Teologia da Prosperidade: uma visão cega sobre o dinheiro

No livro “O Peregrino” de John Bunyan, o protagonista, chamado Cristão, tão logo decide começar sua peregrinação, escolhe abandonar a realidade que outrora ditava seu comportamento. Ao tomar essa decisão, passa a ser criticado por todos, inclusive por sua família.

Começo com essa lembrança, querida irmã, porque a verdade revelada por meio de Cristo transforma nossa visão, e ela não é bem aceita por corações enganosos que sempre buscam  autossatisfação. Por isso, todas as áreas que abrangem a nossa vida aqui nesse mundo podem ser distorcidas na busca por ouvir a insensatez com a qual devemos, enquanto cristãos, lutar. Com isso em mente, seria muito importante pensarmos sobre a Teologia da Prosperidade e o modo bíblico de lidarmos com nossas finanças. 

O que é a teologia da prosperidade?

Uma pesquisa nas raízes da Teologia da Prosperidade leva-nos a saber que ela teve início por volta do século 19, nos Estados Unidos. A Teologia da Prosperidade prega que o poder das palavras nos leva a uma espécie de certeza de que o que dissermos e pensarmos se torna verdade. Ao utilizar uma combinação de palavras de sucesso acreditando em seu potencial, você é capaz de fazer as coisas acontecerem. Agindo assim, os adeptos dessa teologia argumentam que Deus te dará aquilo que você merece, afinal, ser amado por Deus significa que Ele necessariamente te dará saúde e riqueza.

Uma questão central que devemos pensar ao nos depararmos com ideias como essa é que o nosso coração é uma fábrica de ídolos, como bem disse João Calvino. Com isso, não podemos ignorar que nossos corações são rápidos em querer o lugar mais confortável, e assim, mentiras como a de que somos feitos para prosperar e que colocam Deus em um lugar subserviente agradam sorrateiramente ao coração humano. É mais palatável servir a um Deus que me agrada. Quanta dor! Que tragédia é perder o Senhor bendito porque o amor aos prazeres deste mundo passageiro é maior. 

Nisso tudo, louvo a Deus por ainda ter misericórdia de seus filhos e revelar em sua Palavra como devemos lidar com um tema importante como o dinheiro. Afinal, se meditarmos em Provérbios, encontraremos muita sabedoria acerca de como lidar com o dinheiro e seremos levadas a um ponto crucial: o equilíbrio. 

Nem teologia da prosperidade, nem louvor à pobreza

Muitas vezes, para nos distanciarmos do que é errado, vamos ao extremo oposto, o que pode ocorrer nesse caso: a fim de não amarmos o dinheiro e permitir que a segurança e o prazer que ele nos traz tomem o trono do Senhor em nós, amaldiçoamos o dinheiro e parece que seria louvável sermos mais desprovidos. Então, queria te dar o exemplo de um irmão: John Wesley.

Wesley nos deixa um testemunho que parece-me mais próximo do que Provérbios nos instrui. Na infância, Wesley via seu pai com dificuldades financeiras, pois era ministro em uma igreja com poucos recursos, ao passo que John Wesley, que seguiu para o serviço eclesiástico, viu-se com ganhos bem razoáveis para uma vida confortável. A princípio, ele buscava tão somente seu conforto, mas, ao ser impactado pela situação de uma mulher que trabalhava para ele, teve sua visão mudada. Wesley, quanto mais ganhava, mais tornava seus ganhos como meios para abençoar o necessitado e permanecia mantendo uma vida bem simples, comportamento que se continuou até sua morte. 

Sim, imagino que ainda precisemos de mais fé para sermos tão assertivos em nossa visão acerca dos bens que recebemos de Deus, mas, esse exemplo nos dá conclusões práticas que podem nos ajudar: 

Provérbios 21:20 cita a riqueza como algo que o sábio possui, e para além disso, o sábio a usa para abençoar o mais necessitado (Pv 14:21). Acredito que seja mais simples do que parece: Os filhos de Deus sabem que já receberam o maior tesouro, Cristo Jesus. Assim, são diligentes em seu trabalho e buscam guardar o necessário para o dia difícil, não são tolos gastando de modo deliberado apenas para satisfazer a si mesmos. Mas, buscam servir, com amor, a sua igreja e o necessitado. Eles não mais buscam seus próprios interesses (1 Co 13:5).  

Wesley nos mostra que filhos regenerados podem sim ter bens, mas o que distingue filhos de Deus é a maneira como essas bênçãos serão administradas, se para o benefício de outros ou se para reforçar a condição de pecadores egoístas. 

Como glorificar a Deus em nossas finanças

Aqui estão algumas formas de buscarmos mudar nossa visão acerca do dinheiro. Enquanto mulheres, seja solteira ou casada, devemos:

  1. Orar para que o Senhor nos livre do amor ao dinheiro;
  2. Orar pedindo sabedoria necessária para lidarmos com as nossas finanças, de modo que o Senhor seja glorificado, dando-nos sensatez e domínio próprio em nossos gastos;
  3. Orar para que sejamos livres da tendência, presente em nosso tempo, de atrelar nossa identidade aos bens que possuímos;
  4. Devemos começar! Os nossos bens podem ser fonte de bênçãos, por isso, treine seu coração a dar com alegria de modo que sejamos capazes de ajudar na manutenção de nossas igrejas, no envio e cuidado de missionários, no ajudar nossos irmãos e o próximo, evidenciando a misericórdia que é fruto de um coração regenerado. 

Sei que estamos em um mundo que cada vez mais reforça que precisamos disso e daquilo para sermos felizes, mas minha oração é que o Senhor nos livre de sermos presas por tais mentiras. Como em tudo em nossa vida, precisamos clamar: Pai, dê-me Cristo, a melhor porção. 

Irmãs, nossa teologia nas finanças precisa ser um desaguar de um coração dependente do Pai, sabendo que não mais perseguimos os bens que perecem. Precisamos incomodar os ímpios a ponto de eles nos criticarem, precisamos ser como o personagem Cristão, sabendo que a peregrinação nos livra dos fardos desse mundo. Que possamos deixar o fardo de nos preocupar com o dinheiro como propulsor de nossas vidas, e ao invés disso, sejamos levadas à cruz de Cristo. 

Por: Sammara Cristina