
Alguma vez passaram pela sua mente os seguintes pensamentos?
“Não é possível, esse trabalho aqui só pode ser consequência do pecado ou então fazer parte de um processo de disciplina na minha vida!”
“Não vejo propósito nem satisfação ao esfregar panela, limpar ralo cheio de cabelos, estender roupa ou fazer o mesmo trajeto, encontrar as mesmas pessoas e ajustar a mesma planilha a todo momento.”
“Tudo é muito repetitivo e tudo cansa demais!”
Tenho conversado com mulheres exaustas. Mulheres que não só têm esses pensamentos descritos acima ecoando em sua mente, mas cujo desejo real é ter descanso. Mas dá para descansar com filho pequeno que chora à noite? Dá para descansar quando sou cobrada por um chefe com prazos curtos e sem horas extras? Dá para desfrutar do fim de semana quando o cliente envia mensagem no sábado à noite? E a louça? E a pilha de roupas?
Se eu descansar… as coisas vão sucumbir!
Vivemos vidas cada vez mais agitadas, com cobranças imediatas para conseguirmos fazer malabarismos com todas as demandas da nossa vida. Como conseguir trabalhar dentro e fora do lar sem deixar a desejar? Como dar conta da família, dos compromissos da igreja e da renda? Parece que ninguém está disposto a trabalhar nos eventos da minha igreja, só eu!
Se eu não fizer, ninguém fará!
E, no meio das preocupações imediatas, pode surgir aquela angústia, aquela tristeza de ter que encontrar clientes, pacientes ou colegas de trabalho. Sensação de que o que antes te trazia alegria agora te causa temor. Medo real de não dar conta, de não fazer parte de um time, de pedir demissão e não conseguir pagar as contas… medo, culpa, cansaço, estresse. Não aguento mais! Chega. Qual o propósito de tudo isso, e como posso glorificar a Deus no meio dos meus muitos trabalhos?
Eu não sei mais o que fazer!
Essa estafa completa não é de hoje. É antiga. Quer ver?
Leia Números 11:10-15:
“Então, Moisés ouviu chorar o povo por famílias, cada um à porta de sua tenda; e a ira do Senhor grandemente se acendeu, e pareceu mal aos olhos de Moisés. Disse Moisés ao Senhor: Por que fizeste mal a teu servo, e por que não achei favor aos teus olhos, visto que puseste sobre mim a carga de todo este povo? Concebi eu, porventura, todo este povo? Dei-o eu à luz, para que me digas: Leva-o ao teu colo, como a ama leva a criança que mama, à terra que, sob juramento, prometeste a seus pais? Donde teria eu carne para dar a todo este povo? Pois chora diante de mim, dizendo: Dá-nos carne que possamos comer. Eu sozinho não posso levar todo este povo, pois me é pesado demais. Se assim me tratas, mata-me de uma vez, eu te peço, se tenho achado favor aos teus olhos; e não me deixes ver a minha miséria.”
Moisés, um herói na fé, teve exatamente esses sentimentos… esse povo não para de reclamar no meu ouvido! Se eu descansar… as coisas vão sucumbir! Não fui eu quem deu à luz a esse povo todo, mas se eu não fizer, ninguém fará! Tira minha vida Senhor, eu não sei mais o que fazer!
Moisés teve o que hoje chamariam de burnout. Perdeu todo o vigor e toda a alegria, achou que não havia saída. Essa tarefa que Deus havia dado a ele era muito repetitiva, muito cansativa, muito improdutiva! Sempre a mesma falação no ouvido dele e sempre a mesma rebeldia do povo!
Tem um povo rebelde assim na sua casa também?
Pois é… estafa e cansaço de trabalhar não são de hoje.
Esse assunto daria três dias de conversa, mas quero só refletir sobre três coisas:
Quem é o nosso socorro?
No contexto de extremo cansaço, devemos lembrar que nós temos a quem pedir socorro. Ao Deus que criou o trabalho, nos fez propensas a trabalhar e nos chamou a servir, imitando o Servo (Marcos 9:35; Mateus 20:28).
No caso de Moisés, perceba que Deus foi ao seu socorro. Veja Números 11:16-17:
“Disse o Senhor a Moisés: Ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel, que sabes serem anciãos e superintendentes do povo; e os trarás perante a tenda da congregação, para que assistam ali contigo. Então, descerei e ali falarei contigo; tirarei do Espírito que está sobre ti e o porei sobre eles; e contigo levarão a carga do povo, para que não a leves tu somente.”
Deus trouxe alívio e socorro; Ele é o Senhor soberano que supre. Ele não nos deixa sós e nos lembra que fazemos parte de um corpo. Ele torna nosso fardo leve. Ele conhece nossas limitações, vê a nossa situação e é providente ao nos sustentar.
O Senhor fez o mesmo por Elias. Leia 1 Reis 19:3-18. Veja o desespero de Elias, pedindo para morrer; observe a clara providência de Deus em ser o socorro e lhe dar alívio de uma carga tão grande.
A Bíblia é repleta de exemplos de momentos em que Deus encoraja Seu povo, lembrando que Ele é o Deus que nunca nos abandona e que Ele mesmo nos deu todas as condições para lidar com o contexto em que estamos vivendo. Ele nos fortalece, nos direciona e nos capacita. Leia depois: Deuteronômio 4:29-31; 31:6; Josué 1:5; Esdras 9:8-10; Neemias 9:19-31; Isaías 41:17; 42:16.
“Disse Davi a Salomão, seu filho: Sê forte e corajoso e faze a obra; não temas, nem te desanimes, porque o Senhor Deus, meu Deus, há de ser contigo; não te deixará, nem te desamparará, até que acabes todas as obras para o serviço da Casa do Senhor.” (1 Crônicas 28:20)
O Senhor é nosso socorro. Corra em oração a Ele. Ele sempre vai te ouvir e nunca abandona Seu povo.
Remova o excesso:
Temos uma imensa dificuldade em priorizar. E isso provém do nosso coração orgulhoso. Nós achamos que somos insubstituíveis em cada uma de nossas funções. Achamos que, se não fizermos as coisas, não haverá quem as faça, ou, se alguém fizer, não será bem feito!
Reconhecem esse padrão?
Orgulho puro.
Esse problema ocorre desde o Éden. O próprio Moisés demonstra, em certo momento, que o cumprimento do seu chamado de Deus tinha relação com a força de seu próprio braço (Números 20:7-12). Ele ouviu a ordem de falar à rocha, mas não creu e feriu a rocha duas vezes. Ele, que chamou o povo de rebelde, foi tão rebelde quanto eles. Não obedeceu à ordem de Deus e quis realizar o trabalho do seu jeito.
Nós, muitas vezes, assim procedemos. Achamos que o mérito é nosso pelo trabalho bem feito, então não sabemos priorizar nossos trabalhos, pois achamos que fazemos melhor que os outros ou que o mundo ao nosso redor só irá funcionar se nós dermos conta de tudo.
Saiba que há uma única prioridade (Salmo 27:4)! Seu relacionamento com Deus. E, secundariamente, o cuidado e zelo para com seus primeiros próximos (família), que inclui servi-los nas mais diversas áreas e tornar a vida deles mais confortável. O restante, você pode colocar na balança. Pergunte e peça discernimento em oração.
“É um trabalho que supre para meus primeiros próximos?”
“É um trabalho que alguém pode fazer tão bem ou melhor que eu?”
“É um trabalho que me rouba tempo de disciplinas espirituais e tempo com a família e com o corpo de Cristo?”
“Consigo delegar para outros?”
Essa conversa é longa, mas o ponto principal aqui é que você deve entender que é substituível. Se “cair dura” hoje, amanhã alguém estará no seu lugar fazendo o que você fazia tão bem. Mas, para sua família, você é insubstituível. Corte as coisas desnecessárias. Deus nos chama a remir (libertar) nosso tempo. Leia Efésios 5:1-21; ao final do texto, você perceberá que, para ser uma pessoa influenciada (ou cheia) pelo Espírito Santo, há quatro orientações. As quatro te ajudarão a priorizar o que precisa ser priorizado.
Saiba como descansar:
Eu creio que estou sempre aprendendo como se deve descansar. Nosso descanso deve ser diário e semanal. O sono é algo tão sério e tão mencionado na Bíblia que falhamos em dormir o quanto nosso corpo precisa. E o descanso no sábado do Senhor (nosso domingo)? Quantas vezes você termina o domingo à noite completamente exausta de tanta correria e sem ter tido nenhum descanso de fato?
Toda vez que Deus fala sobre o descanso no sétimo dia ou o descanso no sétimo ano, dentro do conjunto de leis, Ele nos lembra que Ele é o Deus que nos tirou da terra do Egito. Ele é o Deus que proverá no sexto o equivalente até a próxima messe (Levítico 25:20-22).
Pense comigo: Deus comanda o descanso. Se não descansamos, desagradamos a Deus, pois “esquecemos” que Ele é o Deus provedor, que faz frutificar até o nono ano, soberano e que nunca nos deixa faltar o sustento. Ele que faz, Ele que provê. Não sou eu. O descanso nada mais é do que uma forma de reconhecer e adorar a Deus, que tudo nos dá. Caso duvidemos dessa providência, tornamo-nos escravas do nosso trabalho, e é como se tivéssemos voltado ao Egito. Este Deus providente já libertou o Seu povo de lá!
Não caia na mentira de que você não pode descansar. Você deve descansar. Ele mesmo que te ordena a fazer isso, a descansar nEle, que cuida e redime Seu povo. Jesus falou sobre isso:
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mateus 11:28-30)
Se trabalhamos para a glória dEle, descansamos para a glória dEle! Só podemos fazer isso graças ao que Cristo fez na cruz. Ele nos libertou da escravidão do nosso próprio orgulho. Ele nos representou naquela cruz. Ele nos chama a sermos humildes como Ele é e a colocar sobre Ele nosso burnout. Ele é o Deus que não nos abandona, não nos deixa à deriva, constantemente nos supre e nos chama a confiar em Cristo, Aquele que realizou o trabalho completo por nós na cruz.
Ele caminha conosco e nos chama a descansar nEle.
Doce verdade: o seu trabalho e o seu descanso não são dizem respeito a você, mas à sua história, inserida na grande História da Redenção. Então, até que Ele venha, trabalhe e descanse por meio dEle e para Ele.
Por: Claudia Lotti