Barrabás

Lucas 23:13-27

Em tempos em que tudo vira #somostodosalgumacoisa o título desse texto não poderia ser diferente.

O capítulo 23 de Lucas narra as últimas horas de Jesus e começa com o seu julgamento perante Pilatos. Os judeus haviam levado Jesus perante Pilatos, mas este não encontrando nele culpa, e na tentativa de evitar maior envolvimento no assunto, o enviou a Herodes que, por sua vez, fez pouco caso de Jesus e o enviou de volta a Pilatos.

Pilatos ficou entre a cruz e a espada, por um lado, ele sabia que as acusações apresentadas contra Jesus eram injustas e movidas por inveja, portanto, condená-lo seria compactuar com a injustiça. Por outro lado, os líderes judeus e a multidão estavam inflamados pelo ódio e inocentar Jesus poderia gerar algum tipo de rebelião. Diante disso, de forma perspicaz, Pilatos recorreu ao costume que ocorria durante a Páscoa, em que um prisioneiro era liberto como forma de favor político aos judeus. Assim, ele atenderia ao conselho de sua esposa, manteria sua consciência limpa não condenando um inocente, e não desgastaria as relações diplomáticas do Império com os judeus.

Nessa ocasião havia um prisioneiro de nome Barrabás condenado por crimes como perturbação da ordem pública, roubo e homicídio; um homem vil e de má fama.

De um lado um homem justo e inocente conhecido por suas boas obras, de outro um homem vil, conhecido por seus crimes bárbaros. A escolha era óbvia para Pilatos, mas não para a multidão. Cegos pelo ódio e movidos pelo seu próprio pecado e inimizade contra Deus, a multidão, que há pouco aclamava Jesus como seu Rei, escolheu Barrabás e clamou pela crucificação de Jesus: “Crucifica-o!” Jesus não apenas foi comparado a Barrabás, mas foi considerado pior que ele.

Confesso que por anos li essa passagem sem de fato compreendê-la. Minha reação era de indignação, eu estava sempre do lado das pessoas dignas, limpas e de boa índole presentes na multidão. Ao ler este texto sempre me vi como alguém melhor que Barrabás, alguém consciente da injustiça que Jesus sofreu e que olhava para Barrabás com um olhar de desprezo pensando: “como alguém como ele pode ter sido inocentado?” Até que um dia a pergunta se voltou para mim e me vi diante da seguinte questão: “como alguém como EU pode ter sido inocentada?”

Como não percebi antes?

O que aconteceu com Barrabás naquele momento foi exatamente o que aconteceu comigo. Há alguns anos, na ocasião da Páscoa, eu estava no corredor da morte pelos pecados que cometi, até que alguém disse: “liberte-a!” Eu não merecia, eu sabia que era culpada e merecia o castigo pela culpa, mas um inocente foi condenado para que eu fosse liberta e todos os pecados que me condenavam foram perdoados.

Barrabás já havia recebido sua sentença, de sua parte não havia nada que ele pudesse fazer para se salvar e certamente ninguém em sã consciência daria algo por ele. Mas Deus prova seu amor por nós pelo fato de Cristo ter morrido em nosso lugar quando ainda éramos Barrabás (Rm 5:8). Essa é uma grande verdade do evangelho, Cristo não veio para os sãos – os sãos não precisam de médico – mas para os doentes (Mt 9:12). Barrabás era um doente, seu estado era terminal, seus crimes não eram nada comparados ao estado da sua alma. A multidão e os líderes religiosos representavam todos aqueles que se achavam justos demais, melhores que Barrabás, era onde eu me encontrava antes de perceber que eu era como Barrabás.

Somente os necessitados de graça podem receber a salvação, pois o Reino dos céus é para aqueles que não o merecem, mas que, pela graça de Deus em Cristo Jesus, foram justificados e agora são convidados a fazer parte da mesa do Senhor.

Eu sempre tive em mente a ideia de um Barrabás se vangloriando por ter sido solto, mas, refletindo profundamente nesta passagem, creio que Barrabás – embora a Bíblia não relate isso – pode ter entendido melhor que muitos que se dizem cristãos, o que é graça e o real sentido da Páscoa. Ele sabia que ele era digno da sua sentença, mas ali naquele momento teve o privilégio de ver o propósito da missão de Jesus: salvar pecadores por meio de sua morte substitutiva.

É interessante notar que embora a multidão estivesse furiosa e sedenta intentando o mal contra Jesus, no plano eterno de Deus, ela estava cumprindo o Seu propósito eterno ao condenar a Cristo (cf. Is 53:10, Atos 2:23).

Para que Barrabás fosse livre Jesus foi condenado e porque Jesus foi condenado Barrabás foi liberto; ele, que já estava no corredor da morte, recebeu a chance de uma nova vida.

 A condenação de Jesus e a liberdade de Barrabás são um prenúncio da cruz, onde o inocente morre como culpado e o culpado é perdoado sem mérito algum.

“Porque também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus” (I Pe 3:18)

Diante de Pilatos e da multidão, Deus mostrou ao mundo o que estava fazendo, Cristo veio libertar os cativos, Ele deu a vida pela nossa liberdade.

Barrabás representa cada um de nós, pecadores indignos. Se você sente que é como Barrabás, alguém digno de condenação e morte, mas reconhece que só pode ser liberto e perdoado através de um ato de graça, saiba que essa graça está disponível em Cristo Jesus. Cristo morreu para libertar você, Barrabás; Ele veio por mim e por você.

“Fiel é esta palavra e digna de toda a aceitação; que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais sou eu o principal” (I Tm 1:16) 

 Esse texto me faz pensar em como os propósitos de Deus são INFALÍVEIS. Na tentativa de humilhar Jesus, seus inimigos só testemunharam ainda mais que ele era, de fato, o Messias. Ao clamar a plenos pulmões: Solte Barrabás eles contribuíram com o propósito para o qual o Filho de Deus veio ao mundo: Libertar homens como Barrabás, eu e você. Diante de tão grande verdade, o que nos resta, nos humilhar diante da sublime graça e misericórdia de Deus? Nada me vem á mente, senão as benditas palavras de Charles Spurgeon:

“Nada trago em minhas mãos, somente à Tua cruz me agarro; Venho nu a Ti, para vestir-me; Indefeso, busco a graça em Ti! Sujo, eu corro até a Tua fonte; Lava-me, Salvador, ou morro!”

Essa é a nossa condição; sem a graça de Deus estamos nus, sujos. Ai de nós se não fosse à cruz do Senhor! Graças a Deus por Cristo Jesus que nos substituiu e nos salvou. A doce Páscoa a qual celebramos teve gosto amargo para o Senhor. Que nesses dias, possamos refletir nisso.

Apeguemo-nos à cruz, pois, somos todos Barrabás*.

 

* pecadores

Soli Deo Gloria.

No Amor de Cristo,

Prisca Lessa.