E eu com isso? #2

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A Bíblia é o tipo de livro que a maioria de nós não leria se não fosse cristão: documentos oficiais, genealogias, histórias, poesia, orações, cânticos, são diversos autores, estilos literários, épocas. É incrível que um mesmo livro possa ser ao mesmo tempo tão diversificado e possuir uma unidade indiscutível, como se tivesse sido escrita pelo mesmo autor. Apesar de tamanha diversidade, sabemos que a Bíblia foi inspirada por Deus, portanto, a despeito das diversas mãos que escreveram essas letras e transmitiram essas verdades, sem dúvida o direito autoral pertence unicamente a Deus. Há um fio que passa de Gênesis a Apocalipse, sem rupturas; de modo que ela não é mera compilação de vários livros, mas uma história única dividida em várias etapas. Eu demorei a compreender e começar a olhar a Bíblia desse modo. Fomos ensinados a lê-la em partes, como livros isolados e a sempre visualizar o Antigo Testamento como uma história isolada do Novo Testamento. Certo autor disse que ler a Bíblia desse modo é como pegar um livro e achar que cada parte dele é um todo limitado em si mesmo e que não há conexão com as demais partes. Ninguém lê um livro assim, uma leitura correta parte do início ao fim. Isso não quer dizer que nós tenhamos que ler a Bíblia toda sempre, e sim que a MELHOR maneira de ler e compreendê-la é conhecendo todo o seu conteúdo (para isso é fundamental fazer a leitura toda pelo menos UMA VEZ na vida) e então, sempre relacionar uma unidade (livro, capítulo, versículo) com o todo, esse tipo de leitura é muito enriquecedor e muda completamente a nossa percepção.
Numa primeira leitura, alguns detalhes parecem desimportantes e passam despercebidos, datas, nomes, períodos, locais, mas à medida que lemos, começamos a relacionar o conteúdo todo e os detalhes ganham mais sentido.
Essa semana eu aprendi a dar mais atenção aos detalhes lendo o livro de Ester. Ele traz algumas datas que para mim não tinham muita importância, até que comecei a relacioná-las. Acredito que a maioria conheça a história. Resumidamente, ela se passa na Pérsia, onde parte povo judeu vivia em cativeiro, desde o exílio. Eles haviam sido exilados, conforme a palavra de Deus por sua rebeldia e foram espalhados pelas nações. Assim como Daniel viveu sob o domínio babilônico, Ester viveu sob o domínio persa, juntamente com seu tio Mordecai, um judeu fiel a Deus. Por um decreto do rei, Ester foi selecionada entre muitas moças para se tornar rainha e Deus estava por trás destes acontecimentos. 
Havia dentre os conselheiros do rei Xerxes um homem chamado Hamã que queria se vingar Mordecai, assim, convenceu o rei a lançar um decreto para que todos os judeus fossem exterminados de todo o império persa. Ester usou de sua influência como rainha para impedir tal injustiça. 
No terceiro mês do 12º ano de reinado do rei Xerxes (do qual Ester já era rainha há no mínimo seis anos), Hamã escreveu um decreto para que em todas as províncias se destruíssem, matassem e aniquilassem todos os judeus, desde crianças até os velhos no dia 13 do 12º mês do ano. Alegando que eles eram um povo que não cumpria as leis do rei (capítulo 3).
A partir desse decreto, Ester decide interceder pelo povo em oração e também junto ao rei seu esposo, a fim de revogar esse decreto.
Hamã, certo de que seus planos seriam bem sucedidos, preparou uma forca para Mordecai, mas por ironia do destino, ou melhor, pela providência Divina através da vida de Ester, ele é condenado à morte devido à sua maldade e toma de seu próprio veneno, sendo enforcado na forca que havia destinado a Mordecai. 
Porém, apesar da morte de Hamã, o decreto de extermínio dos judeus já havia sido enviado por todo império e como bem sabemos, naquela época não havia email e muito menos grupos de whatsapp para avisar todos os governadores de uma vez só, levava-se meses para que uma notícia percorresse o império todo. Mas a intercessão de Ester junto ao rei foi ouvida a tempo de emitir outro decreto, desta vez em favor dos judeus. Como nenhum decreto selado pelo rei podia ser revogado, foi elaborado outro decreto (no 3º mês do ano faltando 9 meses para a data do extermínio) assinado pelo rei, no qual ele concedia aos judeus o direito de se reunirem em exércitos para se defenderem contra qualquer força que viesse para aniquilá-los. Assim, os judeus deviam preparar-se para a batalha que lhes sobreviria no dia 13 do 12º mês daquele ano. Essa notícia foi transmitida por todo império, trazendo alegria entre os judeus. Era clara a ação de Deus em favor do seu povo e por fim, o capítulo 9 de Ester nos conta que chegado dia 13 do 12º mês, quando os inimigos do povo judeu pensavam que conseguiriam aniquilá-los, ocorreu o CONTRÁRIO, os judeus é que aniquilaram seus inimigos! Não é assombroso? A forca que Hamã construiu para matar Mordecai serviu para sua própria more, o dia decidido para que outros povos aniquilassem os judeus, serviu para sua própria destruição! 
“O Eterno fará recair sobre os ímpios a própria iniquidade deles e serão consumidos por seus pecados; o Senhor, o nosso Deus os destruirá” (Salmos 94:23)
De todas as formas os inimigos do povo de Deus tentaram destruí-los, mas tudo o que eles planejaram contra os judeus se virou contra eles mesmos! E assim é com todos os filhos de Deus espalhados em cada canto deste mundo. Fomos avisados de que no mundo passaríamos por aflições, a todo tempo Satanás está tramando ciladas, somos por vezes injustiçados porque servimos a Deus. Mas a história de Ester me ensina que o povo de Deus pode levantar a voz com convicção e declarar: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” Somos a menina dos olhos de Deus e nenhum mal pode nos alcançar a menos que Deus tenha nisso um propósito. Talvez, ao saber do primeiro decreto, os judeus tenham ficado noites sem dormir, em desespero, mas Deus já estava agindo em seu favor. Deus está sempre trabalhando em favor do seu povo, Ele nunca nos deixa, não importa quão difícil seja uma situação, Deus transforma isso em ganho. 
O v. 17 do capitulo 8 diz que muitos não judeus acabaram se convertendo ao verem a forma como Deus havia agido em favor daquele povo. As nossas tribulações são meios que Deus usa para que o seu poder seja visto em nós e através de nós!
Esse livro me enche de esperança, estou segura em Cristo e nenhum mal pode me atingir a menos que Deus queira e se Deus quiser que isso ocorra é porque Ele tem um propósito muito maior em tudo! Assim sendo, as setas de Satanás são inúteis porque Deus é o meu escudo. 
Essa frase de Martinho Lutero, expressa bem a visão que o livro de Ester traz:
“O Diabo é instrumento Divino, como uma enxada, usada para cultivar o jardim de Deus. Embora este instrumento tenha prazer em destruir as ervas, ele não pode sair das mãos do Criador, nem capinar onde o Todo-Poderoso não deseja, nem frustrar Seu propósito se criar um bonito jardim. Assim, o Diabo sempre faz a obra de Deus”.
Como eu disse no princípio, datas, meses e anos geralmente passam despercebidos em nossas leituras bíblicas, parecem insignificantes, mas certamente foram escritas por um motivo e se levadas em conta trazem maior riqueza e sentido ao texto. Com certeza, quando você tem um testemunho para contar, ou um fato qualquer para relatar, você usa datas, épocas para trazer mais sentido e até emoção à narrativa. A Bíblia não é diferente, por isso, esses elementos devem ser levados em conta. Deus age minuciosamente e não está alheio aos acontecimentos, aos dias ou anos. Tudo isso faz parte da história que Ele está escreveu para o seu povo, incluindo eu e você!

No Amor de Cristo,

Prisca Lessa