito Santo, e isso é um lembrete de que não mais vivemos para fazer a nossa vontade, mas a dEle. Em 1 Co 6:12, Paulo diz “Tudo me é lícito, mas eu não me deixarei dominar por nada”. O alimento não deve exercer domínio sobre nós, ele foi dado para nos servir, e não o contrário. 

        Eu creio realmente que, como cristãos, precisamos criar uma cultura de consumo de menos alimentos ultraprocessados, porque sabemos que, o que está sendo produzido dentro das indústrias, muitas vezes não é alimento de verdade e está cheio de toxinas. É uma atitude de mordomia cristã comer bem para a glória de Deus. Contudo, isso não significa que não possamos comer nada processado e que não seja natural ou orgânico – a alimentação natural também pode se tornar um ídolo e uma régua orgulhosa para medir as outras pessoas, e isso também não glorifica a Deus. Talvez você não goste de saber, mas Deus é glorificado quando comemos nossas batatas fritas também!

Em Mateus 4:4 Jesus afirmou que “Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. Esse é um lembrete importante para nós em relação à alimentação. Muitas vezes, quando estamos cansadas e ansiosas, nos refugiamos na comida como lugar de afago e descanso, mas Jesus se apresentou como o descanso para o cansado e a resposta para os ansiosos. É nEle que devemos buscar o nosso conforto primeiramente, e não na comida. Creio que se vivêssemos a Palavra nessas dimensões tão práticas da nossa vida, até mesmo a nossa relação com a comida seria diferente. 

       Para além desse entendimento, em minha vida, a prática do jejum espiritual tem sido um meio de equilibrar e edificar a minha relação com a comida também. Não deixando que ela governe sobre mim, mas ensinando meu coração – meu estômago – que quem governa sobre os meus apetites é Cristo. Creio que o jejum é uma ferramenta santificadora dos nossos apetites e nos ajuda a aprendermos a exercer o domínio próprio em todas as dimensões. Ele deve ser parte dos nossos hábitos espirituais. 

Concluindo, minha irmã, Deus criou os alimentos para que, por meio deles, nós O glorifiquemos e O celebremos. “Comidas não foram feitas apenas para nos nutrir. Comida e prazer estão conectados porque Deus quis assim. Não precisamos sentir culpa ao comer pizza, hambúrguer e brigadeiro. Precisamos, sim, desenvolver uma postura de moderação, domínio próprio — e ações de graças.” (Raquel Borges) 

Se fizermos uma teologia bíblica da alimentação, veremos que a comida está presente em toda a Bíblia, de Gênesis a Apocalipse, e ela tem um significado muito mais profundo do que o mero ato de comer. 

Primeiramente, Deus criou todos os alimentos e os abençoou. Ele também colocou um alimento no Éden como símbolo de desobediência. O pecado entrou no mundo no momento em que Eva cobiçou esse alimento que Deus havia proibido. A passagem de Gênesis 3 é detalhista ao mostrar o quanto Eva desejou aquele alimento, o quanto ele se tornou tentador e apetitoso aos seus olhos ao ponto de cair na tentação e, junto com ela, Adão. Desde então, o alimento passou a exercer uma sedução sobre nós. Vemos na história de Esaú e Jacó um alimento sendo usado para cometer traição. Mas, vemos também, Deus usando a comida como símbolo de libertação ao instituir a Páscoa. E ao longo de todo o Antigo Testamento vemos diversas celebrações envolvendo a comida. Ah, irmãs, Deus gosta de ser celebrado por meio dos alimentos. 

Quando chegamos no Novo Testamento, o primeiro milagre de Jesus está relacionado a um alimento e a uma celebração. Também vemos Jesus comendo em diversas ocasiões, com “santos e pecadores”. Em Seus últimos momentos com os Seus discípulos, Ele instituiu o maior símbolo do Seu relacionamento com os Seus discípulos: a ceia, uma refeição servida de pão e vinho. Como disse Tish Warren “de todas as coisas que poderiam ser feitas ’em memória’ dEle, Jesus escolheu uma refeição”. E mesmo após a sua ressurreição, Jesus comeu pão e peixe com os seus discípulos. Mas há algo ainda mais glorioso que Ele nos deixou: a promessa de que, na nova vida, comeremos com Ele e nos alegraremos. No fim das contas, a comida terrena é apenas uma sombra da comida do céu. O pão do céu nós já conhecemos, o vinho nós já bebemos, e o restante do banquete desfrutaremos na eternidade. Que gloriosa verdade, querida irmã!

Que os nossos apetites nos levem a Cristo, que Ele seja a fonte máxima do nosso deleite. Que assim como Ele, possamos verdadeiramente afirmar que a nossa comida é fazer a vontade do Pai. Sejamos preenchidas não somente pelos alimentos, mas pela Presença que verdadeiramente sacia. E que ao comermos, a comida seja apenas um meio glorificarmos e celebrarmos Cristo. 

“Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.” (1 Co 10:31)

Por Prisca Mendonça

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Recomendações de leitura:

  1.  Se você está passando por transtornos alimentares é importante buscar ajuda espiritual e profissional. ↩︎
  2.  Tradução livre feita por Raquel Borges ↩︎