Feminismo: o que a Bíblia tem a dizer? III

GÊNESIS 3

As feministas cristãs afirmam que tanto a submissão quanto a autoridade do homem sobre a mulher foram castigos decorrentes da queda. E uma vez que Cristo veio nos livrar da maldição da queda, já não há razão para que haja essa relação de autoridade e submissão entre homens e mulheres. Porém, como visto, o princípio de autoridade e submissão não foi estabelecido na queda, mas na criação do homem e da mulher. Submissão e autoridade não são consequências, mas propósitos. Além do próprio relato da queda, o Novo Testamento mostra que o principio de liderança e submissão continua ativo (Ef 5; Cl 3) a despeito da redenção, uma vez que não se trata uma maldição e sim da bênção de Deus.

Apesar disso, devemos ser realistas e concordar que a queda afetou esse princípio que até então era harmonioso e perfeito. Nos primeiro 6 versículos de Gn 3 algumas coisas que devem ser destacadas:

  • A maioria das traduções em português não trazem uma palavra que é

muito importante no v.6, mas ela está presente tanto no texto original quanto nas versões em inglês. A palavra hebraica é a preposição ‘im que quer dizer “com”, assim, originalmente o versículo diz que: “vendo a mulher […] tomou lhe do fruto, comeu e deu também ao homem com ela e ele comeu”.

Essa palavrinha “com” faz toda a diferença no texto! Adão estava com Eva, ele ouviu a conversa, ele a ouviu sendo enganada, mas se omitiu (um livro excelente sobre o assunto é “O silêncio de Adão”). Adão enquanto líder vendo o erro acontecer devia ter corrigido, dito ou feito algo para impedir o erro, mas ele permaneceu em silêncio, totalmente passivo e não só isso, ele se sujeitou ao erro de Eva ao aceitar do fruto e comer.

Nesta passagem vejo a serpente agindo astutamente ao tentar inverter os valores estabelecidos por Deus. Ao invés de ir falar com Adão ela abordou Eva. Adão, por sua vez, foi omisso ao se silenciar e Eva falhou ao aceitar a proposta da serpente assumindo a frente e tomando uma decisão que afetaria a humanidade toda. Mas apesar de Eva ter tomado a decisão pelos dois. A quem Deus chamou para prestar contas primeiramente? A Adão. Deus não chamou Eva e nem aos dois, porque Adão era quem respondia pelos dois (e por toda raça humana que viria), ele como líder nomeado por Deus tinha a responsabilidade primária de liderar sua esposa em uma direção que glorificasse a Deus e zelasse pela criação. Mas Adão não cumpriu seu papel de homem e fica claro que o intento da serpente era claramente agir contrariamente à vontade de Deus, invertendo o desígnio de Deus. Eu diria que a serpente foi quem deu o empurrãozinho inicial para a ideia de liberação feminina e independência da mulher em relação ao homem. Quando a mulher resolveu liderar sobre Adão ela quebrou um princípio e isso trouxe consequências. A serpente semeou a discórdia na harmonia do relacionamento entre homem e mulher. A ordem de Deus na criação foi PRIMEIRO Adão, depois Eva. A ordem de Satanás na tentação foi PRIMEIRO Eva, depois Adão. Contudo, a ordem de Deus permaneceu: PRIMEIRO Adão. V.9 Deus chamou ao homem e lhe perguntou: Onde estás? Embora satanás tenha tentado inverter o desígnio de Deus, depois de haverem pecado o homem é que foi chamado pelo Senhor, quero reforçar isso. Apesar de Eva ter pecado primeiro, diante de Deus a responsabilidade original permaneceu sobre o homem apesar da queda. Romanos 5:12 reforça isso. A liderança masculina foi estabelecida por Deus na criação, foi violada na queda, mas foi reafirmada por Deus após a queda,

O que a serpente tentou fazer, se aproximando de Eva e não de Adão, foi inverter os papéis que Deus estabeleceu. O chamado de Eva era ajudar Adão como segunda autoridade de governo no mundo. Segundo o John Piper, se Eva tivesse sido criada primeiro e depois Adão como ajudante, a serpente teria sem duvida se aproximado de Adão.

Eva não era moralmente mais fraca que Adão, entretanto, Satanás estava atacando a liderança do homem e suas palavras tiveram o efeito de convidar Eva a assumir a responsabilidade primária no momento da tentação.

Para as feministas a submissão da mulher e a autoridade do homem são consequências da queda, mas o que a Bíblia diz?

Em Gênesis 3:16  Deus diz a Eva que multiplicaria grandemente o seu sofrimento e  quanto à sua gravidez em dores ela daria a luz. E o desejo dela (que antes era de se submeter a Adão) agora seria contra o seu marido e ele por sua vez a dominaria. A palavra aqui traz um sentido de dominação.

O interessante nesse relato é que aparentemente a maldição é uma perversão daquilo que devia ser uma bênção.

A gestação agora se torna algo pesado e que remete ao sofrimento; a submissão que antes era o desejo amoroso de se sujeitar ao homem se tornou pesada, porque o desejo da mulher agora passou a ser o de dominar (ou competir com) o homem e não mais de se sujeitar a ele. A autoridade por sua vez que antes era amável e respeitosa se perverteu em uma tendência de tirania e domínio negativo. O trabalho que era algo bom se tornou em fardo. Mas de forma alguma a Bíblia nos dá base pra afirmar que submissão e a liderança do homem são consequências da queda. O que nos podemos afirmar é que por causa do pecado o desejo da mulher não é mais o de submissão, ela se tornou algo contrário à vontade da mulher e a autoridade do homem por causa do pecado se perverteu e se tornou inclinada ao mal. É nesse ponto que entra a redenção (Gn 3:15), pois a redenção em Cristo nos põe de volta na perspectiva correta. Cristo não veio abolir os papéis de homens e mulheres, ele veio colocá-los na perspectiva correta, aquela que Deus projetou na criação. Embora seja difícil, pois ainda lutamos contra o pecado, a Bíblia nos exorta (Ef 5:22-33) a vivermos segundo a redenção que recebemos em Cristo em liderança e submissão.

Na queda nasceu a guerra dos sexos, a partir dela homem e mulher se tornaram rivais. O que nos rivaliza não é a palavra de Deus, mas o pecado que deturpou o propósito de Deus. É ele que nos faz ver submissão e liderança como algo errado e ruim. Não é a Palavra de Deus que tem que ser mudada, mas o nosso coração. Homens lutando contra a tendência de ser dominadores e mulheres lutando contra o desejo de assumir o papel do homem e se rebelar contra a sua autoridade.

Então, concluímos que o problema não está no fato de o homem ter sido criado para liderar, o problema é a sufocante dominação masculina, imposta em nome da liderança masculina. O abuso da verdade como é o machismo gera posição rival e é isso que eu vejo no Feminismo, uma reação ao machismo. Mas é preciso ter bem claro que a dominação masculina é uma falha pessoal e moral, não uma doutrina bíblica. O que as feministas não conseguem entender é que não é a Bíblia que é machista, machista é a atitude daqueles que usam dela para seus próprios interesses. É contra isso que nós cristãos temos que lutar, não sendo machistas nem feministas, mas sendo cristãos, pois os dois extremos pervertem a vontade de Deus. Machismo é o resultado do pecado no caráter do homem e feminismo é o resultado do pecado no caráter da mulher. Por isso, o cristão não é machista e nem feminista, nenhuma destas coisas nos definem.

Por outro lado para que não caiamos em outro erro, é preciso ter em mente que atualmente o que as feministas modernas chamam de machismo e opressão não chega nem perto do que é opressão. O que as feministas chamam de machismo hoje é qualquer atitude masculina, por simples que seja, como abrir uma porta, elas consideram atitudes simples como esta uma ofensa grave, pois insinua que a mulher é incapaz de abrir a porta. O homem pagar a conta é um sacrilégio, porque esta querendo dizer que a mulher não tem condições de se sustentar.

É com base nesse padrão (de que o homem é o líder no lar e na sociedade e a mulher é sua auxiliadora) estabelecido em Gênesis que toda a historia bíblica foi construída, essa é uma estrutura patriarcal. Era pra ser um mundo perfeito, mas com o pecado, as coisas se tornaram mais difíceis. Apesar disso, essa ainda é a ordem que Deus estabeleceu. A ideia feminista nega o pecado original à medida que coloca toda culpa dos males da sociedade sobre ele, como se apenas o homem fosse perverso e apresenta a mulher como a solução para o bem estar da humanidade. Porém, o que a liberação sexual feminina tem comprovado é que homens e mulheres são igualmente pecadores. Como cristãos nós sabemos que ambos são pecadores, homens e mulheres pecam, homens e mulheres roubam, matam, estupram, traem, mente e são passíveis de todo tipo de corrupção. A própria Simone de Beauvoir foi acusada de abuso sexual de menores. O feminismo não é a redenção das mulheres, e a nossa esperança não deve ser de que se empoderarmos as mulheres o mundo será um lugar melhor; o mundo só será um lugar melhor quando as pessoas forem salvas por Cristo.

Outro argumento que as feministas têm sobre a Palavra de Deus é de que a mulher só serve para ficar em casa. Porém, a Bíblia não limita ação da mulher ao lar. Ela afirma que é responsabilidade primordial do lar e dos filhos pertence à mulher (I Tm 2:15), assim como o homem tem suas próprias atribuições. Isso não significa que o homem está isento de auxiliar a esposa (a mãe, a irmã ou qualquer outra mulher com quem convive); ele deve se envolver e auxiliar, mas não por obrigação e sim por amor (I Pedro 3:7). Embora a atribuição bíblica primordial da mulher casada seja o cuidado do lar e dos filhos, ela não limita seu papel ao lar. Ela não diz que a mulher “só serve” pra ser esposa, mãe e dona de casa, pelo contrário, fornece vários exemplos de mulheres que trabalhavam fora de casa. Temos o um padrão de mulher em Provérbios 31 que é magnífico, essa mulher é casada, dona de casa, boa administradora, boa negociante, costureira; há o exemplo da viúva Rute que trabalhou pelo sustento dela e de sua sogra; a rainha Ester que embora não tivesse uma voz política, ela trabalhou em favor do seu povo; Débora que foi conselheira do povo de Israel em um tempo de crise política e moral; há Lídia que era vendedora de tecidos (At 16:11-15); Priscila que trabalhava com seu marido (At 18:1-4). Muitas mulheres ricas nos evangelhos auxiliaram Jesus em seu ministério. Elas não estavam sempre dentro de casa, elas o acompanhavam, mas também o serviam dentro de suas próprias casas.

Ou seja, a visão cristã da mulher não é opressora, muito diferente de outras culturas. Basta espiar como a mulher muçulmana é tratada, em países em que não há abertura para o evangelho (especialmente nos países muçulmanos).