Sobre ideais e bolhas de sabão.

how to not care

“No romance clássico, o homem não quer realmente a realização do seu amor. A consumação do seu amor significaria casar-se e ter que lidar com a monotonia da vida diária juntos. O casamento é terrestre demais para o romântico. Ele esbalda-se em obstáculos. Ele quer sofrer sentimentos de amor sem permitir que o amor chegue à fruição num relacionamento permanente e contratual… Um homem que acredita ser sua amada o ideal de perfeição não pode tolerar qualquer sugestão de imperfeição. Esta é uma razão pela qual o romântico não queira aproximar-se demais de sua amada; no fundo, ele sabe que se aproximar-se demais encontrará defeitos e imperfeições.”

(Peter J. Leithart “Brightest Heaven”)

Lendo o texto acima, passei a refletir sobre os nossos ideais:

O ideal é como uma bolha de sabão: é perfeito até que você o toque. Quando você o alcança, ele se desfaz. De longe tudo e todos são ideais. Desse idealismo surge a visão romântica, quer seja da vida, de um lugar, de uma pessoa, de um emprego, de uma missão. Mas, tal qual uma bolha de sabão, o ideal é frágil. Não sobrevive ao toque. Aproxime-se dele, e, você se deparará com o real.

O real, nem sempre tão belo, nunca perfeito. Hora cansativo, hora frustrante, hora conflitante, porém, real.

A vida, deste lado da eternidade sempre será como bolha de sabão: sempre teremos ideais e, quando os alcançarmos, veremos que a realidade é diferente do que almejávamos. Desse modo, ironicamente, alcançar o ideal sempre traz consigo um pouco de frustração. Em Eclesiastes, o Pregador disse que a vida é como correr atrás do vento, de fato, esse vento carrega nossos ideais feito bolhas de sabão.

Mas, veja bem: Não é que o ideal não exista, ele existe sim, só não faz parte deste mundo. Almejamos o ideal porque há uma impressão gravada em nossos corações, a imagem do verdadeiro ideal. Um ideal que não se desfaz pelo contato. Um ideal eterno e papável.
Ideal de nome eternidade. Quando finalmente a alcançarmos, ela não se desfará em nossas mãos. Diferentemente dos ideais desta terra, ela será muito melhor quando finalmente pudermos tocá-la.

Tal como criança que se alegra em um mundo onde bolhas de sabão não estouram ao toque, nos alegraremos quando pudermos tocar a eternidade. Tocaremos e nossos corações nunca estarão decepcionados.
Se no mundo dos homens, o ideal se perde ao toque, no mundo de Deus, ele se torna cada vez melhor a medida que o tocamos.

Até que sejamos transportados para esse mundo onde bolhas não estouram, é mister que saibamos: nesse mundo de cá os ideais, assim como as bolhas de sabão, subsistirão só até que os toquemos.

Graças a Deus, há eternidade, onde o ideal e o real se tocam e caminham juntos, lado a lado.

Prisca Lessa