3 razões pelas quais eu posso correr para Deus com a minha devastação sexual

Essa pergunta é onde tudo começa para mim: eu realmente posso confiar a Deus tudo, inclusive a minha sexualidade?  

Eu ainda me imagino no meu quarto naquela noite, inquieta, sobrecarregada pela angústia na minha alma. Segurando firmemente as cobertas, eu falei em meio a escuridão, revelando meu obscuro e profundo segredo a Deus.

Lágrimas rolaram pelas minhas bochechas enquanto as palavras escapavam, bravamente ainda que de forma tímida. A agonia da minha alma borbulhou e derramou.

Mas ali estava, levado até a luz, tendo sido dado voz, não mais escondido. Lutar a respeito da minha sexualidade me fez abandonar a fé da minha infância. E agora se tornou aquilo que me deixou, mais uma vez, desesperada por Deus.

Naquele momento, eu ansiava saber que eu ainda era acolhida e amada por Deus. Eu me lembro de contar mais tarde essa experiência para uma figura paterna que eu tinha na minha vida. Ele sorriu e disse gentilmente, “você acha que Deus estava surpreso?” Eu também sorri, sabendo que obviamente a resposta era não. O Salmo 139 diz “você está intimamente familiarizado com todos os meus caminhos.” Deus conhece os segredos mais profundos do meu coração e não dá as costas.

Alguma coisa aconteceu naquela noite em que eu retirei a máscara, admitindo o que Deus já sabia. Foi o começo de uma mudança interna profunda. Alguns anos atrás eu estaria aterrorizada ao dizer tais coisas para Deus, mas agora isso me dá um grande conforto e tem me levado para um relacionamento mais profundo e íntimo com Ele ao passo que eu tenho começado a compreender o poder de três verdades transformadoras das Escrituras: O Pai me abraça. Jesus se compadece de mim. O Espírito me dá poder.

O Pai me abraça

Sempre que penso em Deus me acolhendo enquanto Pai, minha mente vai para Lucas 15. “Vinha ele ainda longe,” o texto diz. Isso significa que o Pai é vigilante observando e esperando, ansiando pelo retorno do seu filho. 

O filho que havia gastado tudo. 

O filho que basicamente desejou que seu Pai estivesse morto. 

O filho que havia rejeitado o amor e o lar do seu Pai e partiu em busca de prazeres mundanos para preencher a sua alma faminta. 

Esse é o filho pelo qual o Pai está esticando seu pescoço, esperando captar um vislumbre da sua chegada pelo caminho. 

Você já se sentiu como o filho dessa história? A memória das suas escolhas passadas te preenchem com uma vergonha incendiante? Talvez, assim como eu, você tenha fugido por se sentir muito indigno de continuar a viver na casa do seu Pai. Ou talvez, assim como o filho, nós acreditemos que o verdadeiro prazer e satisfação não são encontrados no Pai.

Mas ainda assim, no momento em que retornamos, miseráveis e em sofrimento, o coração de Deus é movido em direção à compaixão. Ele corre até nós e nos envolve em um abraço emocionado. Eu acho que essa história pode ser tão familiar que pulamos a intensidade da emoção que Jesus atribui ao Pai enquanto Ele conta essa história. Vamos olhar para como esse momento de reunião é descrito em Lucas 15.20:

“Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou.” (Almeida Revista e Atualizada)

“Estando ainda longe, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e beijou.” (NVI)

“Quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.” (Almeida Corrigida Fiel)

Você percebe a intensidade e profundidade do amor do Pai pelo Seu filho? Eu não sei quanto a você, mas essa não é a imagem que vem à minha mente quando eu peco. Sussurros que dizem “você não é digna agora,” “você nunca estará limpa,” e “você não é amada depois do que você fez” preenchem a minha mente levando-me a perder completamente de vista o amplamente amoroso coração de Deus que diz com grande alegria diante do meu retorno: “Essa amada minha estava perdida e agora foi encontrada!”

Jesus se compadece de mim

Durante os meus anos pródigos, algumas coisas continuavam a me levar para o Cristianismo. A mais atrativa era: Jesus, totalmente Deus, voluntariamente abraçando essa vida humana. 

Escolher negar meus desejos carnais é, nos melhores dias, cansativo e, nos dias realmente sombrios, ameaça esmagar a minha alma. Nesses momentos, eu continuo a retornar para a humanidade do meu Salvador. Em um dia particularmente difícil há algumas semanas atrás, enquanto eu chorava novamente com Deus, sentindo-me envergonhada e indigna de ser Sua filha, as palavras de Hebreus 4 vieram ao meu coração. Frases do versículo 15 começaram a saltar diante de mim:

Ele simpatiza conosco em nossa fragilidade.

Ele entende a humanidade.

Ele foi tentado de todas as formas e, ainda assim, não pecou.

Eu encontro um profundo conforto em saber que Jesus, ainda que totalmente Deus, reduziu-se  à existência lamacenta da humanidade, caminhou pelas estradas empoeiradas e conhece em primeira mão a dor da mágoa e da perda. Então, porque Jesus tornou-se carne e sangue como nós, vivendo sem pecado apesar das tentações e lutas, Ele abriu o caminho para o trono da graça. Por causa disso, qual é o meu direito comprado com sangue como filha de Deus? A resposta é encontrada no próximo versículo:

Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça (o trono da graça imerecida de Deus por nós pecadores), a fim de recebermos misericórdia [por nossos fracassos] e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna para toda necessidade [ajuda apropriada e em tempo oportuno, chegando exatamente quando precisamos] Hebreus 4.16.

Como você se imagina aproximando-se do trono da graça?

Sendo honesta, geralmente eu me vejo entrando constrangida, roupas esfarrapadas, olhando para baixo com vergonha, torcendo para que a porta não seja batida na minha cara. Mas assim como o Pai correu para Seu filho, nosso Salvador Jesus caminhou pelos corredores até o trono em nosso nome e escancarou as portas duplas, dando acesso ao lugar onde o beijo da misericórdia espera. Ele não se afasta. Em vez disso, Ele coloca o braço em volta do meu ombro e diz: “Eu sei, eu sei”.

O Espírito me dá poder

Viver em nossa cultura muitas vezes parece um mergulho contínuo contra a corrente e, sejamos honestas, às vezes nos cansamos de resistir à carne (ou eu sou a única?!). Esta é uma razão pela qual sou muito grata pela honestidade crua da palavra de Deus. Paulo muitas vezes parece um cristão sobre-humano para mim, e então me lembro desse “super-herói” da fé que escreveu estas palavras em Romanos 7:

“O que eu quero fazer, não faço; e o que odeio, isso eu faço. Miserável homem que sou!” (Rm 7:24)

Este versículo revela a realidade de nossa luta interna com a carne, então por que ainda nos surpreendemos quando isso acontece?

Mas Paulo não parou por aí.

Logo após esta confissão, vem Romanos 8, um capítulo muito citado e muito amado, repleto de verdades extraordinárias. Lembra daquela criança encolhida, com medo de se aproximar do trono? Percebi que essa é a mesma postura que costumo tomar ao lutar contra as mentiras do inimigo ou os impulsos da minha carne. Eu apenas me sento e as recebo, agindo como se não tivesse escolha. Mas Paulo nos lembra em Romanos 8 que, como filhos amados de Deus, estamos cheios do Espírito Santo. Minha nova identidade proclama que não sou mais obrigada a dar audiência às vozes do pecado e da carne. Não tenho obrigação de fazer o que minha natureza pecaminosa me diz para fazer.

O Espírito Santo me dá poder para dizer “Não”.

Ok, isso pode soar um pouco estranho, mas quando foi a última vez que você disse “não” para sua carne? Alto. Tipo, muito alto. Satanás é um valentão determinado a nos destruir. Fui professora de educação infantil por seis anos e ensinamos três coisas aos nossos alunos quando alguém começa a ter um comportamento que assemelha-se ao bullying.

  1. Diga “NÃO!” com a mão erguida e em voz alta 
  2. Afaste-se
  3. Procure um professor

Eu me pergunto o que aconteceria se começássemos a responder à enxurrada de mentiras de Satanás dessa maneira, como empoderadas filhas de Deus. Somos privilegiadas e protegidas, e temos autoridade em nome de Jesus para declarar com poder: “Não sou mais obrigada a dizer sim a você. Essa mentira ou tentação não é mais minha identidade.” Podemos então nos afastar e ir direto ao nosso Advogado, nosso Conselheiro, e contar a Ele tudo sobre isso.

Quanto mais conheço e confio no coração de Deus, mais aprendo a praticar isso, momento a momento, um dia após o outro. Eu ainda vacilo e esqueço minha verdadeira identidade. Mas a cada vez, sem falta, o abraço de meu Pai me aguarda, e a empatia de Jesus conforta meu coração, lembrando-me de que sou uma filha do poderoso de Deus. E você também.

Nosso Deus diz: “Venha, estou seguro para todos os seus segredos e lutas”. Então eu vou e coloco minha cabeça cansada em Seu pescoço e descanso segura, sabendo que eu realmente posso confiar ao meu Deus todas as coisas, incluindo minha sexualidade.

Autora: Julia Mitchell

Tradutora: Giulia Alcântara

Link para o texto original: https://www.authenticintimacy.com/resources/37621/3-reasons-i-can-run-to-god-with-my-sexual-brokenness?source=blog