PERFIS NO INSTAGRAM, MOSAICOS E A MULTIFORME GRAÇA DE DEUS ⠀⠀

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Outro dia estava conversando com duas amigas sobre o quão abençoadas somos pela multiformidade de dons do Corpo de Cristo. Falávamos especificamente dos muitos pastores que têm sido usados por Deus para edificar a Igreja por meio da exposição da Palavra. Suas diferentes formas de ensino, linguagens e ênfases formam um belíssimo mosaico refletindo a glória de Deus. É uma bênção para nós, usufruir de dons tão diversos.De certa forma, a diversidade de dons do Corpo de Cristo também pode ser vista nas redes sociais, especialmente aqui no Instagram. Um exemplo disso são as centenas, ou, talvez, milhares de perfis sobre feminilidade bíblica que encontramos por aqui. À primeira vista, pode ser que todos pareçam ser “mais do mesmo”, mas, um olhar atento, logo, revela suas nuances. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

Por trás de cada perfil sobre feminilidade há uma mulher que carrega uma história, e é isso que os torna tão singulares em sua essência. Cada perfil reflete, não a totalidade, mas parte importante de quem o escreve ou administra. O perfil @areformata, por exemplo, me faz enxergar a dádiva da beleza por meio da arte e da reflexão, ele reflete a essência e o bom gosto clássico da Mariah. Também gosto do layout moderno e das reflexões profundas e cotidianas do @marcadaspelagraca, elas refletem a Fernanda, uma jovem que usa saias e vestidos, mas não abre mão de seu bom e velho jeans e all star. No @servasdaverdade aprendo feminilidade bíblica, com doses de Psicologia, numa perspectiva cristã, ele reflete a Larissa, cearense da voz doce que ama Scorpions. A @priscillaaydar fala sobre feminilidade, literatura e maternidade, sem deixar de lado seu estilo, marcado por cores vibrantes, sua bagagem como mãe e como Mestre em Literatura. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Eu poderia ficar horas citando perfis que acompanho e me edificam, mas, ao descrever alguns deles, o que quero mostrar é que, apesar de tratarem sobre a feminilidade como tema geral, cada um deles o faz a partir de perspectivas e experiências de vida diferentes.
Isso é maravilhoso porque mostra que por meio de nossas diferenças somos instrumentos de edificação no Corpo de Cristo. De modo que, essas diferenças não são um ponto negativo, e, sim, positivo pois contribuem para o crescimento de outras mulheres em diversas áreas.
Podemos ser amplamente edificadas pela diversidade de dons presentes na vida de cada mulher cristã que se propõe a servir e compartilhar seus conhecimentos e aprendizados em Cristo, seja dentro ou fora das redes socias; somos filhas de Deus e somos parte do mesmo Reino, não estamos em lados opostos e nossas diferenças se ajustam perfeitamente naquilo que Deus está construindo em seu Reino.
Gosto muito de refletir sobre a temática de dons e vocação, ela me surpreende. Deus concede diversidade de dons e talentos para cada um de seus filhos para que sejam usados à serviço do Reino e, independentemente de quais sejam, eles são úteis em Sua obra. Hoje em dia, com nossa nova relação com as redes sociais, infelizmente, acabamos achando que nossa eficácia e relevância no Reino pode ser medida por meio curtidas e reações. Que terrível engano! Nossa eficácia é vista por meio dos frutos que nem sempre podem ser visualizados pela tela de um smartphone. Nossas redes são parte, mas, não o todo de nossas vidas.
Deus nos concedeu diferentes dons e eles se expressam de formas distintas através de nós. Nossa singularidade enquanto criaturas nos leva a alcançar pessoas diferentes porque somos diferentes, Deus nos fez assim, e, isso é maravilhoso. Com isso, minha intenção é encorajar você a não deixar de fazer algo de bom só poque há alguém que já faz algo semelhante. Se todos pensassem assim não haveria tantos livros, nem tantas músicas ou lojas de roupas a nossa volta. Imagine se os autores dos evangelhos seguissem essa lógica! O mesmo Evangelho foi escrito por quatro autores diferentes que narraram basicamente os mesmos fatos. Porém, cada narrativa é única e exclusiva, ao passo que, elas se complementam formando uma unidade perfeita que nos ajuda a ver o quadro todo de forma mais clara. Talvez, você prefira a narrativa de Mateus, a empolgante anunciação, ou de Marcos, direta e objetiva, mas, não menos envolvente; a de Lucas, cheia de detalhes, ou de João, carregada de emoções; quando olhamos essas narrativas de perto vemos diferenças entre elas, mas quando nos afastamos e olhamos de novo vemos sua unicidade, uma verdadeira obra-prima.
Refletir sobre vocação também me faz pensar que não precisamos fazer algo só porque muitos estão fazendo, é importante conhecer e reconhecer nossa vocação para que não sejamos esmagadas pelo peso de exigências que Deus não coloca sobre nós. Ainda que nossa vocação seja diferente ou menos visível, isso não a torna menos necessária, cada membro tem o seu papel no Corpo de Cristo (1 Co 12:14 – 20).
Em anos recentes quando estive na Conferência Fiel Mulheres, lembro-me de em alguns momentos me pegar pensando:

– Uau, como Deus e criativo!

Mulheres de várias regiões, de diferentes sotaques, corpos e estilos, do básico ao esportivo, do minimalista ao clássico; executivas, autônomas, doutoras, mães de primeira viagem, avós, donas de casa em tempo integral, mães homeschoolers; viúvas, solteiras, divorciadas, noivas; histórias e trajetórias diversas reunidas em um único lugar. Mas, a melhor parte disso ocorria quando o culto iniciava, de repente, todas as diferenças se uniam em uma harmoniosa melodia. Que coral, que unidade perfeita! Momentos assim me capturavam e me levavam a refletir o quanto a diversidade torna bela a unidade. Se homem e mulher fossem iguais o casamento, certamente, não seria tão belo, se todos fossem criados dentro da mesma fôrma o Corpo de Cristo não seria tão belo (1 Co 12:19), mas, Deus exulta na diversidade.
Dizem que vivemos em uma sociedade pluralista, onde as diferenças são valorizadas e respeitadas, porém, o que vejo é uma sociedade que vai contra a diversidade de ideias e pensamentos, se fala muito sobre liberdade, mas, na prática, ela não existe. Somos encaixados em estereótipos A e B e, simplesmente, não conseguimos nos livrar deles. Mas, no Corpo de Cristo há diversidade de povos, línguas e nações, há homens, mulheres, judeus, gentios e todos estão reunidos diante da mesa do Senhor.
Deus não é mais ou menos glorificado se você usa uma saia florida ou jeans e camiseta. Ele se alegra com a beleza e a criatividade quando usadas para a Sua glória. Ele nos deu liberdade para compor nossos estilos próprios com base em nossos gostos e personalidades, e se alegra com a beleza que nossas diferenças produzem, pois Ele mesmo é um Deus criativo. Contudo, Deus não é glorificado quando mordemos e devoramos uns aos outros (Gl 5:15), quando criamos partidarismos, pelo que quer que seja – política, roupas, feminilidade – pois, tudo isso só revela os ídolos do nosso próprio coração.
Paulo diz, em Gálatas 5:13, que fomos chamados para a liberdade e não devemos usar a liberdade para dar ocasião à carne, antes, devemos servir uns aos outros em amor. Em outras palavras, somos livres para servir e amar. Nesse sentido, a pergunta que devemos fazer a nós mesmas é: nossos posicionamentos nas redes sociais têm revelado amor e serviço, a Deus e ao próximo?
A problematização é uma tendência do nosso tempo, e o coletivismo também, queremos sempre fazer parte de um grupo, endossar um coro, ser A ou B, mas, precisamos ser cautelosas, lembrando de nossa principal vocação: amar e servir. Minhas irmãs, Cristo nos libertou do jugo de leis infundadas, somos livres. Não temos que nos encaixar em categorias A ou B, ou fracas ou fortes, ou delicadas ou valentes. Jesus orientou a discípulos: “sejam prudentes como as serpentes, símplices como as pombas” (Mt 10:16). Astúcia e simplicidade, duas características aparentemente excludentes, mas necessárias ao viver cristão. Todas nós precisamos de um pouco de cada, uma dose de doçura e coragem, força e fraqueza. Quando as juntamos, os contrastes de nossas forças e nossas fraquezas, dão lugar ao mosaico.
Um fato interessante é que quando o artista se põe a criar o mosaico, antes, é preciso quebrar as peças que irão compô-lo, algumas são grandes demais, outras servem melhor ao propósito sendo bem pequeninas, nem por isso, menos importantes; o Artista não as vê assim. É por meio de seu formato singular e, porque não dizer, irregular; sendo grandes ou pequenas, brilhantes ou foscas, que Ele forma algo bonito. De cacos quebrados Ele faz belo mosaico e a glória, minhas irmãs, não é do caco, mas do Artista.
Que não criemos, por meio de padrões pessoais, uma nova “circuncisão”, o único padrão absoluto que deve imperar em nós é Cristo. Que possamos desfrutar da liberdade e da diversidade que o Senhor nos concedeu, que não sejamos como os Coríntios que se envolviam em disputas rotulando a uns de mais fracos e a outros de menos espirituais, simplesmente, porque abraçavam práticas diferentes das suas.
No fim das contas, não é sobre adornos, mas sobre corações; um coração submisso a Cristo é refletido numa conduta íntegra e em vestes santas., estejam elas acompanhadas de saias rodadas ou all stars surrados, cabelos virgens ou coloridos, peles claras ou escuras.
Não é sobre nós, é sobre Cristo. Que cada peça quebrada e irregular de nossas vidas exulte na diversidade do mosaico de Cristo. Que amemos e sirvamos uns aos outros. No fim das contas, somos muito mais bonitas juntas. Que vivamos a multiforme graça de Deus.

Um abraço fraterno,

No Amor de Cristo,

Prisca Lessa