COMO FAZER DEVOCIONAL?

Até aqui vimos o que é devocional e por que é importante fazê-lo. Hoje daremos um passo em direção à prática: como fazer devocional. Creio que a maior dificuldade em relação a como fazer devocional se dá porque há dúvidas sobre os elementos que o compõem: como deve ser feita a leitura devocional, o tempo dedicado a ele, os recursos, entre outros aspectos dos quais trataremos a seguir.

Como compartilhei no primeiro post desta série, devocional é algo que se aprende com a prática. Eu aprendi em casa com meus pais e no seminário, pois essa era uma disciplina obrigatória. Todos os dias 07h00, com ou sem sono, nos dirigíamos à capela para esse momento de leitura, oração, compartilhamento e intercessão, depois íamos para o café e as demais atividades do dia. Isso me ajudou a fortalecer o hábito, me ajudou a criar mais disciplina e a orar mais — mas, não vou mentir, havia dias em que eu simplesmente dormia no momento da oração 🙈.

Como eu disse, o devocional é um pequeno culto particular a Deus, o que significa que, sim, ele possui alguma liturgia, existem elementos que o compõem e que não devem ser dispensados. Para facilitar a compreensão dividi da seguinte forma: preparação, oração, leitura, meditação, aplicação e agradecimento, veremos cada um deles, mas, antes, o que é necessário para o momento devocional? Pouca coisa, uma Bíblia, um caderno, uma caneta e um tempo do seu dia.

PREPARAÇÃO
Coloquei a preparação apenas para explicar um princípio. A preparação está relacionada à mente e ao coração, quando vamos prestar um culto a Deus, seja ele individual ou coletivo, precisamos nos livrar das distrações e nos concentrar naquilo que faremos. Então, concentre-se, evite pensamentos que te distraiam, evite estar dispersa ou preocupada com outras coisas — é muito comum nesse momento se lembrar de coisas que precisam ser feitas ou até mesmo se deparar com memórias que não te edificam, por isso mantenha o foco, leve seus pensamentos a Deus e esteja não somente com o corpo, mas com a mente disponível.

É importante também definir o livro da Bíblia que será lido, ao invés de ler trechos de diferentes livros aleatoriamente, procure ler um único livro, do início ao fim diariamente em pequenas porções. Não se preocupe em ler muito, ler em pequenas porções diárias é extremamente proveitoso.
ORAÇÃO
O momento de oração é muito importante. A oração não deve ser algo secundário na vida do cristão, ela é essencial; por meio dela falamos com Deus, rendemos graças, confessamos nossos pecados, apresentamos as nossas necessidades e intercedemos uns pelos outros. A oração produz humildade, intimidade, fé e confiança no Senhor. Nós podemos orar em qualquer lugar e em qualquer momento, esse é um bom hábito a ser cultivado, porém, não devemos deixar de de lado a disciplina da oração em quietude e solitude.
De forma prática, falarei um pouco de como faço esse período de oração em .unhas devocionais, nem sempre faço dessa forma, mas, de modo geral, sigo esse caminho.
— Ação de graças
Inicio orando com ações de graças: agradeço a Deus por mais um dia, pela vida, pelas bênçãos concedidas, por quem Ele é — posso mencionar os seus atributos e louvá-lo, seja em palavras ou canções.
— Confissão
Então, prossigo com a confissão de pecados, esse é um bom momento para avaliar o coração e a conduta, como orou o salmista: “Quem há que possa discernir as suas próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas. Também da soberba guarda o teu servo; que ela não me domine. Então serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão.”, peço perdão pelos pecados que cometi conscientemente e inconscientemente, e que o Espírito me ajude a vencer os pecados. “Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável.” (Sl 51:10)
— Petição
Apresento pedidos de oração, virtudes que anseio adquirir, áreas que desejo desenvolver, sonhos, projetos, necessidades imediatas ou não.

Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á. Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem?” (Mt 7:7-11). O Senhor Jesus encorajou seus discípulos a pedirem. A petição é um exercício que fortalece nossa musculatura espiritual, é um ato de fé na Palavra de Deus, aumenta a nossa esperança, nos dá a oportunidade de experimentarmos a provisão de Deus por meio das nossas orações, nos leva a enxergar mais a Deus como Pai e provedor. Nos torna menos independentes de nós mesmos e mais dependentes de Deus, também fortalece a fé dos nossos irmãos, pois produz testemunho. Devemos pedir com fé na Palavra de Deus e com as motivações corretas (Tg 4:2-3).
— Intercessão
Por fim, intercedo. É muito fácil esquecer a intercessão, orar pelas minhas necessidades é muito mais fácil, mas a intercessão é uma manifestação de amor ao próximo, é amar ao próximo como a mim mesmo, pois quando deixo de orar em meu favor e oro em favor dele, estou amando-o como a mim mesmo.
“Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos.” (Tg 4:16)
A intercessão nos concede a oportunidade de carregar os fardos uns dos outros chorar com os que choram e nos alegrar com aqueles que se alegram. Ela também gera comunhão e intimidade, quando oramos por alguém nos sentimos mais próximos, nos sentimos parte da vida dessa pessoa. Há momentos em que não sabemos exatamente pelo que orar, por isso, é bom manter um caderno com pedidos de oração e ter em mente que sempre podemos orar como Paulo em Efésios 1:15-23, pedindo em favor do crescimento espiritual de nossos irmãos (nunca é demais).

É importante dizer que esse processo da oração não é algo estático, não existe uma ordem estrita, e nem todos dias faço assim, mas esse é um caminho que me ajuda muito. Após a oração, chegamos ao momento da leitura da Palavra — há quem inverta essa ordem, eu, particularmente, gosto de iniciar com a oração e depois partir para a leitura.

LEITURA DA PALAVRA
Ore pela leitura, pedindo a Deus que te conceda entendimento da Palavra. 
“Abre os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua lei.” (Sl 119:18)

O objetivo da leitura devocional não é ler muito, mas extrair lições espirituais e meditar acerca delas buscando aplicá-las no dia a dia. Por isso, é importante não ter pressa nem se preocupar com metas de leitura, esse não é o objetivo. Às vezes um único versículo pode nos prender por dias, à medida que vamos discernindo as coisas presentes ali. Não tenha pressa, tudo bem passar meses lendo o mesmo livro da Bíblia, é uma forma de internalizar as verdades ali contidas.

Leia o texto quantas vezes forem necessárias para melhorar a compreensão (sempre pedindo ao Autor da Palavra que ilumine sua mente e torne seu coração sensível à verdade). “Dá-me entendimento, para que eu guarde a tua lei e a ela obedeça de todo o coração.” (Sl 119:34)

Busque o significado geral do texto e o sentido das palavras no texto e vá anotando suas percepções no caderno, quanto mais você ler, mais poderá compreender, por isso, repetição e atenção são importantes.

As anotações podem ser feitas em um caderno simples, no caderno coloco a data, a passagem bíblica e minha reflexão pessoal. Se parecer complicado no início, não se preocupe é um exercício, com o tempo vai se tornando mais simples.

MEDITAÇÃO
Após ler e perceber o que o texto está dizendo é tempo de meditar. A meditação cristã não é um transe, trata-se de uma reflexão acerca das verdades espirituais; é avaliar o coração à luz das verdades apreendidas, deixando que tais verdades se internalizem em nós (guardar no coração).

Se o texto fala acerca do amor de Deus, tenho a oportunidade de refletir sobre como Deus me ama, sobre seu sacrifício, sobre como a graça se manifesta todos os dias.
É importante que não fiquemos somente na meditação, o principal objetivo do momento devocional é nos auxiliar em nosso viver diário, é sairmos dali para as batalhas da vida alimentadas e munidas com a Palavra, mas uma armadura só faz efeito quando colocada sobre o corpo, não é mesmo? Por isso, é indispensável a aplicação. Para fins didáticos, separei a meditação da aplicação para ficar mais clara a distinção entre elas, mas elas caminham lado a lado.

APLICAÇÃO
“Porquanto, se alguém é ouvinte da Palavra e não praticante, é semelhante a um homem que contempla o próprio rosto no espelho; porque se contempla a si mesmo e vai-se, e logo se esquece de como era.” (Tg 1:23-24)
Após meditar nas verdades espirituais apreendidas do texto, agora é o momento de aplicá-las. A aplicação nos ajuda a não deixarmos as verdades para trás no momento em que fechamos nossas Bíblias, mas a carregá-las em nosso coração ao longo do dia deixando que elas nos preencham.
1. Como a leitura e a meditação sobre o amor de Deus se aplicam à minha vida?
Posso analisar como eu constantemente me esqueço desse amor, me deixo amedrontar pelas circunstâncias ou deixo de responder fielmente ao amor de Deus e confessar isso diante Dele.
1. Como saber que Deus me ama me ajuda a ser mais paciente com meus familiares, colegas de trabalho?
2. Como saber que Deus me ama me ajuda a resistir a esse pecado com o qual estou lutando?
3. Como o amor de Deus se manifesta a mim nas pequenas coisas do dia a dia?
4. Eu tenho percebido e sido grata por essas manifestações de amor?
São algumas perguntas que nos ajudam a fazer a aplicação. Isso nada mais é do que aplicar o Evangelho em nossa jornada diária.

AGRADECIMENTO

Este é o encerramento do momento devocional, agradecemos a Deus pela Palavra e rogamos para que nos ajude a guardar e aplicá-la. Concluindo, essa divisão é apenas para trazer mais clareza e didática. Como eu disse, os princípios são importantes e precisam ser conhecidos, mas a aplicação deles pode ser ajustada. Com base nesses pontos fica fácil ter uma ideia mais clara de como fazer devocional; a forma pode mudar, mas os princípios básicos são esses. À primeira vista pode parecer algo muito sistemático, mas não é. Também pode parecer que o devocional exige muito tempo, mas na prática isso se torna muito natural e espontâneo. Mas, falando em tempo, não há como estabelecer um padrão, falando por mim, o meu tempo ideal é quando tenho pelo menos uma hora para isso. Claro que nem sempre isso é possível, e nesses dias eu me adapto, reajusto e está tudo bem. Desde que haja pelo menos uma rotina diária, o tempo é ajustável. A ideia não é criar um protocolo com um horário criterioso, é o nosso tempo com Deus, deve ser prazeroso e não mero formalismo, no é pra bater cartão. Escolha um período no qual você tenha um tempo maior disponível para não ter que fazer apressadamente. Se organize e ajuste.E não desanime, nem todos os dias serão ótimos, haverá dias de desânimo, cansaço, apatia, dias em que sentirá que não tem absolutamente nada para dar. Há dias em que ao ler a Bíblia, as palavras não farão muito sentido, mas não desanime, persista, use os recursos disponíveis, consulte notas e Bíblias comentadas, converse com amigos e compartilhe aquilo que Deus tem te ensinado. Por aqui, sempre que possível eu e meu marido compartilhamos um com outro nossas reflexões devocionais, outra forma que encontro de compartilhar isso é escrevendo textos aqui e no blog, aliás boa parte dos textos nascem justamente dos meus momentos devocionais. Deus fala conosco e é maravilhoso poder dividir isso