Esperança em meio ao sofrimento

“Deus sussurra para nós em nossos prazeres, fala em nossa consciência, mas grita em nossa dor: ela é seu megafone para despertar um mundo surdo.”

(C. S. Lewis, O problema do mal)

No ano de 2020, exatamente no dia 13 de setembro, aprouve ao Senhor recolher meu esposo. Tudo aconteceu de forma repentina, aos 9 meses de casamento e 12 dias para o meu aniversário. Eu jamais imaginaria ficar viúva aos 23 anos, recém-casada com um rapaz tão temente a Deus, e que durante o tempo vivido juntos sempre cuidou de mim.

No capítulo três do livro de Gênesis, encontramos o relato da queda e foi exatamente ali que o sofrimento se tornou inerente à vida humana, especialmente na vida do cristão (João 16.33). Esse fato é muito claro nas Escrituras, mas em muitos casos, o sofrimento vem inesperadamente e não imaginamos que algo tão ruim possa acontecer conosco.

Imagine a vida de Jó, um dos homens mais prósperos da terra em sua época, um homem com muitos filhos, justo e íntegro. Provavelmente, Jó não estava preparado para o que viria. O livro mostra sua postura ao passar pela dor e como, em meio à tristeza, Jó lamentou e questionou o Senhor. 

Quantas vezes nós também questionamos a Deus? Desejamos o fim daquele sofrimento? Ou ansiamos pela morte? Tudo isso é natural, apesar disso, Deus não respondeu as perguntas de seu servo Jó. Ao contrário, o Senhor lhe fez mais perguntas, mostrando a Jó sua grandeza e soberania em tudo o que acontece. De fato, o propósito de Deus não estava em responder as perguntas de Jó, mas se mostrar presente no sofrimento. As respostas não iriam confortá-lo, apenas a presença do Senhor poderia trazer o verdadeiro consolo a ele. A razão humana não pode explicar ou compreender o sofrimento, mas Aquele que é chamado Homem de Dores (Isaías 53.3), nos fez uma promessa: “Não temas, Eu estou contigo!”. Não é o objetivo do Senhor que encontremos explicações lógicas, mas a própria pessoa de Jesus Cristo. 

O sofrimento é uma oportunidade

O sofrimento para o crente pode ser uma oportunidade. O grande propósito de Deus nas Escrituras para seus filhos é nos transformar cada dia, nos tornando mais parecidos com Seu Filho Jesus, e uma das ferramentas para o cumprimento dessa promessa é o sofrimento. As aflições não são para nossa destruição, mas para santificação.

“O sofrimento para o crente pode ser uma oportunidade. As aflições não são para nossa destruição, mas para santificação”

"De todos os lados somos pressionados por aflições, mas não esmagados. Ficamos perplexos, mas não desesperados. Somos perseguidos, mas não abandonados. Somos derrubados, mas não destruídos. Pelo sofrimento, nosso corpo continua a participar da morte de Jesus, para que a vida de Jesus também se manifeste em nosso corpo." 
(2 Coríntios 4:8-10)

Além disso, o Senhor também pode ter outros propósitos, como foi o caso de José, que foi vendido por seus irmãos, preso injustamente, esquecido, mas foi escolhido para livrar a nação, incluindo sua família, da fome. 

Assim também foi na vida da autora Elisabeth Elliot, que enfrentou a viuvez, duas vezes, e foi instrumento em nosso tempo para falar acerca do sofrimento. Em seu livro: “O sofrimento nunca é em vão”, Elisabeth afirma que embora nem sempre ninguém possa sentir, literalmente, a dor do outro, conhecemos alguém que sente juntamente conosco. Ele se preocupa com a nossa vida, nossas dores, e nossa realidade. Ainda que Ele não mude a nossa realidade, certamente, mudará o nosso coração.

Também no livro “Manso e Humilde”, o autor Dane Ortlund, mostra que o coração de Cristo é naturalmente compassivo, de modo que, ao passarmos pelo sofrimento, Ele sente juntamente conosco. Podemos ver isso na passagem que narra a morte de Lázaro. Ao encontrar seu amigo morto, além de chorar, Jesus se revoltou e se irou contra o maior inimigo da vida humana: morte. Cristo é o único que está conosco absolutamente em todo o tempo e nos momentos de sofrimento, Ele sente o que sentimos e se compadece de nossa dor. 

Esperança em meio ao sofrimento

Apesar de todo sofrimento e aflições que passamos, temos esperança. Percebemos uma dicotomia: Através do sofrimento de Cristo, ganhamos o maior dos presentes: a salvação. E por termos a salvação, podemos descansar e entender que somos peregrinos nesta terra. Nossa alegria deve estar na esperança vindoura, firmados na promessa que se cumprirá: “Ele lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor. Todas essas coisas passaram para sempre.” (Apocalipse 21:4-5)

Nos sofrimentos de Cristo e na sua promessa vindoura temos esperança, por isso, nunca desistimos.

"Por isso, nunca desistimos. Ainda que nosso exterior esteja morrendo, nosso interior está sendo renovado a cada dia. Pois estas aflições pequenas e momentâneas que agora enfrentamos produzem para nós uma glória que pesa mais que todas as angústias e durará para sempre. Portanto, não olhamos para aquilo que agora podemos ver; em vez disso, fixamos o olhar naquilo que não se pode ver. Pois as coisas que agora vemos logo passarão, mas as que não podemos ver durarão para sempre." (2 Coríntios 4:16-18)

Por Sara Reis

@umasarareis