Seja Feita a Tua vontade

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Às vezes nós chegamos diante de Deus com nossas intermináveis listas de pedidos e reivindicações, nossas sugestões e soluções para fazer do mundo um lugar melhor (para nós).

“Deus, eu acho que se as coisas fossem assim tudo estaria muito melhor”

“Deus, desse jeito não está dando certo, o Senhor não está percebendo? Que tal fazermos do meu jeito?”.

Estamos sempre dizendo a Deus o que Ele deve fazer, às vezes não com palavras, mas com pensamentos, com sentimentos e até mesmo com o nosso silêncio.

Semana passada, enquanto orava me lembrei de duas passagens em que Jesus mencionou a frase seja feita a tua vontade. A primeira delas se encontra em Mateus 6:9-10 na oração do Pai Nosso:

“Pai nosso, que estás no céu, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade.”

            A segunda frase se encontra em Mateus 26:39 e foi dita no Getsêmani pouco antes da crucificação:

“Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres”.

Desde então essa frase tem ecoado em minha mente: seja feita a tua vontade. Numa primeira lida na oração do Pai nosso pode parecer que ao dizer “seja feita a tua vontade” Jesus estava nos ensinando que devemos orar para deixar Deus cumprir a Sua vontade em nossas vidas, meio que autorizando-O a fazer Sua vontade. Mas se Jesus tivesse ensinado isso Ele estaria contrariando completamente o ensino bíblico de que Deus é soberano e  faz tudo conforme Lhe a praz.

“[…] segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Daniel 4:35)

Deus não depende de nós para fazer Sua vontade e nem mesmo precisa de nossa autorização para interferir ou não em nossas vidas. Orar seja feita a tua vontade não é autorizar Deus a mexer em nossas vidas, pelo contrário, Jesus estava nos ensinando um princípio vital para o cristão: a Soberania de Deus. Todas as manhãs quando nos levantamos para orar precisamos saber que Deus fará toda a Sua vontade (Is 46:10) quer queiramos isso ou não. Esse é o princípio que deve reger as nossas orações: Deus sempre fará a Sua vontade. Essa verdade tende a produzir em nós duas reações, por um lado confiança, uma vez que sabemos que a vontade de Deus é sempre boa, perfeita e agradável (Rm 12:2); por outro lado, saber disso também fere o nosso coração, dilacera nosso orgulho, pois nos mostra que somos dependentes, que somos pedintes, que não estamos no comando e que nossas orações não são meios para manipular ou mudar Deus, mas meios de nos sujeitarmos ao Seu querer. A oração do Pai nosso nos ensina que Deus é Soberano, que Ele é o Criador e nós as Criaturas, Ele o Senhor e nós os servos.

Embora nós devamos orar, e a Bíblia nos exorta a apresentarmos nossos pedidos e necessidades a Deus (Fp 4:6), é nosso dever fazê-lo em submissão à vontade de Deus e saber que de tudo quanto pedirmos Ele fará aquilo que for segundo o Seu querer para nós. Todas as manhãs Deus nos convoca a buscarmos a Sua vontade, a alinharmos nossa vontade à dEle e a desejarmos essa vontade soberana.

Certamente Deus cumprirá a Sua vontade, você pode se submeter a ela ou tentar resistir – como Jonas, por exemplo – mas no fim das contas a vontade de Deus será feita. O problema é que quanto mais tentamos resistir a ela mais sofremos, mais nos sentimos feridos pelas circunstâncias, pelas pessoas e até mesmo por Deus. Quando a nossa vontade entra em conflito com a vontade de Deus, até mesmo as coisas mais simples da vida se tornam motivos de dor, pesar e murmuração.

A única garantia que temos de que Deus atenderá as nossas orações é se essas orações forem segundo a Sua vontade, por isso a oração deve ser antes de tudo a busca pela vontade de Deus.

“E esta é a confiança que temos nele: que se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que ele nos ouve em todo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos” (I Jo 5:14)

Mas Jesus não apenas nos ensinou a orar em teoria, Ele mesmo foi alguém que em todo tempo orava ao Pai e no momento mais difícil de Sua vida não foi diferente. Quando sua alma estava cheia de tristeza até a morte Ele buscou ao Pai em oração. E que oração!

“Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres”.

Ler essa oração é no mínimo chocante. O próprio Filho de Deus escolheu se sujeitar à vontade do Pai e nós, meras criaturas, insistimos em brigar, relutar e questionar a vontade de Deus.

 “não seja como eu quero, mas como tu queres”.

Essas palavras deveriam ser suficientes para calar a nossa alma, nos despir das nossa justificativas e nos sujeitar à vontade de Deus.

No Monte Jesus ensinou como devemos iniciar uma oração: sabendo que no fim das contas a vontade de Deus sempre será feita e no Getsêmani Jesus ensinou como devemos terminar uma oração: submetendo-nos à vontade de Deus.

Nossas orações devem ser baseadas num único princípio: a vontade de Deus. Antes de orar, sabendo que a vontade dele é soberana, e depois de orar sujeitando a nossa vontade a Ele.

Em outras palavras, a oração deve ser sempre a busca pela vontade de Deus, quer a conheçamos ou não.

Isso pode ser muito lindo e simples em tese, mas na prática é duro e difícil. É difícil porque nem sempre nossas expectativas estão de acordo com a vontade de Deus e quando não estão nós nos frustramos, mas de quem é a culpa? De Deus?!

Dói dizer isso, mas Deus não está comprometido com nossos sonhos ou planos, mas com a Sua vontade. Dói porque gostaríamos de ter um Deus pessoal para realizar todos os nossos desejos. Mas se Deus agisse assim Ele não seria Deus, seria meramente um gênio da lâmpada.

É difícil, mas faz parte da maturidade cristã quando o Pai nos diz não e sustenta o seu não mesmo diante das nossas chantagens, birras, revoltas e ameaças. Nossas chantagens não mudam a mão de Deus. Deus é um bom pai, Ele sabe lidar com a indisciplina de seus filhos mimados. Quanto mais brigamos contra a Sua vontade mais aumenta a nossa dor e o mundo continua girando com ou sem nossa aprovação.

Deus permite que eu decida não sair da cama hoje porque estou deprimida, porque as coisas não acontecem como eu gostaria, mas, apesar da minha “ausência”, o dia continuar tendo exatas 24h, a diferença é que essas 24h podem se tornar intermináveis e quase insuportáveis aqui dentro enquanto o sol continua a brilhar lá fora.

Então, eu posso transformar meu dia em tempestade ou posso usufruir do sol que está lá fora. Ao invés de tentar impor minha vontade e ingenuamente pensar que Deus mudará seus decretos (só) porque eu quero, eu deveria orar e dizer sinceramente: Senhor, não é o que eu quero, não é como eu planejei, não foi isso que eu imaginei, contudo, seja feita a Tua vontade. Não é a musica de Deus que tem que ser no nosso ritmo para dançarmos, mas nós é que temos que aprender a dançá-la para usufruirmos das bênçãos e ensinamentos que Ele tem pra nós hoje.

Que seja feita a tua vontade deve ser a nossa oração diária.

Senhor, eu não oro para que seja feita a minha vontade, mas para que seja a feita atua vontade, então, se meus pedidos não forem realizados, ainda assim me alegrarei, pois, a minha alegria é que a tua vontade seja feita e eu sei que ela será feita.

“Porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (João 6:38)

“A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou a realizar a sua obra” (João 4:38)