CARTA À MINHA AMIGA SOLTEIRA: LIDANDO COM A AUTOCOMISERAÇÃO

CARTA À MINHA AMIGA SOLTEIRA - HomossexualidadeQuerida amiga, que bom podermos continuar por aqui a conversa que iniciamos aquele dia a respeito do seu “complexo de inferioridade”. Ao ouvir você falar me identifiquei porque eu também percorri esse caminho, por isso me senti impelida a compartilhar com você minha própria experiência a fim de exortá-la em amor, segundo o ensino da Palavra.

Sabe, tal como você, durante muitos anos eu afirmei e reafirmei para mim mesma que eu sofria de um complexo de inferioridade. Eu tinha as causas para tal complexo bem esclarecidas em minha mente, afinal, passei parte da minha infância longe dos meus pais, morando com tios e entes queridos, enquanto meu pai estava em um seminário interno e minha mãe e irmão estavam aguardando a documentação para virem ao Brasil.

Sempre acreditei que esse período de ausência da minha família foi fundamental para que eu criasse esse complexo. Então, eu aceitava como algo normal o fato de me sentir tão incapaz e inferior às pessoas ao meu redor. Como consequência, eu fui crescendo muito tímida, retraída e com um enorme senso de incapacidade.

Sustentei essa mentalidade até o início da minha juventude. Até que em dado momento o Senhor começou a tratar o meu coração e revelar coisas que até então eu desconhecia. Descobri que complexo de inferioridade é um nome bonito que se dá para a AUTOCOMISERAÇÃO, meu verdadeiro mal. Enxergar isso foi chocante pois me tirou da condição de vítima e me colocou na condição de transgressora.

Sabe, minha querida, Satanás é tão vil que pode se transfigurar em anjo de luz para nos enganar; assim também o pecado. O pecado mais vil pode se fantasiar de pensamentos, sentimentos e ações nobres e ficar hospedado por anos sem gerar qualquer infortúnio. Podemos conviver amigavelmente com nossos piores pecados sem darmos conta disso. Assim estava eu até que Deus, por sua misericórdia e graça, mostrou o que estava em meu coração.

A realidade é que meu complexo se apresentava do lado avesso. De inferioridade não havia nada. Meu mal era me sentir superior a tal ponto que não ter essa superioridade reconhecida me matava por dentro. Eu queria que minha infância tivesse sido diferente: cheia de brinquedos, passeios e todo o conforto que eu merecia; e não na condição de filha de um seminarista: vivendo de favor na casa dos tios, recebendo brinquedos doados e longe dos meus pais.

Tudo isso veio à tona no exato momento em que meu ego estava sedo dilacerado porque eu havia sido “dispensada” de um relacionamento. Um relacionamento que deveria ter dado certo, uma vez que eu havia “escolhido esperar”. Eu tinha feito tudo tão certo! De alguma forma, eu sentia que Deus estava sendo injusto comigo, talvez, até mesmo ingrato, depois de tudo o que EU havia feito por Ele! Eu merecia um troféu, eu merecia me casar e não passar por aquela situação humilhante: desprezada.

Embora eu não externasse tais palavras, todo esse conflito estava se passando dentro de mim e Deus me permitiu ver. A essa altura do campeonato, me dei conta de que meu maior sofrimento não era pelo término em si, mas pelo fato de que meu mérito não havia sido reconhecido. Eu trabalhei para Deus e não recebi o salário combinado (?!). Eu estava indignada.

Quando Deus removeu a máscara que eu chamava de complexo de inferioridade, eu finalmente pude ver a feiura do meu coração. Deixei de me ver como vítima, Deus mostrou minhas transgressões.

Essa pecadora que te escreve merecia que a sua feiura fosse exposta para o mundo todo; merecia ser humilhada em público até que todo o seu ego fosse pisoteado. Eu temia que Deus agisse assim comigo. Mas, sabe o que Ele fez? Me atraiu para o seu seio de amor e despiu o meu coração. Ninguém sabia o que estava se passando dentro de mim. Eu sentia como se um furacão tivesse passado pela minha alma. Toda visão que eu tinha de mim mesma caiu por terra. Fiquei um bom tempo perguntando a Deus quem eu era, de fato.

As pessoas olhavam e não entendiam porque eu estava definhando por fora, talvez fosse apenas a dor de um término; mas, a verdade é que Deus estava me quebrando por dentro. Me quebrando para fazer algo melhor. Foram noites escuras, mas o Senhor esteve comigo, vieram dias melhores.

Minha doença ainda não foi erradicada, eu preciso me manter vigilante, preciso me lembrar quem sou, preciso me voltar dia após dia para a Palavra. Você disse que admira a minha devoção, minha disciplina em ler a Bíblia e orar. Mas, por favor, não me admire, meu coração é perverso. Não faço isso porque sou boa, faço porque preciso. Deus sabe no que me torno quando estou longe de Sua Palavra, e sempre que me afasto Ele me permite enxergar a minha feiura. Sei que os pés da cruz são o lugar mais seguro para pessoas como eu, é lá que preciso estar.

A Palavra de Deus é o antídoto certo para desmascarar egos inflados como o meu e, talvez, o seu, ela revela o mais íntimo do coração. Pensamos ser pessoas admiráveis até que Deus nos mostre quem de fato somos. Não somos heróis, mas vilões, os piores. Mas, não se desespere, a boa notícia é que Deus veio para os vilões, ele se agrada em salvá-los, em dar-lhes um novo coração. Na cruz Ele não ficou entre santos, mas entre pecadores; são estes que compõem sua mesa: pecadores redimidos, transformados unicamente por sua graça. Já não há o que reivindicar, tudo quanto recebemos é dádiva.

Por isso, minha querida, deixo aqui estas palavras, rogando a Deus para que Ele descortine o seu coração tal como ele tem feito comigo. Talvez os seus pecados não sejam como os meus, mas que o Senhor o revele e que em meio a todas as suas lutas, Ele te permita enxergar as suas transgressões e te leve ao arrependimento, aos pés da cruz.

Te amo em Cristo.

Sua amiga,