Recentemente, uma amiga recém casada me fez uma pergunta.
“Qual o propósito do casamento? Às vezes, eu penso sobre isso como sexo de graça e cuidar da casa. O casamento é apenas um acordo para viver sustentada financeiramente pelo meu marido, em troca de cuidar de uma casa e preparar refeições?”
A partir de uma perspectiva puramente pragmática, minha amiga está certa. O casamento é um acordo de barganha de bens e serviços. Até mesmo em um casamento menos tradicional, em que o marido talvez proveja cuidado, sexo e o cuidado das crianças enquanto a esposa “traz o bacon para casa”. O casamento também provê uma troca de bens menos tangíveis, como companhia e suporte emocional.
Se o casamento é apenas uma troca justa de bens e serviços, então faz todo sentido viver juntos sem um papel tornando o casamento legal. Afinal de contas, um homem e uma mulher podem trocar todas essas coisas sem estarem casados. E, se essa é a forma que vemos o casamento, nós deveríamos dissolver um casamento quando a troca entre marido e esposa não é mais justa. Na verdade, é por isso que a maioria dos casamentos se desfazem. O “acordo” não está mais funcionando.
Entretanto, o casamento é muito, muito mais do que isso. O verdadeiro significado do casamento não tem nada a ver com justiça e equidade. Os votos do casamento nunca disseram: “eu prometo te dar tanto quanto você me der” ou “eu te amarei enquanto o nosso relacionamento é justo.” O casamento não é um acordo, mas foi criado, desde o início dos tempos, para ser uma aliança.
Um design escrito em nossos corpos
No seu âmago, o casamento não é uma invenção cultural para manter as pessoas civilizadas. Sim, pesquisas têm provado que culturas que apoiam o casamento são mais estáveis do que aquelas que não o fazem. Isso porque nós fomos feitos para o casamento, e a vida funciona melhor quando vivemos de acordo com o design de Deus.
A essência do casamento está escrita em nossos corpos.
Eu tenho três filhos adolescentes. Por que é que, por volta da idade da puberdade, os três garotos ficaram fascinados por garotas? Se você tem filhas meninas, eu tenho certeza que você viu o mesmo “despertar” nelas. Por que é que, no início da vida adulta, há uma tensão entre escolher a intimidade versus permanecer seguro e isolado? Por que é que, somente dentro do contexto da promessa “até que a morte nos separe”, finalmente, temos a liberdade de parar de mostrar apenas o nosso melhor lado para a pessoa que amamos? E por que não há dor como a dor da traição e exploração sexual?
Essas não são qualidades evolutivas aleatórias da humanidade. Elas falam sobre um design. Um plano. Uma história escrita em nossos corpos. Dentro de cada um de nós, há um clamor por intimidade, um desejo de ser conhecido e um anseio de expressar completamente a alegria do amor. Esses impulsos podem ser esmagados pelo medo e até mesmo rejeitados, em razão da dor que já experimentamos, mas eles nunca irão embora completamente.
Uma história escrita em nossos corações
O drama do amor romântico e o cumprimento dele no casamento falam da história do amor de Deus por nós. Todo alto e baixo, a dor da espera desejosa, o êxtase de expressar amor, e até mesmo o tédio da fidelidade durante tempos tediosos são sombras do drama universal do Evangelho.
Frequentemente, em nosso relacionamento com Deus, nós O vemos como uma transação. Nós podemos pensar na religião apenas como mais uma troca de bens. Se eu agradar a Deus e fizer o que é certo, então Ele me deve felicidade, sucesso e saúde. Quando o “contrato” parece estar rompido, nós podemos nos afastar de Deus para encontrar outro relacionamento cósmico com um deus que irá jogar de forma justa. Mas Deus nunca te oferece um contrato. Ao invés disso, Ele oferece uma aliança… Um voto que nunca pode ser quebrado. “Enquanto você ainda era um pecador, eu morri por você” e “eu nunca te deixarei ou te abandonarei.” Ele pede confiança e fidelidade completa, até mesmo durante tempos onde nosso relacionamento com Ele não faz sentido.
Um Evangelho exposto através das nossas vidas
O novo casamento da minha amiga tem pouco a ver com quem cozinha as refeições e com qual frequência eles fazem sexo. Essas são as expressões diárias da promessa que ela e o seu marido fizeram de viver um Evangelho na frente de um mundo que está assistindo. Através dos desapontamentos e desafios, o amor deles será testado. Algum dia, eles enfrentarão uma encruzilhada da verdade: Nós apenas concordamos com um contrato de equidade ou nos comprometemos com um voto de amor?
O maior impacto da rejeição da nossa cultura ao casamento (e os impactos são muitos!) é que a mais tangível metáfora do Evangelho desapareceu. Raramente, encontramos um casal que compreende que os seus votos são mais do que a sua felicidade pessoal e satisfação.
Eu tenho o privilégio de ter um pai e uma mãe que ainda estão casados e se amando após 55 anos de casamento. Eles enfrentaram doença, estresse financeiro, discordâncias agudas, sucessos e fracassos. O exemplo que eles têm vivido diante de mim não apenas me dá esperança para o meu casamento, mas também me dá um vislumbre do que significa fazer um pacto de amor e mantê-lo.
Enquanto a nossa sociedade prega a supremacia da felicidade e satisfação pessoal acima de tudo, o chamado à fidelidade e ao compromisso nunca irão desaparecer completamente da humanidade. Por quê? Porque a esperança de tudo o que o casamento representa está escrita nos nossos corações com tinta permanente.
Autora: Dra. Juli Slattery
Tradutora: Giulia Alcântara
Link para o texto original: https://www.authenticintimacy.com/resources/3592/whats-the-purpose-of-marriage?source=blog
Sugestões de leitura sobre o tema:
O significado do casamento (Timothy e Kathy Keller)
Casamento temporário (John Piper)