siga o seu coração não é um lema aceitável

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“Porque a mensagem que ouvistes desde o início é esta: que nos amemos uns aos outros. Não como Caim, que era do maligno e assassinou a seu irmão; e por que assassinou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas” (I João 3.11-12)

Creio que se pudéssemos resumir toda a mensagem bíblica em uma única palavra esta seria AMOR. Toda a Escritura nos fala acerca do amor: do amor de Deus para com os homens –  manifestado aos homens na Criação, na Queda e por meio da Redenção –, dos homens para com Deus e para com seus semelhantes. Cristo resumiu toda a Lei e os Profetas neste único mandamento: amar. Não há como fugir, o amor é a marca essencial do cristão. Uma marca que está em total contraste com o mundo no qual vivemos. O apóstolo João faz esse contraste de modo muito claro ao longo dessa epístola. Ele está sempre mostrando como as obras daqueles que estão na luz destoam das obras daqueles que estão das trevas. Ele nos convoca a praticar o amor em um mundo cheio de ódio e interesse próprio. Essa antiga mensagem de amor é imutável, é aquilo que temos ouvido desde o início. É aquilo que nossos irmãos no passado também ouviram. Passe o tempo que passar esta sempre será a essência da mensagem de Deus: Ame, a Deus e ao seu próximo.

O apóstolo João gostava de expor suas ideias por meio de contrastes e ao falar de amor, ele falou também sobre o ódio. No v. 12 ele compara o amor bíblico ao ódio que moveu o coração de Caim a se tornar um homicida. Caim matou Abel porque suas obras eram más. Com base nessa conclusão[1], podemos afirmar que somos naturalmente movidos a agir de acordo com o que está em nosso coração. Nossas ações não são meros acidentes, mas espelham o nosso interior: “Como na água o rosto corresponde ao rosto, assim o coração do homem ao homem” (Pv 27:19). Portanto, é nosso dever refletir sobre a condição de nosso coração. Quem sabe se Caim tivesse feito isso, não teria resistido à tentação de assassinar seu próprio irmão?!

Caim não matou Abel porque sua oferta foi recusada. Tal recusa só serviu de mola propulsora para revelar o seu coração. De igual modo, os conflitos que enfrentamos diariamente, em casa, no trabalho, com cônjuge ou amigos, apenas revelam o que está em nosso coração.

Há alguns dias, me irei com minha mãe e com um amigo. Na ocasião eu estava convencida de que tinha motivos justos para estar irada. Afinal, eles haviam falhado comigo; não fizeram aquilo que eu esperava deles. Entrei no quarto e chorei de raiva. Foi então que o Espírito fez com que eu analisasse o meu coração. Por que eu estava irada? Quando Caim ficou irado, ele culpou Abel. Essa é sempre a nossa tendência pecaminosa, encontrar um culpado (à parte de nós, é claro, que somos sempre as vítimas incompreendidas). Mas, a atitude de Deus para com Caim não foi de condolência, mas de confronto. Deus chamou-lhe a atenção: “Por que estás irado, e por que descaiu o teu semblante?” (Gn 4:6). Essa pergunta ecoou em minha mente. Comecei a refletir acerca do meu próprio coração e as motivações por traz da minha ira. Minha ira teria sido provocada meramente pela atitude de minha mãe e amigo para comigo ou havia algo oculto em íntimo que precisava ser revelado?

Sabe, Deus é especialista em revelar coisas. Ele faz isso como ninguém; e, quando faz não encontramos lugar para nossas justificativas. O Senhor me deu o diagnóstico preciso do meu mal súbito: a minha ira havia sido movida por um ego ferido. Sentir que havia sido deixada em segundo plano foi um golpe fatal. Afinal, lá no íntimo era inadmissível que eu não estivesse em primeiro lugar na vida de todas as pessoas que me cercam. Fiquei irada porque os planos que havia combinado com minha mãe não se concretizaram. Minha vontade não foi feita! Isso também era inadmissível. Ter as vontades frustradas é uma tremenda ofensa ao coração cheio de si mesmo. É humilhante para esse coração deparar-se com a verdade de que Deus é o único que pode dizer “farei toda a minha vontade!” (Is 46:10). Entre lágrimas fui confrontada por Deus. Ele revelou o que estava em meu coração e, confesso, doeu. Doeu, mas aprendi que enquanto criatura, não ter minha vontade feita deve causar humildade ao invés de ira. Além disso, eu não devo destilar minha ira sobre as pessoas, mas levá-la a Deus para que Ele me restaure. O contrário disso é orgulho e como podemos ver na vida de Caim, o orgulho só traz ruína (Pv 16:18)

Planos frustrados nos lembram de quem não somos: Deus.

As coisas nem sempre sairão conforme planejamos; isso pode ser frustrante, mas é um fato. Tiago é enfático, podemos dizer que hoje ou amanhã faremos isto ou aquilo, mas a verdade é que só faremos aquilo que o Senhor nos permitir (Tg 4:13-17). Devemos reconhecer humildemente que todos os nossos planos estão sujeitos à vontade de Deus. Dói quando as circunstâncias gritam em nossos ouvidos que somos apenas pó, mas Deus usa dessas circunstâncias para nos livrar da cobiça que cerca os nossos corações.

            Estamos tão acostumados a tratar superficialmente nossos conflitos, colocando a culpa nos outros, nas circunstâncias e até mesmo em Deus, que perdemos a oportunidade de enxergar a feiura do nosso coração e correr para o trono da Graça a fim de obter cura. Não matamos com nossas mãos, mas nos iramos de tal forma que chegamos a sentir ódio. Ódio este que nada mais é do que matar alguém em seu coração (v.15). Se você tem sido influenciado pelo mundo a ponto de crer que o coração do homem é bom e que “siga seu coração” é um lema de vida aceitável, você precisa parar e atentar para o que João está dizendo: o seu coração é tão confiável quanto um assassino. Não confie nele, ele é traiçoeiro. Tão traiçoeiro e enganador que quando está prestes a ser desmascarado, ele logo trata de apontar um culpado para sair ileso. Dificilmente admitimos que o conflito se iniciou porque deixamos de amar a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos. Somos orgulhosos, e por isso, frequentemente, estamos combatendo pessoas, ao invés de combater o pecado.

Precisamos combater o pecado e não as pessoas.

Encarar nossos conflitos analisando quais pecados eles estão revelando não significa que eles deixarão de existir, ou que nossos relacionamentos serão perfeitos. Somos pecadores, e embora saibamos que devemos fazer o bem, nem sempre fazemos (Tg 4:17; Rm 7:15). Reagimos sem pensar e quando nos damos conta, já falhamos. Portanto, encarar nossos conflitos analisando quais pecados eles estão revelando significa que:

  • Dispomos-nos a reconhecer as nossas próprias falhas em primeiro lugar.

Nesse processo somos movidos pelo Espírito a humildemente reconhecer que falhamos e a pedir perdão. Nunca é fácil e nem sempre estamos dispostos a dar este passo, por isso, essa é uma obra contínua de Deus em nossos corações e não um passe de mágica! Eu posso até tentar me justificar diante dos homens, mas, em meu coração sei que não terei justificativas perante Deus.

Sabe aquele pai que diante de uma atitude errada de seu filho faz com que ele volte para se desculpar com o vizinho ou colega a quem ofendeu? Deus age assim conosco, Ele mostra onde falhamos e ordena que nos arrependamos e busquemos reconciliação.

Além disso, passamos a ter maior consciência dos pecados contra os quais precisamos lutar. Se descubro que a minha ira é movida pelo excesso de amor próprio, devo reconhecer que preciso amar mais a Deus, menos a mim mesmo e exercitar mais o amor ao próximo. Com a ajuda do Espírito devo combater esse pecado em meu coração.

  • Tomamos maior consciência de que o maior ofendido em nossos conflitos é Deus.

Somos movidos pelo Espírito a deixar de avaliar a gravidade da ofensa pelo que o outro fez a mim e passamos a avaliar na perspectiva de que toda ofensa é feita primeiramente contra Deus.

Sendo assim mais do que buscar perdão para nós mesmos, devemos nos colocar diante de Deus em arrependimento por pecarmos contra Ele e também incentivar nossos ofensores a se reconciliarem com Deus.

Pequei contra Ti, disse Davi. Ele não menosprezou seu pecado contra o próximo, nem se justificou ou procurou a quem culpar, mas reconheceu que todo pecado é primeiramente cometido contra o Deus que é Santo (Sl 51:4).

Quando passamos a enxergar nossos conflitos sob essa ótica de pecado, logo somos levados à questão principal: o maior ofendido não sou eu, mas Deus.

O inimigo de nossas almas odeia a justiça, odeia quando andamos retamente. Ele, tenazmente, nos incita por meio do pecado em nosso coração a criarmos guerras, não contra o pecado, mas, contra o nosso próximo. Ele vibra quando ignoramos o pecado do nosso coração e nos concentramos tão somente naquilo que o outro está fazendo.

No fim, eu confessei à minha mãe e ao meu amigo o que havia se passado em meu coração. Não tentei justificar, apenas admiti aquilo o Senhor havia tratado comigo. Não foi fácil reconhecer, mas, sabem de uma coisa? Senti grande alívio e alegria por isso. Um peso foi tirado de meus ombros e a reconciliação foi promovida, graças a Deus.

Queridas irmãs, nossa sociedade nos diz que devemos seguir o nosso coração, como se ele fosse um guia seguro para nossas vidas. Mas a Palavra de Deus nos mostra justamente o oposto, não devemos seguir o nosso coração pois ele nos conduzirá à ruína, assim como foi com Caim e com tantos outros homens e mulheres que desprezaram a sabedoria de Deus. Precisamos nos revestir da Palavra de Deus para que não sejamos presas fáceis para o Maligno.

Só existe uma cura para os nossos corações: amar a Deus com todo nosso ser, força e entendimento. Somente assim deixaremos de ser enganadas por nosso coração corrupto e estaremos prontas para amar ao nosso próximo como a Palavra nos ordena.

Concluindo, se o nosso coração é tão corrupto quanto a Bíblia nos diz e, de fato, ele é, então “siga o seu coração” não é um lema de vida aceitável. É como dar um tiro no próprio pé. A Bíblia nos ensina justamente o contrário: Não siga o seu próprio coração, pois “O que confia no seu próprio coração é insensato, mas o que anda sabiamente escapará” (Pv 28:26).

Queridas irmãs, não podemos amar verdadeiramente sem que conheçamos o nosso coração e as limitações que ele nos impõe. Precisamos saber quais são as barreiras que nos impedem de amar como Deus requer, para então derrubá-las pelo poder do Espírito Santo. Somos muito mais propensas a seguir o nosso coração do que a amar verdadeiramente. Enquanto o mundo exalta o amor próprio, a Escritura exalta o amor a Deus e ao próximo; e é neste tipo de amor que devemos nos focar.

Essa reflexão seja bastante desafiadora. Acreditem, escrever sobre isso é infinitamente mais fácil do que viver na prática, por isso minha oração ao fim deste texto é que o bondoso Deus nos ajude a digerir e aplicar estas palavras em nosso viver diário. Pois, se não for por Ele, por meio dEle e para Ele, nada conseguiremos.

No próximo post continuaremos falando sobre o amor, analisando um pouco o contexto no qual nossa geração está inserida. Mais amor, por favor, é o grito da multidão, mas será que amor é o que as pessoas realmente querem? Será que esse amor que a multidão deseja é o mesmo do qual o apóstolo João está falando? Vamos analisar juntas! Que deus nos abençoe.

OBSERVAÇÃO: Vou me esforçar para não deixar intervalos longos entre as postagens para que vocês possam acompanhar a sequência.

Abraços fraternos

No amor de Cristo,

Prisca Lessa

[1] Uma das regras da interpretação bíblica é que nunca devemos interpretar um texto bíblico isoladamente, mas à luz de todo o pensamento bíblico. Em outras palavras, a interpretação de um único texto bíblico deve estar sempre de acordo com o pensamento bíblico geral sobre esse determinado assunto.