A murmuração é um daqueles pecados que muitas vezes consideramos inofensivos, nós o cometemos diariamente sem levarmos em conta, pois o consideramos insignificante demais para ser relevado. Conquanto, nenhum pecado seja insignificante – pois todo o pecado é uma ofensa à santidade de Deus – a murmuração tem habitado nos arraiais do povo de Deus desde os tempos bíblicos. Ao longo da narrativa bíblica vemos o povo sendo repreendido e castigado por causa desse pecado (Nm 14:36, Sl 106:25, Tg 3:7-8, 1 Co 10:9-11, Judas 16, etc).

Se avaliarmos rapidamente nossa cultura perceberemos que a murmuração acabou se tornando algo tão comum que nos sentimos meio excluídos ou chatos se não reclamarmos de algo. As páginas que nos entretêm, os memes que gostamos, os comentários nas filas, no ônibus, após o culto estão cheios de queixas e murmurações. Reclamamos de tudo, reclamamos da segunda-feira porque não queremos trabalhar, reclamamos porque janeiro teve dias demais, reclamamos porque fevereiro teve dias a menos, reclamamos porque queremos ficar de quarentena, mas estamos trabalhando, reclamamos porque estamos de quarentena e não aguentamos mais ficar em casa – caso estivéssemos trabalhando estaríamos reclamando do trabalho e compartilhando memes sobre a sexta-feira.

A murmuração encontra solo fértil no descontentamento, murmuramos porque estamos descontentes com algo, porque acreditamos que as coisas poderiam ser melhores e já que não podemos mudar as circunstâncias, despejamos nossa frustração por meio de murmurações. A murmuração sempre busca um alvo externo, quando na realidade o problema se encontra no coração, trata-se de um pecado do coração evidenciado em palavras.

A murmuração revela descontentamento em relação a Deus. O povo de Israel, muitas vezes se queixava contra Moisés, quando não, encontravam outros alvos para despejar suas frustrações, mas no fim das contas, a Bíblia nos mostra que era contra Deus que eles estavam sempre murmurando. O problema não estava na comida, na água, no caminho ou em qualquer outra coisa, o povo estava acusando a Deus de não lhes conceder aquilo que eles mereciam.

Claro que como cristãos dificilmente admitimos que estamos nos queixando contra Deus, usamos as circunstâncias e as pessoas como alvos de nossas queixas e achamos que está tudo bem, tudo bem reclamar já que as coisas não vão bem. Mas, como todo o pecado, precisamos saber que a murmuração tende a se tornar um vício, um prazer do qual não conseguimos mais abrir mão, passamos a sentir necessidade de murmurar, prazer em ouvir e ler as murmurações dos outros e as endossamos. Nos unimos ao coro da murmuração e achamos que é normal.

Se tratando de tempos como esse em que estamos vivendo, a tentação de murmurar se torna ainda maior. As coisas não vão bem, definitivamente não planejamos chegar até aqui, contudo, chegamos e, ao contrário do que possamos pensar, a murmuração não irá melhorar nossas circunstâncias. Nesse ponto, devemos nos perguntar: o que a murmuração trará de benefício para o meu coração? Eu estou edificando a mim e ao meu próximo ao murmurar? Eu estou sendo edificado ao ouvir e ler murmurações? E, acima de tudo: Deus está sendo glorificado com a minha murmuração? Bem, sabemos a resposta para todas essas perguntas. Então, por que continuar?

Há um sentimento de descontentamento tomando conta de nós e precisamos repelir esse fermento de dentro das nossas casas antes que toda a massa levede. Por favor, fuja da murmuração, não dê lugar a ela, seja a pessoa que encorajará os outros a olharem o lado meio cheio do copo, seja um encorajador e não desanimador. Não seja como os espias que contaminados por seu pessimismo só conseguiram contribuir com perspectivas negativas e desanimadoras. O mundo é muito maior do que nossas necessidades, muito maior que uma segunda-feira, muito maior do que o clima que nos é mais favorável. O mundo está a serviço dos propósitos eternos de Deus, o mundo está a serviço da volta de Cristo e Deus fará tudo quanto for preciso para que esse propósito seja cumprido. O mundo é o palco de Deus.

A murmuração revela um coração ingrato, por isso, ao invés de murmurar, que tal nos desafiarmos à gratidão? Que tal proferirmos diariamente motivos de gratidão a Deus? Em seus grupos, em suas redes sociais, em seus círculos de conversa, sempre que as murmurações surgirem, seja você o primeiro a levantar as mãos e dizer: eu tenho motivos para agradecer hoje. Seja um agente de gratidão e encorajamento, não de murmuração e desânimo.
Hoje eu agradeço a Deus pela minha família, meu amor por eles tem se intensificado nos últimos tempos e louvo a Deus por tê-los em minha vida. E você, pelo que gostaria de agradecer a Deus hoje?

“Essas pessoas vivem se queixando, descontentes com a sua sorte, e seguem os seus próprios desejos impuros; são cheias de si e adulam os outros por interesse.” (Judas 1:16)

No Amor de Cristo,

Prisca Lessa