5 maneiras como a igreja deve se posicionar em resposta ao abuso sexual dentro das suas paredes

Algumas semanas atrás, o mundo cristão foi abalado por uma revelação bombástica. Um relatório independente do Southern Baptist Convention (Convenção Batista do Sul do Estados Unidos da América)* documentou um padrão de silenciamento e desconsideração de vítimas de abuso sexual dentro da denominação.

Enquanto havia estrondos de dificuldades alguns anos atrás, até mesmo os líderes que demandaram a investigação ficaram horrorizados com o que ela revelou. Russel Moore, que foi um dos líderes a acionar o alarme, escreveu o seguinte em resposta ao relatório: “Eu estava enganado ao chamar o abuso sexual dentro da Southern Baptist Convention (SBC) de uma crise. Crise é uma palavra muito pequena. Isso é um apocalipse.”

No despertar de tais notícias, juntamente com o crescente tsunami de pastores caídos, abuso espiritual e vítimas marginalizadas, nós precisamos fazer algumas perguntas difíceis. Como isso aconteceu? Como tal mal pôde permanecer escondido? Como os nossos sistemas e estruturas atuais perpetuam esses padrões?

Eu já disse com certa frequência que “a sexualidade não é um problema para ser resolvido, mas um território para ser reivindicado.” Acredito nisso profundamente. Nós não podemos resolver o problema do abuso sexual, particularmente dentro da igreja, sem primeiro reivindicar o território que foi por tanto tempo ocupado pelo inimigo. Satanás tem avançado no silêncio, na vergonha, no legalismo e no orgulho, que tão frequentemente caracteriza os cristãos e a sexualidade.

Não é o momento de sermos apenas reativos mas também proativos. Nós precisamos lamentar e cuidar daqueles que foram tão profundamente feridos. Nós também devemos seguir em frente com uma determinação repleta de oração a fim de convidarmos o poder e a verdade de Deus para o território da sexualidade humana. Eu gostaria de sugerir cinco coisas que toda comunidade cristã deve seriamente considerar em meio aos nossos esforços de dizer “já chega!”

1. Nós precisamos falar sobre sexo

Nós não podemos reivindicar o território da sexualidade se nos recusarmos a falar sobre isso.
Talvez você conheça minha história. Enquanto moça, eu era tão relutante para falar sobre sexo quanto qualquer pessoa. Durante o período de ministério e o trabalho de Deus na minha própria vida, eu gradualmente disse “sim” para o chamado de iniciar conversas sobre sexo dentro da comunidade cristã.

De alguma forma, eu agora me encontro como alguém que é referida como uma “sexpert”, ou, mais formalmente, como uma “expert em sexualidade bíblica.” Com frequência, meus dias são preenchidos com perguntas sobre masturbação, desejos distintos no casamento, recuperação após a traição e perguntas sobre o movimento transgênero. Falar e escrever sobre questões sexuais é o meu novo normal.

Nossa história eclesiástica tem passado tradições relacionadas ao sexo que estão longe de serem bíblicas. Deus não estava envergonhado de falar sobre sexo, então por que nós estamos? Ao passo que essas conversas precisam ser tratadas com propriedade e sensibilidade, toda igreja e comunidade cristã precisam adentrar ousadamente no desconforto de se normalizar conversas sobre sexualidade.

2. Nós precisamos reconhecer o alcance da devastação sexual

Todos somos sexualmente quebrados.**

Como você se sentiria se descobrisse que o seu pastor tem tido dificuldades com pornografia desde que tinha oito anos de idade? Você pensaria diferentemente sobre ele se soubesse que ele foi sexualmente molestado quando criança? Como te impactaria descobrir que a maioria dos líderes da sua igreja tem problemas e dores sexuais significativas?

Estando eles abertos ou não a admitir isso, líderes cristãos não estão imunes de todas as formas de dificuldades sexuais. Infelizmente, nós geralmente não descobrimos como líderes lutam com relação à sexualidade até que seja tarde demais.

Enquanto líderes cristãos possam ter um maior conhecimento e possam ter sido chamados por Deus para o ministério, eles são humanos com feridas, tentações e fraquezas aguardando para serem exploradas pelo inimigo. Nós precisamos olhar para além do rei Davi e seu filho Salomão como evidência disso?

Quando negamos o alcance da dificuldade e devastação sexual, nós perpetuamos uma cultura de segredos. Em toda igreja e toda organização, existem todas as formas de tentação sexual, lutas e dores. Apenas quando admitirmos isso, criaremos responsabilidade mútua e um amplo caminho para uma ajuda que possa identificar e tratar problemas como esses que foram ignorados por décadas pela SBC.

3. Nós precisamos ouvir as mulheres

Não é bom que o homem esteja só.

Esse blog não é sobre se a igreja deveria ou não ordenar mulheres ou convidá-las para ensinar no púlpito. Dentro da comunidade Authentic Intimacy, temos pessoas que detém uma variedade de crenças com relação a esse tópico. Independentemente de qual lado você esteja quanto a esse assunto, a falta de vozes femininas nos círculos de liderança cristãos é uma dinâmica que perpetua a exploração.

Mulheres ouvem mulheres. Elas entendem como é se sentir objetificada e diminuída. Deus tem dado às mulheres uma intuição que, frequentemente, enxerga sob a superfície de eventos e palavras. Os homens na liderança seriam sábios se convidassem e elevassem entre eles as vozes de mulheres que tem discernimento.

4. Nós precisamos de todo o corpo de Cristo ativo no ministério

O corpo é feito de muitos membros.

O fluxo contínuo de falhas da liderança tem nos feito questionar o nosso atual modelo de igreja. Sim, a Bíblia afirma o papel de pastores, professores, e outros líderes. Ainda assim, Deus nunca pretendeu que o poder espiritual fosse para poucos tomadores de decisão.

O corpo cristão é feito de uma diversidade de dons, experiências e personalidades. O pastor não é o cabeça do corpo – Cristo é. Quando poucos detêm o poder de uma organização, cristã ou não, eles naturalmente irão usar a sua influência para proteger esse poder ao invés de expor fraquezas.

Se estivessem presentes aqueles com os dons da misericórdia, discernimento, profecia, cura, e fé entre os líderes da SBC, talvez não estivéssemos lamentando essa tragédia.

A batalha espiritual de reivindicar a sexualidade não é o trabalho de um comitê especial dentro de uma denominação. É o trabalho de todos.

5. Nós precisamos lutar com armas espirituais

Nossa batalha não é contra carne e contra o sangue.

Não há maior ganho para o mal do que abuso sexual e exploração dentro do santuário do povo de Deus. Quantos já se afastaram do nosso Senhor Jesus por causa dos fracassos daqueles que declaram representá-lo? O que estamos testemunhando não é um fenômeno cultural, mas uma devastadora derrota espiritual com as almas de homens e mulheres em jogo.

Temos orado a respeito dessa tragédia tanto quanto temos fofocado a respeito disso? Honestamente, eu sou sentenciada pela minha própria pergunta. Nenhuma quantidade de sabedoria humana, formulação de estratégias ou estrutura pode derrotar o poder do mal. Entretanto, Deus nos diz como devemos lutar e vencer essa batalha: Oração, arrependimento, jejum, debruçando-nos sobre a Palavra de Deus, e com a coragem cheia do Espírito para falar por aqueles que não tem voz.

Jesus disse que somos um corpo unido por um espírito. O que estamos testemunhando não é um “problema da SBC,” mas um câncer no nosso próprio corpo. Quando uma parte sofre, nós todos sofremos.

A batalha espiritual de reivindicarmos a sexualidade não é o trabalho de um comitê especial em uma denominação. É todo o nosso trabalho. Irmão, irmã, você irá se juntar à batalha para reivindicarmos o território da sexualidade, para que o amor e a cura de Deus possam invadir essa atual escuridão?

Autora: Dra. Juli Slattery
Tradutora: Giulia Alcântara
Texto original: https://www.authenticintimacy.com/resources/45456/5-ways-the-church-must-step-up-in-response-to-sexual-abuse-within-its-walls?source=blog 

* Link para o relatório: Clique aqui 

** Link para o texto “We are all sexually broken” [Todos somos sexualmente quebrados]: Clique aqui