“É para esse fim que eu me empenho, esforçando-me o mais possível, SEGUNDO o poder de Cristo que opera poderosamente em mim.” (Colossenses 1:29)
Na parte final de Colossenses 1, o apóstolo Paulo compartilhou com esses irmãos o objetivo de sua missão: fazer conhecido o mistério do evangelho aos gentios, a saber, “Cristo em vós, a esperança da glória”. Para isso, Paulo não media esforços, a fim de tornar conhecido esse mistério, cujo alvo final era apresentar todo homem perfeito em Cristo.
No entanto, ainda que essa fosse uma obra totalmente espiritual, Paulo não deixou de expressar o seu labor no cumprimento dessa missão. No verso 29, ele fez uso de expressões fortes para demonstrar isso: “para isso é que também me afadigo, esforçando-me o mais possível”. Embora a finalidade de sua missão fosse espiritual, ela não excluía sua participação ativa, afinal, Deus o chamara para trabalhar no cumprimento dessa missão e para que ela acontecesse, Paulo precisava se dedicar.
Conquanto a missão seja de Deus, nós somos participantes dela; sabemos do triunfo final da missão, contudo, isso não exclui o penoso caminho que precisamos trilhar para isso. Em nome do chamado que recebera, Paulo se afadigava, dando tudo de si, esforçando-se ao máximo, mesmo tendo plena convicção de que, no fim das contas, não era o seu esforço que garantiria o sucesso da missão, mas a eficácia do poder de Deus atuando EFICIENTEMENTE nele. Ele sabia que não estava em si mesmo o aperfeiçoamento dos santos, mas, o poder de Deus é que tornava o seu trabalho eficiente para a obra.
Veja que não há contradição entre a dedicação e o esforço constante e intencional de Paulo e seu entendimento de que a eficácia de todo o seu labor dependia do poder de Deus. Como servos de Cristo, é nosso dever nos esforçarmos o máximo possível; usando todas as nossas forças a seu serviço, não sendo preguiçosos, nem omissos, mas dedicados; tendo fé que a eficácia e a suficiência do nosso trabalho não virá por nosso empenho ou mérito, mas segundo a vontade e o propósito de Deus.
Parece um paradoxo, mas as duas perspectivas que se completam de forma perfeita. (1) Não podemos ser preguiçosos ou omissos no trabalho que Deus conferiu a nós. Ainda que estejamos a serviço de uma missão bem-sucedida, ela exige de nós esforço e dedicação. (2) Não basta orar, é preciso trabalhar com afinco. Nossa dedicação, por si, é insuficiente para o sucesso dessa missão, por isso, não basta trabalhar, precisamos confiar e depender do agir de Deus para que esta missão se cumpra.
Como disse também o apóstolo Paulo em 1 Pedro 4:10-11: “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!” É nosso dever, como cristãos, fazer o melhor que podemos em nossas vocações, pois, importa que dediquemos nossas vidas à obra de Deus, afinal, fomos criados e chamados para isso.
Sabe quando você compra algo precioso para si e tem medo de gastar? Você quase não usa aquilo ou, quando o faz, é com muita dó de gastar? Por vezes, agimos exatamente assim com as nossas vidas, queremos poupá-las ao máximo, pois temos medo de gastá-las. Para isso, evitamos tudo que possa exigir de nós demasiado sacrifício, demasiado cansaço, esforço, fadiga ou estresse.
Veja bem, não é justamente essa a mensagem que a cultura prega? Se poupe o máximo que puder, guarde sua vida, se ame mais, não vale a pena empenhar esforços naquilo que não te traz conforto e alegria imediata. Se o trabalho te desgasta, saia dele (sem considerar as consequências), se o casamento te desgasta, se divorcie, se a maternidade te desgasta, não tenha filhos, ou terceirize-os, aplique essa regra a todos os seus relacionamentos (inclusive dentro da igreja), se poupe. Viva para o seu prazer.
Mas, a Bíblia, nos mostra um caminho diferente, um outro tipo de cultura, ela diz: se gaste, se dedique, se sacrifique, saia do conforto e dê tudo o que puder para a glória de Deus, porque se “gastar” nessa vida a fim de glorificar a Deus não é perda, é ganho, pois, à medida que nosso exterior se “gasta”, nosso interior se renova (2 Co 4:16-18). Aliás, não é justamente esse um dos paradoxos da vida cristã? Quanto mais “nos usamos” e nos deixamos usar por Deus, mais aumentamos em largura e estatura (Ef 4:12-13), nossas possíveis perdas se tornam em ganhos. A matemática de Deus é perfeita!
Se esse corpo e essa vida é tudo o que temos, de fato, faz sentido privá-lo de tudo que possa gastá-lo; e temos mais é que economizá-lo e poupá-lo das fadigas desta vida. Mas, se aguardamos a promessa de um corpo glorificado, sabemos que há um tesouro muito mais elevado, não precisamos ser mesquinhos enterrando nossos talentos na terra para que ninguém nos importune. Estamos trabalhando para a eternidade.
Portanto, não tenha medo dos desafios que a vida possa trazer, sei que pode ser assustador, mas não estamos sozinhos diante deles. Veja, Paulo, um homem fisicamente cansado por causa de seu trabalho, mas espiritualmente alegre, renovado e disposto. Não há contradições. O cansaço faz parte de nossa natureza física, mas a perseverança faz parte de nossa natureza espiritual. Deus está conosco.
É inevitável não aplicar essa reflexão ao meu contexto de maternidade. Sei que a maternidade é bastante desgastante e, sinceramente, confesso meus temores, tenho medo de me “gastar”. Se eu pudesse gostaria de passar por ela intacta, preservando meu sono, meu corpo e meus interesses a salvo de qualquer infortúnio, mas não será assim. Essa é a missão de Deus para mim nesse momento, e como Paulo quero poder me esforçar o máximo possível, segundo a eficácia do poder de Deus. Fazendo tudo o que eu puder, mas sabendo que a eficiência do trabalho das minhas mãos não depende do meu desempenho, mas da obra da graça de Deus; quero mãos fortes para servir e quero joelhos fortes para orar.
Quero que o Pai me ensine e me ajude a ser uma mulher forte, que me ajude em minhas fraquezas e no meu cansaço. Que eu trabalhe com dedicação e confie com oração.
E que Deus nos ajude, minhas irmãs, em nossos chamados e em nossa missão, pois todas nós estamos à serviço do Reino, cada uma em sua frente de batalha, todas para a glória do Rei. Que Deus nos abençoe.
No Amor de Cristo,
Prisca Lessa